Silva Henriques, presidente do colégio da especialidade de medicina geral e familiar, é o primeiro a defender que “a forma de selecção dos candidatos ao curso de medicina terá de sofrer alterações”. A principal temática do quinto encontro das escolas médicas portuguesas passou pelos métodos de formação dos quadros e pela forma como os profissionais de saúde se ligam aos seus pacientes.
O encontro que decorreu na Faculdade de Ciências da Saúde, contou com alguns workshop’s e diversos painéis de exposições que se centraram na temática geral do evento. Representantes de todas as escolas de medicina portuguesas estiveram na Covilhã para debater os desafios que actualmente são colocados à medicina. Os participantes acabaram por referir, de modo geral, que “os bons profissionais médicos não são apenas aqueles que apresentam boas médias escolares”. Num número significativo de casos “o que existe é um currículo académico brilhante, mas um profissional de saúde muito mau”, acrescenta o presidente do colégio de especialidade.
No entender dos participantes neste debate, a necessidade de alteração dos currículos escolares, nesta área, “é algo fundamental e premente”. Comunicação, ética, sociabilidade são algumas das áreas que “devem ter um maior destaque na formação médica”. Tudo para que “os médicos estejam nos seus postos de trabalho com a convicção de que estão a tratar doentes, e não doenças”, acrescenta Silva Henriques. No que diz respeito a diversas mudanças, médicos e especialistas de várias áreas falam também numa modificação quantitativa e qualitativa na formação médica, capaz de acompanhar as alterações sociais.
Outra das áreas abordadas ao longo dos trabalhos foi a da investigação. Com o desenvolvimento actual da medicina “onde todos os dias aparecem novidades”, o profissional de saúde “deve evitar, por um lado servir de gerador de alarme social, com a criação de supostas doenças, e por outro, abusar das tecnologias à sua disposição, recorrendo a um sem número de testes para diagnosticar coisas simples”. Neste campo, a forte indústria que gira em torno da área da saúde “é também um tema que deve recolher dos profissionais a máxima atenção e actuação ética”, sublinham os oradores que participaram no painel global intitulado “Que tipo de médicos queremos formar nas nossas escolas?”.
Miguel Castelo Branco, presidente da Faculdade de Ciências da Saúde faz “um balanço muito positivo deste evento, primeiro porque contámos representantes de todas as escolas médicas portuguesas, sobretudo nas áreas de medicina geral e clínica familiar, depois destaque também para os trabalhos que decorreram de forma aberta e participativa debateram questões importantíssimas para a melhoria das escolas. Temas que passam pelas reformas curriculares, e investigação e desenvolvimento dos programas de doutoramento”. Para o médico e também docente da faculdade, “o futuro da formação médica passa pelo reforço da visão da pessoa, da sociedade e da prevenção, no contexto do ensino médico e no fim de contas preparar os nossos futuros médicos para os novos desafios que a sociedade contemporânea nos apresenta”.
Quanto à importância da realização deste tipo de actividades na UBI, Miguel Castelo Branco diz ter sido vital “a participação de todas as escolas portuguesas”. Desta forma, para além dos respectivos trabalhos “foi também possível promover uma visita guiada às nossas instalações. Isso é uma forma de mostras as nossas capacidades, mas também as nossas formas de lidar com o ensino da medicina. Isso só se consegue localmente”.
O presidente da FCS não deixou de lembrar que um outro aspecto “bastante relevante no que diz respeito ao ensino da medicina em Portugal que é uma maior colaboração entre as faculdades e as escolas que ministram estas formações. Penso que estão a ser dados passos importantes nesse sentido e levar a uma mais valia”. Este tipo de encontro apresenta um carácter rotativo e passa por todas as escolas nacionais, sendo que, no próximo ano terá lugar em Braga.