Urbi@Orbi – O ministro da tutela anunciou que o montante para a Ação Social vai ser igual ao do ano passado. Quais os impactos que espera desta medida, na comunidade académica?
Lénia Pereira – Arrisco-me a dizer que se avizinham tempos muito difíceis. Vamos passar um mau bocado, sobretudo porque, apesar do valor das verbas ser o mesmo do ano passado, existe aqui um fator de diferenciação que passa pelo facto de ter de existir um aproveitamento de 60 por cento. Isso vai fazer com que muitos alunos percam a bolsa e poderá mesmo levar alguns a abandonar.
Urbi@Orbi – Tem conhecimento de alguns casos de abandono da universidade por falta de dinheiro?
Lénia Pereira – Não tenho conhecimento de qualquer aluno a deixar de estudar por falta de verbas. Os estudantes que estavam em maior risco, ou com problemas financeiros, foram auxiliados pela associação, juntamente com a capelania. Houve uma verba estipulada pelas duas partes para resolver essas situações. Tenho a sublinhar o papel positivo e de apoio do senhor capelão neste aspeto. Se este ano surgir a situação de um aluno em risco de deixar de estudar por falta de verbas, o pouco que temos será encaminhado para que este continue.
Urbi@Orbi – Mas existe o receio do número de bolsas diminuir?
Lénia Pereira – As bolsas são sempre atribuídas muito tarde e essa é uma situação que deveria já estar resolvida. Há muitas dificuldades em relação ao estarmos aqui logo no início do ano, vários meses sem receber bolsa. Esta é uma condicionante que me tem vindo a preocupar em especial. Na alturas das matrículas tentámos orientar alguns dos casos que nos foram referenciados para um tipo de apoio especial, tudo com o objetivo dos alunos reunirem as condições mínimas para começarem os seus estudos. A título de exemplo, conseguimos encontrar uma residência, custeada pelos Serviços de Ação Social, para duas alunas do primeiro ano que nos referiram que não tinham casa, nem condições de ficar na Covilhã senão nas instalações da SASUBI. Tenho a dizer o seguinte, se a associação tiver de abdicar de pagar uma dívida para ajudar os alunos, não vou pensar duas vezes e vou apoiar os estudantes, estes estão sempre em primeiro lugar.
Urbi@Orbi – Fala numa das áreas que evidenciou ao longo do seu mandato, as finanças da AAUBI. Como está a associação, em termos de contas?
Lénia Pereira - Quando entrámos nesta casa tínhamos dívidas superiores a 80 mil euros. Neste momento não temos tudo pago mas acredito que antes de terminar o mandato, se não liquidarmos os valores em falta vamos deixar os mesmos pagos em apoios a receber. Neste campo tenho de relevar o apoio incondicional da reitoria, até porque se não fossem os responsáveis pela universidade não conseguiríamos ter este desempenho, mas também ao Instituto Português da Juventude. A questão financeira foi fundamental no nosso projeto e acabou por nos levar a uma opção que foi a de não realizar grandes atividades. Mas aquilo que posso confirmar é que falta pouco para saldar todas as dívidas da AAUBI.
Urbi@Orbi – O início do ano letivo volta a estar marcado pelas praxes. De que forma estão a acompanhar todas as atuações dos vários cursos?
Lénia Pereira – Quero acreditar que não existem muitas margens para abusos. Os caloiros estão bem entregues, preocupa-me é ver colegas que promovem as praxes até de manhã. O facto de estarem durante noites inteiras na rua é algo que não está correto Estivemos em contacto com a reitoria e vamos tentar acompanhar o processo de receção ao caloiro. Aquilo que foi explicado aos novos alunos é principalmente que estes têm o direito a não admitirem praxes ou atos que vão contra os seus princípios e direitos. Tudo o que é abuso e caso nos chegue algum relato de um episódio grave, denunciaremos os autores aos responsáveis pela instituição para que procedam às devidas penalizações. A nossa função é zelar pelo bem-estar dos alunos.
Urbi@Orbi – Um novo ano é marcado também pela Receção ao Caloiro. O que pode adiantar nessa matéria?
