Portugal recuperava ainda da ditadura salazarista e das deficiências provocadas pela falta de uma rede de instituições de ensino superior quando, em 1975, entram os primeiros alunos no então criado Instituto Politécnico da Covilhã (IPC). Ao abrigo da “Reforma Veiga Simão”, foram vários os politécnicos criados no território nacional.
A primeira grande diferença, do caso covilhanense, passou pela sua localização. O IPC era o único politécnico português localizado fora de uma capital de distrito. A forte presença da indústria têxtil e de diversos serviços na “cidade neve” serviu de justificação para tal facto. Os primeiros momentos foram de afirmação local e de solidificação do projecto com a passagem a Instituto Universitário da Beira Interior (IUBI), em Julho de 1979. Mas, a cidade, outrora considerada "Manchester portuguesa", pela longa tradição, dinâmica e qualidade dos seus lanifícios, foi atingida, nessa década, por uma crise ao nível da indústria: grandes e pequenas fábricas começaram a revelar debilidades graves que levariam ao seu encerramento, com consequências sociais e económicas desastrosas para a região.
Um dos principais organismos que davam provas de contrariar este cenário era precisamente o Instituto. Discute-se então a passagem a Universidade e a implementação plena do projecto. Uma medida discutida de forma recorrente na Assembleia da República e que se traduzia de diversas mudanças. Maior autonomia, licenciaturas integrais, uma vez que até aí os alunos do IUBI terminavam algumas das suas formações em universidades como Lisboa ou Coimbra, crescimento de recursos humanos e de infra-estruturas.
O Decreto-Lei 76-B/86, de 30 de Abril de 1986 vem instituir a criação da Universidade da Beira Interior. A data assinala, desde então, o aniversário da academia. Cavaco Silva, primeiro-ministro há menos de um ano, esteve na Covilhã a 16 de Maio de 1986, dias depois de ter sido promulgado o Decreto da passagem a Universidade. A aposta nesta estrutura foi notória, tendo Cavaco passado dois dias na Covilhã para inaugurar novas instalações no Pólo I, mas também os Serviços Sociais e residências. A partir de 1986 começava a definir-se a Universidade da Beira Interior.
O novo estatuto éassinalado com uma passagem do primeiro-ministro pela região. Portugal era então um dos países que mais recebe fundos comunitários e através de vários programas de desenvolvimento regional, a academia acaba por beneficiar disso mesmo. Na sua primeira passagem pela Universidade da Beira Interior, Cavaco Silva toma conhecimento dos planos de crescimento de instituição e dá luz verde à sua execução. A 2 de Novembro de 1987 é aprovado o Decreto do Governo n.33/87 que desenha as áreas de expansão e protecção dos Pólos I, II e III. Começa a nascer o projecto que por estes dias completa um quarto de século. Dez anos depois, em 1996, surge também o Pólo IV.
O primeiro Reitor da UBI foi Cândido Manuel Passos Morgado, que se manteria no cargo entre 21 de Agosto de 1980 e 19 de Janeiro de 1996. O Major General Engenheiro Aeronáutico, licenciado em Ciências Matemáticas e doutorado em Física descreve a universidade como “um projecto essencial para a região sobretudo na formação de recursos humanos qualificados”. Passos Morgado recorda que todo o processo “teve início em 1973” e passados 25 anos “o futuro é cada vez mais promissor”.
Para o primeiro reitor da UBI, a academia “muito poderá contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico da região”. Para tal “tem de existir uma sintonia entre todas as vertentes regionais”, nomeadamente com as autarquias. O primeiro reitor da instituição lembra também que “a justificação da UBI, nesta zona, é feita através da necessidade de formação de técnicos”, mas “estes devem fixar-se aqui de modo a desenvolverem esta região”. Mentor de muitos dos projectos de crescimento da academia é no período em que dirige a instituição que se afirmam os dois pólos principais e também se traça o pólo III, actual Faculdade de Ciências da Saúde. Um crescimento que merecia então o reconhecimento das mais altas figuras do Estado, como foi o caso da primeira visita do então Presidente da República, Mário Soares. Na década de 90, optar-se-ia por expandir a Universidade para o extremo Norte da cidade, junto à Ribeira da Carpinteira. À medida que as estruturas físicas da UBI iam crescendo também o quadro de colaboradores começava a ficar mais preenchido, alguns colaboradores que ainda hoje se encontram ligados à instituição.
Em Janeiro de 1996 segue-se Manuel José dos Santos Silva, na reitoria da universidade. A universidade foi continuando o seu percurso com “um crescimento assinalável de infra-estruturas e de oferta formativa”, começa por lembrar Santos Silva. A UBI mostrava já também alguma tecnologia e abria as portas aos primeiros projectos de investigação. No período em que desempenhou funções de reitor, este doutorado em Engenharia Têxtil, recorda a data em que começou a funcionar o curso de Medicina, em 2001/2002. Em 2006, concluiu-se a construção da Faculdade de Ciências da Saúde, cumprindo-se, assim, o programa de instalação das infra-estruturas do curso de Medicina. Para Santos Silva “esta foi uma revitalização da academia”. No entender do segundo reitor da UBI, “as instituições são e existem para os meios humanos”, daí que, as duas principais características da universidade beirã sejam “uma boa acção social, com uma das melhores taxas de alojamento de Portugal, mas também os modelos pedagógicos centrados no aluno”.
A 19 de Junho de 2009 assume o cargo de reitor, João António de Sampaio Rodrigues Queiroz. O actual responsável máximo pela academia está na UBI desde 1986, o ano da passagem a Universidade. O catedrático de Química lembra o crescimento progressivo “em número de alunos, em áreas científicas, em docentes, em projectos”. O trajecto percorrido “por este projecto colectivo já se afirmou a nível nacional e está em condições de apostar na sua consolidação e na excelência em algumas das suas áreas”. A academia tem sido reconhecida pelos principais responsáveis da nação.
Dos primeiros tempos o actual reitor lembra “a academia de dimensão relativamente pequena”, mas também “as condições que fomos criando para uma docência de qualidade e também para uma investigação em novas áreas e portanto essas foram condições que catapultaram a universidade para aquilo que ela é hoje”. Passados 25 anos, “a universidade tem muito a dar”. Neste momento, João Queiroz desenha as principais linhas de crescimento da instituição para os próximos tempos, num plano estratégico denominado “UBI 2020”. “Diria que há um caminho e uma estratégia onde todos os membros se revêem e espero que sirva os interesses da universidade, no sentido da consolidação e do crescimento nas áreas da pós-graduação e na consolidação de algumas áreas de investigação”.
Actualmente, a UBI acolhe mais de 6 mil alunos, distribuídos por cinco faculdades – Artes e Letras, Ciências, Ciências da Saúde, Ciências Sociais e Humanas, Engenharia – com uma oferta formativa adequada a Bolonha e estruturas laboratoriais e de investigação de apoio ao ensino e com fortes ligações à sociedade e ao mundo empresarial.
Relatos dos colaboradores que já trabalhavam em 1986:
Ermelinda Calmão
José Machado
Clotilde Marques
A minha UBI: testemunho de antigos alunos.
Rui Gil: “… eu não tive Física no 12º Ano!!!”
Nuno Garcia: O IUBI vai mudar de nome!
Helder Rosendo: Inesquecível e marcante!
Joaquim Simão Duarte: Esboço de algumas memórias
Editorial: Venham mais 25!