É em tempos de maior adversidade que a literatura reforça os contornos da sua importância. O primeiro Encontro de Literatura, promovido pelo Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior foi prova disso mesmo.
O Anfiteatro da Parada foi pequeno para acolher tamanha moldura humana, que numa tarde de terça-feira se juntou para falar de livros, de escritores, mas também de identidade social ou de pensamentos individuais. Um momento reflexivo sobre o estado da literatura em Portugal, que acabou por se assumir como um espaço de debate para novas linhas de investigação e de abordagem temática.
A iniciativa contou com o lançamento e apresentação do ensaio de José Henrique Manso, “Comentário de Aires Barbosa ao segundo livro da História Apostólica de Arátor”, explicado por Cláudia Teixeira, da Universidade de Évora e com a apresentação das conferências de “Literatura e construção da identidade” por Maria de Fátima Marinho, da Universidade do Porto e “Representações do feminino entre dois séculos”, por José Seabra Pereira, da Universidade de Coimbra. Um conjunto de ações destinadas também aos alunos dos diferentes ciclos do Departamento e também de outras formações ministradas na UBI. A apresentação de publicações que acaba por mostrar algum do trabalho desenvolvido pelos docentes juntou-se às conferências que acabaram por ser aulas abertas para os participantes. A organização destaca também a interligação a instituições escolares de toda a região. Cristina Vieira, do Departamento de Letras, sublinha “a honrosa presença de docentes e alunos de escolas secundárias da Covilhã e do Fundão e também da Academia Sénior”. Um ponto que serve para mostrar o entrosamento entre a academia e os seus parceiros.
Cristina Vieira recorda que “se vive num tempo de conflitos económicos, sociais e políticos e a literatura é uma das primeiras formas de luta contra o estado das coisas. É uma arte aberta, democrática e que promove a humanidade. É uma arte de liberdade”. Transportar esta mensagem para estas jornadas acabou por ser uma tarefa fácil que teve os seus resultados na transformação da ação “num espaço de reflexão sobre o que nos rodeia, num tempo de indefinição e descontentamento”. “A literatura acaba por ser uma plataforma de mudança e de abertura para novos cenários. A par disso, esta atividade assume-se de igual modo como um espaço de apresentação de ensaios e outras obras literárias”, acrescenta a docente.
Este primeiro encontro, que visa também “divulgar a UBI as suas potencialidades” cria dinâmicas com outras unidades e “torna a literatura numa área ainda mais transversal”. O reconhecimento entre os pares começa agora a surgir, como revela, a título de exemplo a publicação de sínteses de teses elaboradas em Portugal sobre literatura e onde constam trabalhos de apenas tês universidades, entre elas a UBI que se junta a Coimbra e Lisboa. Cristina Vieira lê neste caso uma prova da qualidade do ensino e da investigação que se faz na academia e deixa já garantida a realização de um evento que aborde a literatura espanhola.