Foram vários os testemunhos desenrolados ao longo de todo o julgamento que agora culmina com a primeira condenação por escravidão, em Portugal. Uma mulher e dois homens recrutavam pessoas de baixos conhecimentos para trabalharem em Espanha. As promessas de bons salários levava-os a entrar na aventura.
Os testemunhos que prestaram ao Tribunal do Fundão constituíram as principais provas deste tipo de crime “sempre difícil de provar”, explicou o presidente do colectivo que julgou o caso. O mesmo acabou por atestar que nos vários anos de magistratura nunca ouvira relatos desta natureza. As vítimas, aliciadas na região, eram conduzidas a Espanha, onde acabavam por viver em condições desumanas e trabalhar largas horas por dia sem qualquer salário. Uma exploração agrícola servia de fachada a uma prática de escravatura levada a cabo por uma mulher e dois homens. Quem acabava por embarcar neste conto do vigário, via-se preso num barracão, sem documentos ou contactos com o exterior, sem salários e trabalhando várias horas por dia.
Todo o esquema era montado por elementos da mesma família que acabam agora com penas de prisão de oito, 12 e 20 anos, que se reportam a 13 crimes de escravidão. O cabecilha da rede, um homem de 34 anos, natural da Covilhã, está a cumprir pena de prisão em Espanha por outro crime. Assim que este indivíduo foi detido no país vizinho, começaram as suspeitas deste tipo de crime. Os pais, de 66 e 67 anos, que serviam de angariadores e também ajudavam nos maus tratos das pessoas. Numa operação conjunta entre as forças policiais dos dois países e também com a fuga de algumas pessoas da quinta onde estavam presas, foi possível desmontar todo o esquema.