As séries televisivas de sucesso parecem ter na toxicologia e nas ciências forenses o motivo de interesse por parte dos espectadores. Nos últimos tempos são vários os exemplos de programas televisivos que mostram como a química, a biologia, a farmacologia ou a medicina podem ser as bases para a solução de crimes ou de invulgares maleitas. Para além de um maior interesse por este tipo de produto mediático, a mostra, ainda que encenada, das potencialidades das ciências tem feito com que os jovens escolham licenciaturas nestas áreas.
Essa explicação é uma das avançadas pelos responsáveis destas jornadas. Maria Eugenia Gallardo Alba, docente da UBI e coordenadora científica do evento, começa por explicar o aumento significativo de alunos em várias licenciaturas, “quer pelas séries televisivas, quer por a área da medicina e da biologia estarem mais acessíveis, mas também porque a toxicologia está cada vez mais ligada à sociedade actual”. E foi precisamente sobre as múltiplas ligações desta área que cada vez mais se começa a afirmar como ciência que as jornadas se desenvolveram. Eugenia Gallardo assume que “as séries televisivas tiveram um contributo importante no despertar de interesse para este meio, mas não podemos esquecer que cada vez estamos mais expostos a meios tóxicos e agentes contaminantes, a drogas e outros produtos e esta passa a ser uma área com maior relevância no contexto científico e ganha um lugar próprio”.
Esta reunião científica, organizada também pelo Núcleo de Estudantes de Ciências Farmacêuticas da Universidade da Beira Interior (UBIPHARMA), em parceria com a Associação de Estudantes de Farmácia da Universidade de Granada, o Grupo de Toxicologia e Análises Toxicológicas e a Faculdade de Ciências da Saúde, centrou-se maioritariamente no tema da Toxicologia Forense. Dar a conhecer os últimos progressos nesta área, promover o intercâmbio académico entre diversos países e mostrar alguns projectos que estão em curso foram metas atingidas. De tal forma que a coordenadora científica das jornadas garante que “a universidade vai ganhando reconhecimento no seu trabalho e está a ter um forte destaque, nomeadamente na sua internacionalização. Considero que dentro em breve seremos uma universidade de referência. Temos um centro muito conhecido em diversas áreas, nomeadamente em comunicação celular, farmacologia, cardiovascular, neurociência e biotecnologia, aqui com um grupo de excelência a nível europeu”.
Francisco Corte Real, vice-presidente do Instituto de Medicina Legal (IML), veio à Universidade da Beira Interior participar neste evento. Este responsável por um dos mais prestigiados institutos europeus de medicina forense falou do “Passado, Presente e Futuro das Ciências Forenses em Portugal”. Corte Real mostrou-se bastante agradado “com a qualidade das palestras e o número e participantes” das jornadas. No que diz respeito às ciências forenses, o responsável pelo IML explica que “esta área tem tido um interesse crescente nos últimos anos, está um pouco na moda, não só por séries televisivas, mas também pelos resultados que são conseguidos através destas práticas e há cada vez mais jovens interessados”. “ Só se pode trabalhar com qualidade se houver formação e é bom que as pessoas participem nestes eventos, que façam investigações e aquilo que vim sublinhar aqui foi precisamente esse aspecto, o apoio do Instituto de Medicina Legal a todo o tipo de trabalhos sérios. Mas a imagem da medicina lega também mudou bastante nos últimos anos e agora há um número significativo de recursos humanos. Isso é bom para esta área e para o nosso País”, acrescenta.
A formação que actualmente é feita nas universidades levou a uma melhoria da actividade pericial no nosso País. Outra das novidades que também marcou este congresso é a de que a concepção geral das ciências forenses mudou por completo. “Antigamente havia muitos peritos que não pediam exames complementares, designadamente de toxicologia e nós sabemos que para se concluir um exame com qualidade é preciso realizar, muitas vezes, exames complementares. Aquilo que alguns peritos entendiam como sendo as conclusões da autópsia não necessitavam de exames complementares, é uma falácia, porque uma actividade pericial completa tem de ter exames complementares. Daí que os peritos hoje estejam muito mais alertados para esse facto e solicitem mais exames complementares. Nós olhamos para este aumento como um significado da actividade pericial no nosso País e fomentamos que assim seja”, diz Francisco Corte Real.