As condições precárias de várias dezenas de casas no bairro de São Vicente de Paulo, em Cantar Galo, levaram a autarquia covilhanense a pensar a construção de um conjunto de prédios sociais tendo em vista o realojamento dos moradores. Em 2002, época em que tal plano começava a ser gizado, a Associação para o Desenvolvimento “Beira Serra” consegue a aprovação de uma candidatura a um projecto pioneiro que tinha como objectivo a reabilitação urbana e a luta contra a pobreza.
Juntos os esforços e verbas da edilidade e da associação foi a vez da academia dar o seu contributo para esta causa. Todos os estudos e projectos de intervenção para cerca de 30 habitações foram desenvolvidos e acompanhados por docentes e alunos do DECA. Bruno Miguel Figueiredo Gomes, voltou ao local, cerca de oito anos depois, para desenvolver uma tese de mestrado, intitulada “Avaliação de acção de intervenção na reabilitação de edifícios em Cantar Galo – Covilhã”. Um estudo que pretendeu “efectuar uma avaliação da acção de intervenção na reabilitação de edifícios localizados no bairro de São Vicente de Paulo, freguesia de Cantar Galo, Covilhã. Esta acção foi inserida no projecto - Grão a Grão -, um programa pioneiro na área de reabilitação e de intervenção social de luta contra a pobreza”.
Em 2002, as análises efectuadas pelos técnicos da academia concluíram que se tratava de um bairro carenciado, habitado maioritariamente por um conjunto de pessoas com grandes dificuldades económicas que viviam em casas sem as condições mínimas. Algumas destas edificações “apresentavam risco de ruína, não dispunham de instalações sanitárias, as cozinhas não tinham extracção de fumos, apresentavam evidências de humidades e sofriam infiltrações graves de águas pluviais”, começa por explicar o autor do estudo. O projecto de então acabou por ser pioneiro, até porque, as obras de reabilitação foram essencialmente baseadas em soluções construtivas de baixo custo e decorreram entre os anos de 2002 e 2003. Passados sete anos após a intervenção, “pretendeu-se avaliar as técnicas e métodos utilizados na reabilitação, as práticas de manutenção das habitações por parte dos moradores e o impacto urbanístico registado na envolvente”, entre outros pressupostos, acrescenta o autor.
Um dos principais dados obtidos com o estudo agora apresentado é precisamente o da aplicação dos materiais. Desta forma foi possível ter uma análise real do resultado de determinado material, em detrimento de outro, a sua variação de preço e também durabilidade. Outro dos factos que Bruno Gomes constatou foi precisamente o da mudança de mentalidade, quer por parte dos moradores, quer também por parte dos proprietários das casas. Segundo este engenheiro civil “a maioria das casas apresentava um bom estado de conservação ou funcionamento, com a passagem de habitações muito degradadas e em risco de ruína para habitações quase completamente novas. Estão a ser desenvolvidos alguns trabalhos de manutenção por parte dos moradores e/ou senhorios, permitindo que as casas não fiquem no estado de deterioração em que se encontravam antes das obras”.
Este tipo de actividade acabou por mostrar uma solução alternativa à criação de bairros sociais. Normalmente, a construção destas estruturas pressupõe mais custos e provavelmente uma grande insatisfação por parte dos habitantes. Com este tipo de intervenção “conseguiu-se melhorar as condições de vida e ao mesmo tempo estreitar os laços de solidariedade e de entreajuda”. Daí que Bruno Gomes defenda a repetição deste tipo de soluções. Um projecto de reabilitação de baixo custo, onde se atingiu um preço médio de 9.100 euros por habitação ou seja cerca de 152 euros/m2 de construção e com excelentes resultados, tanto do ponto de vista técnico, como do ponto de vista social.