As linhas juntam os últimos pedaços de tecido. Na máquina de costura, a agulha trabalha a alta velocidade para dar forma a mais um vestido produzido pelos alunos de mestrado em Design de Moda. O quadro branco rabiscado com formas geométricas e linhas, com letras e números é o espelho de dois dias de trabalho intenso, orientado por um dos mais promissores designers da actualidade.
Julian Roberts esteve na academia a convite do Departamento de Ciências e Tecnologia Têxteis. O também realizador, mas mais conhecido produtor de moda veio até à cidade serrana explicar a sua técnica de corte de tecidos. Autor de 13 colecções apresentadas na London Fashion Week, desde 1999, Roberts desenvolveu uma das mais divulgadas técnicas de início de uma peça de vestuário. A “Subtraction Cutting” é uma forma de “cortar com as tradicionais regras de corte de tecidos”, começa por explicar ao Urbi o designer. Uma ideia de tal forma invulgar que está já patenteada internacionalmente. “Esta é uma metodologia de corte que aposta na descoberta de outras técnicas de cortes, onde o erro acaba por ser também aproveitado para continuar a peça e onde são, de alguma forma, banidas as regras matemáticas e as fórmulas de cálculo, para o corte do tecido”, sublinha.
Para o designer inglês, que trabalhou com várias marcas, tais como a “Nothing Nothing” e “Julianand”, conseguindo, em cada uma delas vencer o BFC New Generation Award, “o acto de criar tem de partir da pessoa e não ser comandado por um conjunto de regras e metodologias que devem ser sempre seguidas à risca”. Com as palestras que tem promovido, um pouco por todo o planeta, Roberts diz conseguir também “aprofundar o ‘Subtraction Cutting’ através da ajuda de alunos, docentes, profissionais e estilistas, que acabam sempre por construir roupas, de forma criativa e acrescentar mais uma funcionalidade à nova maneira de cortar o tecido”.
Actualmente professor no Royal College of Art em Londres, os trabalhos de Roberts têm sido expostos em Paris, Milão, Londres, Nova Iorque, Tokyo,entre outras cidades. O designer passou já por 16 países mostrando o seu trabalho e acredita ter descoberto na UBI “algumas pessoas com um potencial criativo fora do normal”. Ao longo de dois dias, o designer trabalho de perto com 25 estudantes da academia, criando um conjunto de trabalhos que vão ficar agora expostos à comunidade. Para além de”abolir as formas e medidas matemáticas que estão na base dos cortes tradicionais”, a técnica agora transmitida por Roberts “e adquirida em poucos minutos, permite produzir um vestido ou uma peça de roupa em muito pouco tempo”.
Relacionar sobretudo o vestuário com corpo e com espaço que este ocupa, com o balanço e o seu movimento são regras básicas para dar início ao “Subtraction Cutting”. Para o designer, esta forma de trabalho “parece surgir do caos e de uma metodologia sem regras, mas é precisamente do erro que se aprende, da tentativa e da experimentação surgem novas coisas”. Aquilo que Roberts espera ter conseguido transmitir aos alunos da UBI “foi uma forma de cortar tecido e confeccionar os novos trajes com efeitos vivos, com ziguezague”. Com isso, o autor pretende dar novos mapas às formas tradicionais de corte, explorar novos caminhos nas potencialidades de criação de uma peça de vestuário. No final da Master class foram entregues os diplomas com elementos representantes do BPI, patrocinador do Move2010/2011.