Urbi @ Orbi: Com que idade surge o seu gosto pelo jornalismo?
Júlio Magalhães: Começou desde muito cedo. Quando tinha 10 anos, vivia em Sá da Bandeira (Angola) e ia para a praça esperar pelos jornais. Nessa idade já era viciado na leitura de jornais. Quando fui morar para o Porto, a minha rua ficava a meio do “Jornal de Notícias” e do “Comércio do Porto”. Eu ia para a porta do “Comércio” e do “Jornal de Notícias” esperar pelo jornal. Foi esse vício pelos jornais que posteriormente me transformou em jornalista.
Urbi @ Orbi: Tem alguém visto como espelho, alguém que tenha impulsionado a sua carreira de jornalista?
Júlio Magalhães: Nada, nunca. Não tenho ídolos. A minha referência sou eu mesmo e acho que cada um deve ser a sua própria referência.
Urbi @ Orbi: Quais foram as bases da sua formação jornalística?
Júlio Magalhães: Comecei a trabalhar aos 16 anos como colaborador. Aos 18 já era profissional, e nessa altura não havia cursos de jornalismo, portando a minha formação inicial foi feita no trabalho, o que se chamava na altura de banca. Depois fui-me formando em termos académicos, mas a minha base de jornalista é a base da banca, do dia-a-dia.
Urbi@ Orbi: Sendo um apaixonado pelo desporto, o que motiva essa paixão?
Júlio Magalhães: Eu fui jogador de basquete. Sempre estive muito ligado ao desporto. Dei permanentemente grande atenção às notícias de desporto e depois fui praticando. O desporto foi a minha escola como jornalista, foi na área desportiva que comecei a minha carreira profissional. A escola do desporto é a melhor escola que há no jornalismo.
Urbi @ Orbi: Quais os trabalhos que mais o marcaram na área do jornalismo?
Júlio Magalhães: O que me deu mais trabalho e marcou muito mais a minha vida foi sem dúvida a queda da ponte de Entre-os-Rios, estive um mês no local a fazer directos para televisão. Esse foi de longe o trabalho mais marcante que tive até hoje. O que me custou mais a fazer foi em Amarante, quando morreram 13 pessoas numa discoteca. O acontecimento foi muito chocante e a forma como foi feito revelou-se no trabalho mais penalizador que tive.
Urbi @ Orbi: O Júlio já teve a oportunidade de trabalhar na RTP1, e mudou para a TVI. Quais as diferenças entre estas duas estações televisivas?
Júlio Magalhães: São gritantes. A RTP é uma estação pública, a TVI é uma estação privada. Na TVI trabalha-se por objectivos, para ter audiência. Na RTP trabalha-se para serviço público, e não há a mesma exigência que existe na TVI, embora a RTP também seja um grande canal de televisão.
Urbi @ Orbi: Como avalia a experiência que teve à frente da direcção de informação da TVI?
Júlio Magalhães: Foi a experiência mais demolidora que tive até hoje, a mais difícil de todas. Apanhei a TVI num período muito conturbado, com uma guerra interna e externa grande. Foi mais longa do que eu pensava, 18 meses, mas saí pela porta grande, de cabeça erguida, com boas audiências e a casa estabilizada.
Urbi @ Orbi: Quais os motivos que o levaram a abdicar do cargo de director de informação da TVI?
Júlio Magalhães: Consegui cumprir a missão de ter boas audiências, a redacção estava estabilizada, e voltar ao Porto que é onde eu moro.
Urbi @ Orbi: Na sua opinião, o que podem esperar as audiências da TVI relativamente à nova direcção de informação?
Júlio Magalhães: A mesma coisa, melhor ainda. São dois grandes profissionais de excepcional qualidade, reconhecidos. A TVI é uma estação líder de audiências e a contratação deles significa uma melhoria grande para a TVI.
Urbi @ Orbi: “Longe do Coração”, no ano passado, foi o seu último livro publicado. Podem os leitores esperar, num futuro próximo, um novo livro?
Júlio Magalhães: Já estou a escrevê-lo. Tem a ver com a 2ª Guerra Mundial. Foge um bocadinho às temáticas em relação dos que escrevi até agora, mas ainda é com pessoas que viveram esses tempo, com as quais já estou a falar, e em Julho já está pronto.
Urbi @ Orbi: Como vê a relação que o jornalismo tem vindo a estabelecer com as redes sociais (facebook, twitter)?
Júlio Magalhães: É uma relação necessária, de futuro, mas muito perigosa, se não for controlada e devidamente equilibrada.
Urbi @ Orbi: Na sua opinião, o que se faz de melhor e pior no jornalismo português?
Júlio Magalhães: O jornalismo está melhor que todas as outras actividades. O que se faz pior é o domínio que hoje as instituições, os políticos, a magistratura, o ministério público têm sobre a televisão.
Urbi @ Orbi: Ser jornalista exige constante actualização e aprender um pouco mais a cada dia. Quer apontar alguns princípios que devam ser seguidos pelos futuros jornalistas?
Júlio Magalhães: Em primeiro lugar é fundamental dominarem a língua portuguesa, e em segundo lugar vem a independência. A independência é o caminho das pessoas, apesar de se demorar mais tempo a ter sucesso.
Urbi @ Orbi: O que pode um estudante de jornalismo esperar do mercado de trabalho?
Júlio Magalhães: Pouco. Mas há uma oportunidade para toda a gente e a única coisa que eu aconselho é no dia em que tiverem essa oportunidade não falhem, se não falharem têm o futuro garantido.
Urbi @ Orbi: Por falar em futuro, o seu futuro poderá ser feito no Porto Canal, dado o convite que lhe foi feito para director?
Júlio Magalhães: Existe o convite, existem conversas. A partir do momento em que estamos no mercado e estamos a trabalhar, tudo o que sejam novos projectos, novas ideias, novos desafios fazem parte da nossa vida. Eu estou bem na TVI, mas não fecho a porta a uma eventual saída um dia destes, nunca se sabe.