Urbi@Orbi - Um dos mais emblemáticos cursos da academia, o de medicina, assinala no início do próximo ano, a sua primeira década de funcionamento. Como está a ser preparada essa data?
Miguel Castelo Branco - No próximo dia 15 de Outubro vamos ter a comemoração oficial da faculdade. Para já, está agendada uma sessão solene e está a ser preparado um conjunto de actividades que dentro em breve será dado a conhecer à academia. Estas actividades estão vocacionadas para assinalar os factos mais marcantes ao longo deste tempo, as pessoas mais marcantes, todas as dinâmicas e evoluções que foram acontecendo ao longo destes dez anos.
Urbi@Orbi - Uma década de formação especializada em medicina que serviu também para mudar bastante a região, não concorda?
Miguel Castelo Branco - Disso não tenho dúvida nenhuma, mudou e continua a ajudar a mudar. O facto da Universidade da Beira Interior ter entrado pela área da saúde com a medicina, depois de ter já o curso de optometria, fez com que em toda a região existisse um conjunto de mudanças que assinalo como muito positivas e importantes. Desde a vinda de pessoas a complementar os quadros médicos que havia nos hospitais, muitos com diferenciação e doutoramentos e o facto em si de terem vindo também é assinalável. Se formos verificar, os quadros médicos dos hospitais nos últimos anos aumentaram todos e muitos deles à custa de pessoas que vieram para a região para ensinar na Faculdade de Ciências da Saúde da UBI e prestar serviços nos hospitais. Há que frisar que ao longo destes anos, muitos foram os que se instalaram na região para exercer medicina, mas porque havia uma faculdade de medicina onde podiam ensinar ou integrar projectos de investigação.
Por outro lado, o facto dos hospitais estarem envolvidos no ensino é também muito exigente para os médicos que participam no ensino, porque os alunos criam dinâmicas, sob o ponto de vista de actualização, que são extremamente importantes para o exercício da medicina e para aquilo que é preciso ter disponível para a pessoa que procura cuidados de saúde. Procuramos cuidados de saúde actualizados, feitos de acordo com o estado da arte, o que significa que as pessoas têm de se ir actualizando que é uma coisa que tem de fazer também por necessidade de estar a ensinar. Isso também contribui para uma melhoria de qualidade em toda esta região.
Urbi@Orbi - E o futuro da faculdade, os planos para o crescimento de vagas anunciados pelo anterior executivo governamental podem ficar congelados com a mudança política e a crise, ou não prevê isso?
Miguel Castelo Branco - O mais importante passa exactamente por essa questão, por saber se o actual governo vai continuar ou não com o alargamento das vagas em medicina. Essa é uma questão chave.
Quer nós aqui na UBI, quer nas restantes faculdades de medicina em Portugal gostaríamos de ter menos alunos do que aqueles alunos que o governo tem decidido que têm de entrar para as faculdades, essencialmente por uma questão de qualidade de ensino, como é óbvio. Mesmo com esta dimensão pretendemos sempre ter o máximo de qualidade, só que, o esforço necessário para poder dar o mesmo nível de qualidade a um corpo de alunos maior é bastante superior ao que é feito se o número de alunos não for tão significativo. Tudo isto implica pensar em mais vagas para estágios, em mais hospitais envolvidos, mais docentes, maior complexidade e outros factores que implicam mais exigência para a faculdade.
Por outro lado há também a sensação de que o grande problema sob o ponto de vista de recursos médicos não se resolve com o formar mais médicos. Existem outras problemáticas tão ou mais importantes que a formação de médicos, que têm a ver com distribuição e organização de cuidados de saúde, entre outros. E isso vai depender muito da visão e estratégia política que o governo tenha sobre esse assunto e sobre o qual ainda não temos nenhum indicador em concreto. Nesta fase ainda falta um ano para as próximas vagas e esperemos que isso fique clarificado.
Urbi@Orbi - Pela primeira vez, o curso abre vagas para alunos que se queiram transferir de outras universidades onde estudam medicina para a UBI. Isso é mais uma prova de que o curso está completamente implementado e reconhecido?
Miguel Castelo Branco - Significa duas coisas, sob o ponto de vista de funcionamento atingimos uma velocidade de cruzeiro que não se pode considerar estática. Há sempre que estar com atenção, inovação e melhorias dos métodos pedagógicos. Esse é um esforço que vamos continuar a fazer. Há que tornar sempre o curso mais atractivo, mas também que este esteja a responder às necessidades das populações e ao papel social que os médicos têm nas comunidades.
Outro dos aspectos advém da pressão que fomos tento ao longo dos tempos para a abertura de vagas destinadas a alunos que se queiram transferir de outras academias. Se a opção foi por não termos transferências enquanto estivéssemos a crescer, penso termos agora chegado a uma fase em que esta parte está terminada e é perfeitamente viável assumirmos este novo desafio que é incorporar pessoas que tenham iniciado a sua formação em medicina noutras faculdades.
Urbi@Orbi - Há já alunos interessados em virem para a UBI?
Miguel Castelo Branco - Há um número significativo de interessados. Alguns que nos contactaram directamente, outros que têm feito chegar as suas intenções de candidatura à transferência. Esta possibilidade só é válida para pessoas que estejam a fazer formações em medicina, em universidades e cursos reconhecidos. Trata-se pois da vinda de alunos de outras universidades para a nossa.
Urbi@Orbi - A UBI também tem vindo a apostar numa outra linha de formação que são os mestrados e doutoramento. Como vê esta área?
Miguel Castelo Branco - Começámos a abraçar essa ideia há algum tempo na FCS, pensando sobretudo nas áreas dos profissionais de saúde, que são as áreas de formação pós-graduada. Foi criado um Centro de Formação Avançado em Medicina e Ciências da Saúde para estarmos presentes na formação ao longo da vida. O futuro passa também para continuar a contribuir para a formação de quadros especializados e para pessoas mais capazes e competentes para um melhor tratamento dos pacientes. Este é ainda um centro muito recente, mas estamos convictos que o número de acções vai aumentar nos próximos meses.
Para além disso, sob o ponto de vista de cursos académicos, temos doutoramentos em biomedicina e em medicina e a partir do próximo ano lectivo, em ciências farmacêuticas. Este ano saem para o mercado de trabalho os primeiros formados em ciências farmacêuticas (mestrado integrado) e a partir de Outubro começa a funcionar o terceiro ciclo nesta área.