Lénia Pereira – A receção ao caloiro vai decorrer de 6 a 12 de novembro, algo que foi decidido porque as aulas começaram, este ano, um pouco mais tarde. Uma das alternativas passava por realizar esta festa na época do 1 de novembro, mas trata-se de um dia feriado, em que os alunos vão visitar as suas famílias e por isso mesmo optámos por uma semana mais tarde. Não vou avançar com nomes, em termos de cartaz, até porque ainda não está nada definido.
Quero apenas dizer que esta será uma receção de acordo com o que a AAUBI neste momento pode fazer. Estar a endividar mais a associação é algo que não nos passa pela ideia. É preferível fazer algo ponderado mas que no final fica pago. A questão dos cartazes de festas com grandes nomes da música nacional ou internacional não é uma coisa linear. Sabemos o quanto nos custa tudo isto, com aluguer de pavilhões, pagamento a promotores, transportes, etc. Sem apoio temos de fazer contas em relação ao que vamos vender, se compensa com aquilo que vamos receber.
Costumo dizer, nestas situações, que qualquer pessoa até com menos inteligência que o normal seria capaz de idealizar um cartaz com vários dias e com nomes sonantes, mas é preciso haver dinheiro, caso contrário, as dividas ficam para a próxima direção e isso connosco não funciona. Apenas embarcamos nas aventuras que conseguimos concretizar.
Urbi@Orbi – Dentro de aproximadamente dois meses a “Casa Azul” vai ter novo processo eleitoral. Volta a encabeçar uma lista à AAUBI?
Lénia Pereira – Vou-me recandidatar à presidência da Associação Académica da Universidade da Beira Interior. Lutámos contra muitas críticas, num trabalho bastante ingrato. Quem passa por aqui sabe o quão ingrato é este lugar, principalmente quando trabalhamos para toda a academia e depois nos deparamos com grande parte das pessoas que fazem reparos mas no sentido de só pensar em festas. Mas essas pessoas não têm noção do quanto se gasta para fazer uma Semana Académica, ou uma Receção ao Caloiro. É ainda mais difícil organizar eventos destes quando se tem 80 mil euros em dívidas. Independentemente de todas as críticas penso que esta equipa fez um excelente trabalho e por isso mesmo vou recandidatar-me.
Não precisamos de andar na rua ou nos jornais a mostrar cartazes e a fazer festas, o nosso lugar e trabalho é aqui, internamente. Ajudámos os alunos sempre que foi preciso, nunca negámos a nenhum estudante qualquer tipo de apoio ou acompanhamento. Fizemos formações, colocámos a nossa casa à disposição de todos, emprestámos material que aqui não estava a ser utilizado, fizemos voluntariado e mais um conjunto de atividades que nos colocam também próximos da comunidade. Nesse âmbito, a AAUBI esteve sempre presente em todos os compromissos ou atividades para a qual foi solicitada. Por tudo isto penso que fizemos muito mais do que estava ao nosso alcance. Vou-me recandidatar simplesmente pelo facto de ter trabalhado muito para chegar aqui e de ter, com a ajuda da minha equipa, organizado a casa. Existem alguns projetos que gostaria de implementar e espero poder fazê-lo.
Urbi@Orbi – Acha que voltaremos a ter um ato eleitoral com lista única, como tem vindo a acontecer nos últimos tempos?
Lénia Pereira – Sei que existem outras listas e vejo isso como um sinal muito positivo. O que me deixa triste é o facto de conhecer pessoas nessas mesmas listas que só aparecem agora. Há alunos que quando a associação está mal não aparecem, agora que sabem que está bem são os primeiros a querer vir para cá. A título de exemplo, no ano passado, quando as contas estavam como todos sabemos, mais ninguém quis concorrer. Este ano, pessoas que tinham tido o meu convite para integrar a equipa do ano passado e ajudar a colocar a AAUBI no bom caminho e que recusaram, aparecem em listas contrárias porque sabem do bem-estar da associação. Espero assim que não existam apenas duas listas, mas faço votos para que se formem três ou mais. Para além de atenuar este tipo de situações acaba por envolver mais a comunidade académica nas lides estudantis.