Foi com uma frase do maior vulto da arquitectura portuguesa que os membros da caravana Visão começaram por defender a Tapada do Dr. António. No anfiteatro 6.1, repleto de alunos de arquitectura e outros interessados na matéria, pode ler-se num grande ecrã a frase de Álvaro Siza Vieira: “a casa é um imóvel de interesse excepcional porque, para além de ser uma casa é um lugar representativo”. Fernando Martins, é um dos arquitectos que faz parte da caravana Visão. Um conjunto de profissionais que percorrem o País apontando diversos marcos da arquitectura nacional. Esta semana, a zona da Guarda e da Covilhã receberam a visita do grupo e o tema escolhido foi precisamente o da Tapada do Dr. António.
O local que conta, entre outras edificações, com um imóvel desenhado por Luiz Alçada Baptista. Um conjunto arquitectónico que ficará submerso caso seja construída a segunda Barragem das Penhas da Saúde. Uma situação que a própria Ordem dos Arquitectos quer evitar “a todo o custo”, explica Fernando Martins. Um dos profissionais que faz parte deste grupo de discussão apresentou aos alunos fotos das plantas, o imóvel, da sua interacção com o espaço e sobretudo, “da sua inspiração em conceitos desenvolvidos por Frank Lloyd Wright”.
Também João Santa Rita, vice-presidente da Ordem dos Arquitectos lembra a importância da preservação do local. O representante da ordem explica que o caso da possível construção da barragem e do desaparecimento do local “é um processo que já vem de há algum tempo”. Para este representante “a Ordem tudo fará para impedir que tal desaparecimento ocorra”. Até porque, “a importância destes locais tem de ser preservada. Aquilo é um bem de todos, é uma herança que nos faz preservar um lugar comum”. Confrontado com a possível necessidade da construção da barragem e com as posições tomadas sobretudo pela Câmara da Covilhã, João Santa Rita explica que “os debates públicos não devem ser antagónicos nem conflituosos. Devemos saber explicar o significado e a importância daquele ligar e as respectivas soluções”.
A construção da barragem no local que está apontado pela autarquia serrana “levará à destruição não só de um imóvel, mas de uma série de casas modernistas de grande valor arquitectónico”, dizem os promotores do debate. Para o grupo de intervenientes, que contou também com Margarida Cancela de Abreu, presidente da Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas, Inês Lobo, João Gomes da Silva, Manuel Aires Mateus, João Pedro Falcão de Campos e Manuel Maria Reis, “aquela casa permite interpretar a natureza e o lugar onde está implantada e é uma construção no tempo, não é de uma, mas de várias gerações”, referem.