São vários os aparelhos electrónicos de medição que partilham o espaço com mapas de Portugal, conferindo uma “decoração” diferente ao gabinete do professor de Geomecânica de Maciços Rochosos, Pedro de Almeida. Este docente do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura da UBI trabalha há já algum tempo, entre outras áreas, na análise e acompanhamento dos movimentos da crosta terrestre.
Os mais recentes acontecimentos relevantes nesta área, sismos dos Japão e de Espanha, - este último sentido na região algarvia -, trouxe para os jornais a temática. Segundo o docente da UBI, a atenção dada a estes fenómenos tem vindo a ganhar importância. Ainda assim, “muito há a fazer”. As investigações nesta área ganham novos ritmos e maior alcance, até porque, “a tecnologia evoluiu, o registo de dados também e as informações de que agora dispomos são bem mais recentes e fidedignas do que aquelas que são usualmente dadas nas escolas de engenharia, no que respeita às áreas de risco sísmico”. Um facto que conduz a uma das principais reivindicações do docente. Pedro Almeida explica que Portugal está dividido em quatro zonas de risco sendo que as mais perigosas são as zonas de Lisboa e Vale do Tejo e também toda a zona do Algarve. Contudo, “o mapa de risco sísmico português, que habitualmente norteia os estudos, é já bastante antigo e não tem em conta dados recentes”. Para este especialista, “torna-se urgente reformular este mapa que serve de base para os parâmetros construtivos e para o comportamento das estruturas. Os dados geológicos e sismológicos já foram bastante actualizados e não estão passados para esse documento”.
Para além Geomecânica de Maciços Rochosos, Pedro Almeida estuda também Detecção Remota e Cartografia Digital. Áreas que lhe permitem conhecer e acompanhar o território nacional e apontar as principais zonas de perigo. No que diz respeito à Beira Interior, o docente da UBI lembra que existe a Falha da Vilariça. Uma grande parte da Serra da Estrela é atravessada por esta falha que “tem mostrado alguma actividade sísmica nos últimos anos”. Esta falha tem estado monitorizada e acompanhada e nos últimos 15 anos registaram-se três a quatro sismos de alguma relevância. Estes fenómenos não se restringem apenas à Serra da Estrela, mas são assinalados em toda a extensão da falha, sobretudo na sua zona Norte. No que diz respeito ao mapa de Portugal Continental, “não somos uma das regiões de maior perigo. Normalmente, a zona Sul e do Vale do Tejo regista uma maior perigosidade”, sublinha o investigador.
A importância de acompanhar e analisar estes fenómenos aponta-se sobretudo, “para que exista uma adequada construção de estruturas e também, uma possível prevenção e minimização dos fenómenos sísmicos”. Segundo o docente do DECA “existem sensores distribuídos por todo o território nacional, locais onde é possível fazer a medição para termos dados que nos permitam monitorizar os movimentos. Contudo, há que salientar o facto de em certas zonas do território nacional, nomeadamente no Vale do Tejo e em alguns pontos do Sul do País, esta rede deveria ser melhorada”. O grande problema destes fenómenos “é o facto de estarmos muito limitados quanto à sua previsão, no entanto, já podemos prever o valor máximo espectável. Isto permite construir estruturas adaptadas a essa realidade, por um lado, e por outro, ter alertas de prevenção da população. Em Portugal sistemas de alertas como existem no Japão e nos Estados Unidos, ainda não está implementado, pese embora o facto de nas universidades existirem já estudos sobre o mesmo”. Apesar do território nacional não ser um dos pontos de maior perigo no contexto global, “a questão é muito importante, até porque temos sempre a sombra do sismo de 1755 e devíamos ter mais alguma atenção a esse facto”.