Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Lembrar o património
Eduardo Alves · quarta, 28 de setembro de 2011 · @@y8Xxv Durante o passado fim de semana, o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior acolheu as Jornadas do Património. Um evento promovido no âmbito das Jornadas Europeias do Património e que serviu para fazer um balanço das mais recentes medidas desenvolvidas nesta área. |
O Museu de Lanifícios foi palco deste evento sobre o património |
21953 visitas O som das antigas máquinas cortava o habitual silêncio próprio de um museu. Durante todo o passado fim de semana, a Real Fábrica Veiga, parece ter viajado no tempo e regressado à Covilhã das fábricas têxteis antigas onde os enormes espaços formados por paredes graníticas acolhiam teares, máquinas a vapor, rodas hidráulicas e um quinhão de gente que tinha na fabricação dos tecidos o seu ganha-pão. Recriar os antigos ambientes que marcavam a principal indústria da região foi uma forma de assinalar as Jornadas Europeias do Património, na Covilhã. A iniciativa que começou com visitas guiadas para os alunos das escolas do 1º ciclo, levou o museu a abrir, mais uma vez, as suas portas à comunidade. As atividades para os mais pequenos passaram por um peddy paper pela zona adjacente à Ribeira da Goldra. Uma iniciativa onde as crianças tiveram a oportunidade de conhecer o património urbano que a indústria dos lanifícios legou. A iniciativa teve o seu ponto alto no passado sábado, 24 de setembro. Duas palestras sobre o património e manutenção ou não das estruturas que compõem a história e identidade dos povos. Neste campo, a intervenção de Ana Martins, intitulada “’Maceira de Covelliana’: da cidade monástica à cidade do Homem” colocou em evidência um dos pontos negativos que têm marcado a atuação de diversas entidades estatais. A apresentação teve origem num estudo sobre o convento que existia junto à atual capela de Nossa Senhora da Estrela, na freguesia da Boidobra. Diversos documentos apontam para a presença de uma estrutura religiosa, com uma dimensão assinalável, que funcionava há mais de cinco séculos. A passagem por aquele local de uma comitiva composta por responsáveis pela Ordem de Cister deu origem a uma carta descritiva do que seria toda a estrutura. Este mosteiro, associado ao Mosteiro de Alcobaça, um dos principais pontos desta ordem em Portugal, funcionou durante diversas décadas no local onde hoje apenas se conserva a pequena capela de Nossa Senhora da Estrela. A visitação feita pelos monges, nos anos de 1500, destaca uma estrutura já na época decadente, mas que evidenciava a presença de uma igreja, claustros, aposentos, entre outros. Ao longo dos séculos a ausência de uma política de conservação daquele património ditou a história do local. Hoje, apenas a capela e a toponímia lembram o complexo que outrora ali funcionou. Na quinta da Abadia, a autarquia serrana, construiu há anos uma estação de tratamento de águas residuais. Ana Martins, docente do Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura da UBI, estudou esse assunto e apresentou aquilo que poderia ter sido uma possível localização do complexo. Para esta docente, “com toda a certeza que no local deveriam existir evidências do antigo mosteiro”. A construção da etar acabou por ditar a perda desse mesmo património. Se nesta matéria as decisões têm caminhado no sentido da não preservação, no que diz respeito ao património industrial, o cenário é diferente. Elisa Pinheiro apresentou uma comunicação sobre “A paisagem urbana da Covilhã: uma paisagem cultural”. Para a antiga responsável pelo Museu de Lanifícios, a cidade serrana tem tido bons exemplos de recuperação urbana e de contextualização dos edifícios históricos. Algo que se tem conseguido “sobretudo com o trabalho e a aposta feita pela UBI e também pelo programa Pólis”. Elisa Pinheiro avançou com vários exemplos de edifícios recuperados recentemente. Um desses casos é precisamente a Real Fábrica Veiga que está agora ligada ao Museu de Lanifícios. A estes se juntam outras tantas estruturas da academia beirã e imóveis como os da galeria “Tinturaria”. No dia em que se comemora o património, o museu quis sublinhar a importância de preservação de marcas culturais dos povos. Para os organizadores do evento, o património edificado, as construções, representam peças fundamentais de uma paisagem cultural que se quer evolutiva e dinâmica. |
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