Urbi@Orbi – Na instituição há 25 anos começar por lhe pedir algumas ideias sobre a evolução da academia.
João Queiroz - [Ver respostas] - Foi um crescimento enorme de uma instituição que iniciou as suas actividades como universidade há 25 anos, até hoje. Crescemos em número de alunos, em áreas científicas, em docentes, em projectos, foi um crescimento exponencial. Há que ressalvar que foi muito importante esse crescimento, para além de novas áreas como a Saúde.
Hoje a UBI já se afirmou, por si, a nível nacional e está em condições de apostar na sua consolidação e na excelência em algumas das suas áreas., que penso ser isso o que está a ser feito.
Urbi@Orbi – Quando começou a ser docente e investigador na academia pensou que chegasse a ter esta dimensão, passados este tempo?
João Queiroz – Estou aqui desde 1986. Nessa altura a universidade tinha uma dimensão relativamente pequena e por isso não fazia ideia de que o crescimento ocorresse nas áreas onde se registou e da forma que se manifestou. Não pensava que a academia ganhasse a dimensão que hoje tem, sobretudo porque estamos numa região do interior onde esse aspecto ganha ainda maior relevância.
Ainda bem que assim aconteceu. No meu caso pessoal, a título de exemplo, nos primeiros anos não existia um grande estímulo em termos de investigação e docência. O certo é que fomos criando as condições para uma docência de qualidade e também para uma investigação em novas áreas e portanto essas foram condições que catapultaram a universidade para aquilo que ela é hoje.
Urbi@Orbi - Passados 25 anos de integrar os quadros da UBI está agora a desempenhar funções de reitor e a desenhar o plano estratégico de crescimento para os próximos tempos. Como está a decorrer esse trabalho?
João Queiroz – [Ver respostas] - A universidade tem muito a dar, tem o seu espaço próprio no panorama nacional e também internacional. Estamos a seguir as linhas mestras dadas ao ensino superior na Europa e estamos a terminar o plano estratégico denominado “UBI 2020”. Diria que há um caminho e uma estratégia onde todos os membros se revêem e espero que sirva os interesses da universidade, no sentido da consolidação e do crescimento nas áreas da pós-graduação e na consolidação de algumas áreas de investigação.
Urbi@Orbi - No ano passado o Primeiro-Ministro esteve no dia da UBI e aproveitou o facto para sublinhar a capacidade de ter dado à UBI uma efectiva importância regional e nacional. Tem sido um trabalho produtivo.
João Queiroz – Devemo-nos congratular com o trabalho realizado no passado e daí estarem também de parabéns os reitores que me antecederam, o professor Passos Morgado e o professor Santos Silva, mas também felicitar todo o corpo de docentes, funcionários, ex-alunos e alunos porque tudo resulta de um trabalho conjunto e a universidade é de todos. Temos de continuar com esse intuito, com o de tornar todo este projecto, numa acção global das pessoas que estão na UBI.
O que pretendi quando me candidatei a reitor foi olhar para aquilo que são os parâmetros do ensino superior europeu. Isso implica pensar na investigação de uma outra forma, pensar no ensino e no Processo de Bolonha de uma maneira diferente e também aproveitar as mudanças que ocorreram no ensino superior e nas alterações implementadas pelo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), para implementar um novo sistema de gestão e governação. Acho que estamos a conseguir isso e passados dois anos estou contente com o trabalho, com o esforço que todos temos feito para levar a universidade para o caminho que nos parece mais adequado. Começamos agora a ter resultados de todas as medidas e princípios pelas quais me candidatei.
Urbi@Orbi – Um dos pontos que também tem ganho destaque é a ligação com estruturas foram da instituição. Organizações regionais, nacionais e estrangeiras estão na lista das parcerias. Como tem sido realizado este trabalho de pesquisa e selecção de entidades para trabalhar com a UBI?
João Queiroz – O que é importante e o que tenho dito sempre é que a UBI esteja também virada para o exterior numa perspectiva não de prestação de serviços pura, mas numa perspectiva de colaboração científica e técnica. É também importante reconhecer o papel social que a UB I tem na cidade e na região.
O que tem vindo a ser feito é uma melhoria nessa ligação à sociedade civil, política, empresarial, industrial e cooperar de diferentes formas com ela. Vejo que isso tem acontecido e a mais de uma centena de protocolos celebrados nos últimos dois anos são prova disso.
