No final de uma semana nos laboratórios de Física da Universidade da Beira Interior, Guilherme Lucas, de 16 anos e Diogo Proença, de 14, parecem já conhecer “os cantos à casa”. Os dois jovens integraram mais uma edição do programa “Ciência Viva”, durante as férias de Verão.
Ao longo de cinco dias de actividades na UBI perceberam também a possibilidade de adquirir novos conhecimentos através de iniciativas “bastante diferentes das aulas normais”. Diogo Proença, a frequentar o oitavo ano de escolaridade na Escola Básica 2/3 do Tortosendo confessa que “esperava um pouco de seca”, mas afinal, “foi o contrário”. O entusiasmo em torno de rochas com vestígios de urânio, recolhidas numa visita à minas da aldeia de Quarta-Feira, no distrito da Guarda, espelha isso mesmo. No meio de medidores de frequência, de computadores e recipientes de chumbo, vai acompanhando com toda a atenção a medição dos parâmetros que compõem o material em causa. Sobre o programa diz ser uma boa referência, mas confessa o pouco interesse dos alunos em integrarem estas iniciativas. Em tempo de férias “todos querem ir para a piscina ou para as brincadeiras, acabei por vir para aqui uma semana e já sei o que é a radioactividade”, atesta o jovem de 14 anos.
Guilherme Lucas, o colega desta aventura de Verão, de Diogo, confirma a explicação. Para o aluno da Escola Secundária Nuno Álvares, em Castelo Branco, apesar de neste tipo de iniciativas “ser mais divertido aprender, porque é bastante diferente, são poucos os que querem vir e ainda menos a divulgação”. Para este aluno do 10º ano de escolaridade, o futuro académico parece estar já definido. “Interesso-me bastante por computadores e tudo o que diga respeito à informática, daí que o mais provável é vir para UBI, a academia desta região, mas para o curso de Engenharia Informática”. A inscrição neste evento acabou por acontecer “devido a algumas disciplinas que ainda vou ter no 11º e 12º anos”, explica. Nos dois anos antes de ingressar na universidade, “tenho de estudar Física, e como é uma área onde me sinto menos bem, vim para esta iniciativa com o objectivo de aprender mais”. O balanço do desafio é “francamente positivo”, de tal forma que “as aulas nas nossas escolas deviam seguir mais este tipo de métodos, com experiências e visitas de campo”.
Sandra Soares, docente no Departamento de Física, supervisionou, juntamente com Pedro Barbosa de Almeida, do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura, as actividades destes alunos. A docente sublinha a metodologia de “aulas mais práticas”, este tipo de iniciativas, que serve também para “desmistificar uma imagem de dificuldade que está inerente à Física”. Para Sandra Soares “é fácil identificar nos alunos que ao longo deste tempo lhes é incutido algum preconceito, algum receio, em relação à Física, talvez por alguma ideia errada de que a Química é mais fácil ou outras disciplinas”. Daí que a docente da UBI sublinhe a importância deste tipo de eventos que “para além de abrirem as portas da academia aos alunos e mostrar-lhes os diferentes cursos e áreas de carreira futura, servem também para demonstrar que se pode aprender de forma diferente àquela que habitualmente é utilizada”.
Professores e alunos apontam como grande lacuna do programa, a divulgação do mesmo por escolas e universidades. Segundos os participantes e organizadores das actividades, os responsáveis nacionais pelo “Ciência Viva”, deveriam promover uma maior dinamização junto das escolas básicas e secundárias, com os professores das várias disciplinas a mostrarem aos seus alunos a importância de participar neste tipo de eventos.