Os corredores desertos e a maioria das salas de aula vazias conferem à Universidade da Beira Interior um silêncio estranho. Em pleno Agosto, as paredes de granito dão forma a espaços desocupados por algum tempo. Sem estudantes e docentes a academia assemelha-se muito à cidade que parece também deserta e estranha aos seus buliços diários. Mas, no Pólo Principal da academia beirã, um grupo de 30 alunos estrangeiros que frequentam um curso intensivo de língua e cultura portuguesas durante o mês de Agosto, vem baralhar, de alguma forma, este estado de coisas.
Divididos por dois grupos, estes alunos provenientes de vários países do espaço europeu escolheram a UBI para tomarem contacto com a língua de Camões. Uma mistura de dialectos vão tomando conta dos espaços da antiga parada, assim que há uma pausa nas aulas de aprendizagem do português. Adrian Bonte, aluno do curso de Química na Universidade de Estrasburgo, acaba por ser o escolhido pelos colegas para tentar descrever algumas experiências do grupo em relação à academia portuguesa, à região serrana e às expectativas para o ano lectivo que vão passar em Portugal ao abrigo do programa de intercâmbio de alunos “Erasmus”. As palavras vão surgindo com alguma calma, mas acaba por conseguir um discurso consistente. O jovem gaulês, que tomou contacto com a língua portuguesa através de um colega que é filho de emigrantes portugueses confessa que escolheu o País de Saramago “pela sua cultura e muitas tradições que têm para as mais variadas coisas”. Características que até agora não o desiludiram em nada. Pontos de referência que parecem também partilhados por alunos da Eslovénia, Espanha, Estónia, Hungria, Itália, Lituânia, Polónia, República Checa, Roménia e Turquia. O País dos Descobrimentos, que deu novos mundos ao mundo, é agora conhecido no estrangeiro pela obra do Nobel da Literatura, José Saramago, por treinadores e futebolistas como José Mourinho e Cristiano Ronaldo e também pelo Fado. Apesar de nas sonoridades sejam já uns quantos a conhecerem mais que o nome e obra de Amália Rodrigues.
O curso promovido pela UBI, para além da escrita e da fala, pretende ser também uma porta de entrada para a cultura da região e do País. Nesse aspecto, são muitas as actividades fora das salas de aula, que fazem parte do percurso lectivo destes jovens. Visitas a museus, passeios pelas cidades da Beira Interior e pelas aldeias históricas juntam-se a um forte contacto com a população. Situações que como descreve Adrian “permitem descobrir as tradições, conhecer melhor e descobrir coisas sobre o povo”. Este tipo de aulas acaba também por marcar de forma positiva todo o grupo. Para o jovem francês, aluno de uma licenciatura em Química, “o curso de Português é muito bom, sobretudo porque os estudantes mostram grande vontade de querer aprender e existe um grande espírito de entreajuda”. Por entre os diversos aspectos que encontra para descrever esta actividade de um mês que está a desenvolver na Covilhã, o jovem gaulês destaca “a forma de ensino utilizada, que nos consegue colocar quase todos ao mesmo nível”. A fala e a escrita na língua de Camões e Saramago, essa será agora continuada durante um ano em Portugal “e depois em França, onde, com toda a certeza, falarei Português com alguns colegas”, garante Adrian Bonte.
Rita Carrilho dirige as aulas de português na academia. “Felizmente a universidade tem recebido alunos de vários países que se mostram muito interessados participar nos nossos cursos intensivos. Esta já é a 13ª edição e já nos permite contar com alguns anos de experiência”, começa por explicar a docente. O passa a palavra “é, sem dúvida, a melhor forma de publicitar os nossos cursos, uma vez que grande parte destes alunos são colegas e amigos de alunos que já passaram por estas salas”. Ensinar Português a um grupo tão diverso, tão heterogéneo revela-se uma tarefa difícil, “mas tem também vantagens. A aprendizagem de línguas varia de pessoa para pessoa e todos aqueles que de alguma forma têm mais facilidade vão ajudando os outros”, sublinha Rita Carrilho.
A responsável pela parte lectiva desta actividade refere que o português é cada vez mais uma língua divulgada e com procura em crescendo. “O português tornou-se uma língua fundamental para o encontrar de um trabalho, por exemplo, sobretudo quando países como Brasil e Angola conhecem um crescimento económico e se tornaram territórios onde ainda existem algumas oportunidades de emprego para estes jovens que estão um pouco perdidos por toda a Europa”.