Vai ser muito importante, no próximo dia 30 de Abril, assistirmos a mais uma assinatura de protocolos com empresas que são de referência a nível nacional e que mais investem em Investigação e Desenvolvimento (I&D) e que são parceiros privilegiados da UBI. De tal forma podemos contar com eles para desenvolver mais projectos, como é o caso da GALP, com quem vamos desenvolver um projecto de eficiência energética, o qual nos interessa bastante, o caso da Delta, com várias áreas de actuação e o caso da PT Inovação que tem vindo a ser uma das que mais investe em novas tecnologias. Esta é uma empresa com a qual temos vindo a colaborar pontualmente, e com a qual vamos agora ficar com outra ligação do ponto de vista científico e da realização conjunta de projectos.
Vamos também ter um projecto de alargamento de hospitais e unidades de saúde a colaborar para a formação de mais médicos. Isto vem consolidar o projecto da Medicina que é um projecto importante para a UBI.
Urbi@Orbi - Provas de que a UBI integra já o conjunto de academias portuguesas de referência?
João Queiroz – [Ver respostas] - Quando as empresas nos procuram, quando temos as portas abertas em todo o lado isso significa que dentro da universidade há valor, há mérito científico, humano e também porque as pessoas acreditam nos recursos humanos que formamos. Penso que esse é um dos aspectos de maior relevância para mim. Espero conseguir, de alguma forma, fixar cada vez mais os recursos humanos formados aqui na universidade, conseguir que se mantenham na região, ou em grandes empresas e grandes projectos nacionais ou internacionais. Isso significa a mais-valia e a contribuição que a UBI presta à formação dos seus alunos.
Urbi@Orbi – Para isso deve contribuir o UBIMedical, correcto?
João Queiroz – Aquilo que temos como objectivo é criar uma estrutura que funcione como uma interface entre aquilo que é o conhecimento criado dentro da universidade e o que são as prestações de serviços e o nascimento de novas empresas na qualidade de vida e na área da saúde.
É um projecto muito importante e de grande investimento. Vamos ter algumas empresas de destaque, o que representa um forte desenvolvimento na região. O UBIMedical é apenas uma de várias estruturas de interface que estão pensadas para aquele campus. Significa isso que neste momento a universidade vai crescer nesse sentido, na ligação com o exterior através da criação de empresas que passem o conhecimento conseguido dentro da academia, porque isso significa mais graduados por nós, a trabalhar na região.
Urbi@Orbi – A abertura da Medicina aos hospitais de Viseu e Abrantes é um alargamento da área de influência da UBI?
João Queiroz – É sobretudo a criação de novas oportunidades de formação, de complementaridade na sua formação. Sempre defendia que a diversidade melhora a formação dos nossos alunos e da capacidade que vão ter para serem melhores médicos.
Urbi@Orbi – Apostou-se também na criação de um Gabinete de Qualidade. O que se espera desta estrutura?
João Queiroz – Nesta primeira fase tem funcionado como plataforma de apoio entre os directores de curso e presidentes de faculdade e aquilo que é a Agencia de Acreditação e Investigação do Ensino Superior. Tivemos um grande sucesso na acreditação dos cursos propostos à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), mas também temos feito mais que isso. No caso do ensino estão realizados alguns inquéritos, discutidos alguns resultados com as comissões de qualidade entretanto criadas nas faculdades, ou seja, tem existido a preocupação de não só implementar sistemas de garantia de qualidade, como também, de os avaliar, para termos na universidade um sistema de ensino e de qualidade completamente implementados.
O Gabinete de Qualidade tem estado mais centrado no ensino, mas estamos a montar um sistema de garantia de qualidade interno para todas as vertentes. Em alguns serviços da UBI esses sistemas estão já em funcionamento, está a ser implementado no ensino e na investigação e depois queremos reunir tudo num só sistema. Os primeiros resultados obtidos são extremamente aliciantes.
Urbi@Orbi – Esta é uma forma de garantir a formação que aqui é ministrada e os serviços feitos?
João Queiroz – Garantir o melhor para os nossos alunos, docentes e investigadores nos serviços que prestamos, mas é também um motivo para no exterior reconhecerem o trabalho que prestamos. Este processo tem ainda uma forte componente de auto-avaliação e de melhoria contínua que é um dos pressupostos que qualquer universidade tem de implementar, desde sempre.
Urbi@Orbi – A internacionalização tem vindo a ganhar destaque nestes últimos dois anos. Como está a decorrer esse processo e até onde gostaria de alargar as fronteiras da UBI?
