O amarelo difuso que dava cor à fachada principal da casa brasonada junto à Igreja de Santa Maria, na Covilhã, era o espelho do estado de degradação e abandono deste imóvel secular. Foi precisamente aí que Elisabet Carceller, Lara Seixo Rodrigues e Pedro Seixo Rodrigues, organizadores do Wool – Festival de Arte Urbana da Covilhã, sonharam graffitis arrojados e outras imagens. Foi precisamente aí que nasceu a primeira obra deste festival.
Trata-se de uma iniciativa que pretende utilizar diversas paredes da cidade “como suporte para intervenções de artistas urbanos”. Tudo com o objectivo de “trazer, pela primeira vez, um evento destas características para uma região do interior de Portugal, despertar o interesse da comunidade pela cultura e a arte contemporânea, neste caso, a arte urbana, dotar de uma nova aparência estética os locais intervencionados e permitir a construção de um roteiro de arte urbana na cidade”, dizem os organizadores. O primeiro trabalho esteve a cargo de Gonçalo Mar e Miguel Ramos que representam os ARM Collective. A este evento seguem-se mais três. O próximo será já entre21 e 26 de Outubro, com Alexandre Farto a esculpir rostos de pessoas numa parede junto ao Shopping Sporting. Segue-se a espanhola Andrea Michaelsson que entre 7 e 13 de Novembro irá também desenvolver algumas obras. Por fim, o artista francês JR apresenta o seu Inside Out Project.
Pedro Rodrigues é o arquitecto covilhanense que está por detrás do motivo da vinda deste evento até à “cidade neve”. O organizador do “Wool” explica que “o intuito principal, para além de dar a conhecer esta nova forma de arte à comunidade, é requalificar o espaço urbano com este tipo de intervenções em edifícios que estavam esquecidos e abandonados”. Confessa que “há já muitos anos que somos admiradores da arte urbana e seguimos o Festival Crono, em Lisboa. Daí a ideia de, porque não fazer uma coisa semelhante na Covilhã. Apresentámos um projecto à Direcção Geral das Artes e conseguimos financiamento para esta iniciativa”.
Uma iniciativa que pretende ter uma programação regular de eventos ligados à arte urbana. Os processos poderão ser acompanhado ao vivo pelo público e a organização lembra que para além da intervenção, os artistas irão realizar uma actividade paralela, como workshop ou conversa, de modo a promover um contacto directo entre os artistas e os cidadãos.
O arquitecto covilhanense vê a ovelha gigante que a dupla de desenhadores vai fazendo nascer na parede e confessa que “era uma pena ter uma praça como esta, com a Igreja de Santa Maria aqui e ter este edifício degradado logo aqui perto”. Pedro Rodrigues olha também para as pessoas que estão sentadas na pequena esplanada, nas escadarias da igreja, para aquelas que param em plena rua, todos acompanham com atenção o trabalho que está a ser criado. Este organizador do festival Wool espera que “os outros locais a serem intervencionados, que acabam por nem despertar grande atenção nas pessoas”, também mudem e se transformem “em cenários e pontos de alerta das pessoas para a arte”.