Urbi @ Orbi: O que o levou a escolher o curso de Design de Moda?
Tiago Loureiro: Desde pequeno que me interesso por moda e isso fez com que me fosse direccionando para esta área. Quando cheguei ao décimo ano enveredei por artes porque já sabia o que queria seguir. Cheguei ao 12º ano e essa decisão foi absolutamente acertada.
Urbi @ Orbi: E porquê na UBI?
Tiago Loureiro: Sinceramente foi porque não consegui entrar em Lisboa, porque me faltava uma disciplina, e aqui era a única opção que tinha mesmo design de moda. Todas as outras universidades tinham designs de moda têxtil ou de marketing, e eu queria mesmo focar-me apenas no design de moda. No entanto não estou nada arrependido de ter vindo para cá. Gosto muito desta universidade, do ambiente e da cidade, e como tenho tido bastante sucesso no meu curso espero continuar cá no próximo ano.
Urbi @ Orbi: Os seus desenhos mostram uma grande mistura de padrões, formas e movimento. Nesta época em que a palavra de ordem é a crise e se fala sobretudo no minimalismo, sente a necessidade de apostar em criações baseadas na fantasia e no ornamento?
Tiago Loureiro: Sim, eu acho que é mesmo isso que me leva a construir coisas tão elaboradas porque no meio de tanta crise, de tanto minimalismo, de tanta depuração de formas e de tanta simplicidade eu acabo por exprimir os meus sonhos, as minhas fantasias, os meus devaneios luxuosos, e isso mostra-se nos meus desenhos que têm muitos brocados, muitos bordados, muitos tecidos, são muitos estruturados, são alta-costura praticamente.
Urbi @ Orbi: Que tipos de materiais e técnicas costuma usar no seu trabalho?
Tiago Loureiro: Eu uso técnicas absolutamente normais. Aquela que me dá mais prazer e que é também a mais imediata é a grafitte, a grafitte e uma folha canson serve-me perfeitamente. Mas as vezes quando estou farto disso dá-me vontade de usar lápis de cor aquareláveis, aguarelas, pasteis e outras coisas do género que são mais expressivas.
Urbi @ Orbi: As suas influências centram-se especificamente no campo da moda ou também abrangem outras áreas?
Tiago Loureiro: Centro-me principalmente na história. Eu desde pequeno que sou apaixonadíssimo por história, tanto que comecei a desenhar principalmente damas antigas, porque aquelas imagens me atraiam muito, o mesmo se passou com os azulejos com os pintores e com o estilo barroco, e foi precisamente isso que eu comecei a desenhar.
Urbi @ Orbi: Um dos seus desenhos era baseado no filme da Alice no País das Maravilhas do Tim Burton. Onde mais vai buscar a sua inspiração?
Tiago Loureiro: Nesse caso eu comecei a ver o filme e lembrei-me das camélias, não das que aparecem nesse filme mas das que aparecem no filme original em desenhos animados e queria reproduzir um vestido com isso. Eu inspiro-me umas vezes em temas, outras vezes em objectos específicos. Por exemplo tenho um desenho, que não está no facebook, sitio onde exponho o meu trabalho, que tem uma estampagem toda baseada numa mesa barroca que está no Rijksmuseum em Amesterdão.
Tenho também uma colecção, que esteve agora exposta no museu dos lanifícios na exposição do MOVE, que foi toda baseada no Egipto e na colecção de alta-costura que o John Galliano fez para a Dior na primavera verão de 2004, cujo tema era também o Egipto. Eu queria fazer uma continuação dessa colecção e então inspirei-me em tudo o que envolvia a sociedade egípcia: nas estruturas, nos hieróglifos, nos murais que tinham nas pirâmides, em tudo isso.
Urbi @ Orbi: Foi nomeado para o prémio Gilette Vénus, cujo desafio era desenhar um fato de banho para a mulher portuguesa, e recentemente fez parte da equipa que desenhou as roupas dos actores da peça de teatro Son(h)o dor-mente. Acha que este tipo de participações são importantes para o seu futuro profissional?
Tiago Loureiro: Claro que são. Eu confesso que não sou grande apreciador de biquínis nem de fatos de banho e só participei nesse concurso porque fazia parte da disciplina de desenho do professor Gorjão, e participei um bocado a fazer um “frete”. Não estava nada à espera que fosse nomeado, porque (no júri) não era só a Ana Salazar ou o Tenente, era a Raquel Strada, a Isabel Figueira, uma série de pessoas ligadas à moda. Outra das pessoas presentes foi a Xana Guerra, que é uma pessoa muito difícil, toda a gente tem alguma dificuldade em trabalhar com ela e pronto foi uma surpresa ter sido nomeado e ficar nos dez melhores, entre dois mil candidatos.
A questão da peça de teatro foi algo que ocorreu também por acaso, foi uma rapariga que estuda comunicação e que vive com duas colegas minhas que nos convidou, porque não fui só eu que fiz a peça, eu integro uma equipa de três pessoas, ou seja sou eu, a Inês Miguel Gama e a Carolina Freitas. Fizemos quatro peças em duplicado: três calções e um vestido todo em renda. Foi importante porque a peça de teatro tinha patrocínios da Gulbenkian e do Igespar e isso é muito relevante para o meu curriculum. Espero que continuem a aparecer mais trabalhos assim.
Urbi @ Orbi: Se não tivesse seguido a área de Design de Moda o que teria escolhido?
Tiago Loureiro: Eu gosto de tudo o que é artes. Se eu não fosse designer de moda possivelmente escolheria ser professor de história de arte, embora saiba que agora é bastante difícil ser professor, mas gosto muito dessa área e de a explicar, de ajudar as pessoas a percebe-la. Portanto seria a área que eu escolheria, o ensino de artes.
Urbi @ Orbi: Para terminar a entrevista, e centrando nos seus projectos futuros, como surgiu a colaboração com a marca Shoes Closet?
Tiago Loureiro: Houve uma aluna de mestrado cujo irmão tem uma empresa de calçado e ela e mais duas colegas estão a desenvolver um projecto de mestrado em que revitalizam a marca, e então viram as minhas ilustrações e viram o meu trabalho que estava exposto no museu dos lanifícios e pediram me para colaborar com eles em termos de criação da imagem. Comecei a fazer ilustrações para os sapatos que depois vão ser apresentados no kit para a imprensa, e posteriormente devo fazer também para as próprias caixas de sapatos. A marca é a “Shoes Closet” e como é o meu primeiro trabalho pago até agora, estou muito contente com isso.
Até agora, sinceramente, parece que me tem tudo caído do céu. Eu não precisei de pedir nada, trabalhei para as coisas acontecerem, mas não fui eu que fui lá pedir para verem o meu trabalho, as pessoas têm vindo até mim e espero que continue também a ser assim. Eu esforcei-me para mostrar o meu trabalho, montei uma grande parte da exposição no Museu dos Lanifícios através do MOVE, e felizmente tive uma boa rentabilização do trabalho que tive lá exposto, o trabalho na Shoes Closet consegui-o através disso.