João Queiroz – Neste momento tem existido uma aposta estratégica em aumentar o número de alunos em mobilidade. Isto porque temos cada vez mais alunos a quererem vir até à Covilhã, como temos cada vez mais alunos a quererem ir ao estrangeiro conhecer outras academias. Há agora mais fundos para isso, sobretudo para os países da América Latina. Neste momento anuncio também a criação de um programa específico para Espanha.
Está também acordada a possibilidade do duplo reconhecimento de graus. Quando os alunos dessas universidades passam uma temporada específica aqui na UBI ou quando alunos nossos desenvolvem trabalhos no estrangeiro, o seu grau de estudos é reconhecido pelas duas universidades. Temos feito isso com academias europeias e brasileiras e é mais um passo de cooperação e mais um sinal do reconhecimento da UBI perante instituições lá fora. Um esforço conseguido com o apoio de quem está nas faculdades a gerir estes processos.
Urbi@Orbi – A situação actual do País poderá colocar algum abrandamento no crescimento da instituição?
João Queiroz – Espero que não. A 31 de Dezembro de 2010, a situação económico-financeira da UBI era muito boa. É óbvio que a situação actual não é a mesma que se registava nesse período, como também parece óbvio que a situação que se vai registar dentre de meses seja igual à actual. Não sei o que vai acontecer a curto prazo, mas penso que o ensino superior, de uma maneira geral, e a UBI, de forma particular, tem agarrado os desafios, tem sabido crescer e penso que este é o caminho.
Qualquer processo que tente inverter esta tendência é um processo muito perigoso e que nos pode comprometer para os próximos anos. Diria pois que temos de ser muito cautelosos, que estamos a prestar um grande contributo ao País e que isso vai ser reconhecido e não vão colocar em causa o crescimento da universidade, a forma como se tem afirmado, o crescimento da investigação e das parcerias internacionais, até porque se iria deitar a perder muito se esta aposta não for contínua.
Urbi@Orbi – Mas haverá a possibilidade de procurar outro tipo de apoios?
João Queiroz - Procuramos sempre apoios e parcerias com empresas que de alguma forma financiam actividades. Dou o exemplo da GALP que, tal como outras entidades até aqui, vai passar a financiar uma bolsa de doutoramento empresarial.
O orçamento da UBI, em 2010, foi de aproximadamente 40 milhões de euros, do ministério vieram 28 milhões, pelo que a universidade gere muitas receitas, tem muitos projectos e dinâmicas, mas de qualquer maneira pode ser perigoso se houver um desinvestimento no ensino superior.
Urbi@Orbi – Ainda assim a UBI tem vindo a ser apontada como um exemplo de gestão de recursos, com a fusão dos Serviços de Acção Social. Como está a ver esse trabalho?
João Queiroz – essa é uma tendência que agora começa a ser falada nas outras universidades para optimização de recursos, gestão de plataformas e melhoria de serviços. É um bom exemplo da UBI, dado a outras instituições.
Temos vindo a assistir a um novo sistema de operacionalidade de vários serviços dentro da universidade. Vamos ter uma apresentação sobre todas as ferramentas informáticas que estão a ser aplicadas na gestão da UBI, isso vai ser mostrado ao Conselho Geral para que se possa perceber o que foi alterado neste curto espaço de tempo. No futuro isso vais ser mais evidente e vai mostrar de que forma estamos melhor preparados para enfrentar os desafios que estão na ordem do dia. A UBI preparou-se bem gerando receitas e saldos muito positivos. Tudo passa agora por continuar este trabalho.
Urbi@Orbi – Estes 25 anos de universidade têm vindo a ser assinalados ao longo dos passados meses. No próximo sábado o que vamos ter?
João Queiroz – A sessão solene vai ser muito virada para a universidade. Decorre a atribuição de prémios, a passagem de um filme sobre a UBI e outras actividades. Mais à noite teremos um concerto musical que vem também marcar essa postura de abertura à comunidade.
Urbi@Orbi – Nos próximos tempos, como pensa a UBI?
João Queiroz – Gostaria que tudo o que temos vindo a implementar se mantivesse, mas também que fosse possível aumentar o número de alunos em pós-graduação, quer em mestrados, quer em doutoramentos. Penso que esta é a via de crescimento para os próximos tempos.
Por outro lado queria também que os nossos diplomados criassem as suas empresas na região, contribuindo assim para a fixação de jovens qualificados nesta área.