Carlos Pinto bem tentou “agitar” as águas, mas a oposição parece não ter ido “na onda”. Na última assembleia municipal, os deputados do círculo covilhanense ouviram o autarca social-democrata analisar a situação de ruptura das AZC e puxar para si a decisão da Covilhã não ter integrar aquela instituição multimunicipal que tem a concessão para explorar o abastecimento de água e os sistemas de saneamento de vários municípios.
Se em Julho de 2000 o Estado Português concessionou, por 30 anos, estas estruturas a mais de uma dezena de municípios que vão desde Figueira de Castelo Rodrigo ao Fundão, actualmente é o próprio Estado a ter em mãos uma dívida que ascende já os 200 milhões de euros. A Covilhã acabou por nunca integrar este sistema, o que levou o município serrano a criar a empresa municipal Águas da Covilhã. Uma posição contestada pela oposição. Os socialistas sempre se mostraram favoráveis à entrada da Covilhã nas AZC, já os membros do PCP defenderam a manutenção dos serviços de abastecimento de águas e tratamento de resíduos exclusivamente em mãos públicas. Uma diferença que marcou também o discurso do autarca. “Tenho estado à espera que alguém do Partido Socialista me voltasse a perguntar quando é que nós entramos para as Águas do Zêzere e Côa, porque fui aqui quase atropelado por causa da Câmara da Covilhã não estar nas AZC, essa maravilha que ia trazer a felicidade aquífera e líquida às populações, certamente com investimentos que nós não éramos capazes de fazer com preços mais reduzidos e com geração de lucros, mas afinal, o que hoje assistimos são reuniões feitas quase na clandestinidade contra a AZC, com embaixadas da região à Rua do Século, em Lisboa, ao Ministério do Ambiente, dizendo à senhora ministra como é que vai ser possível pagar as taxas”, desafia o social-democrata. Pinto atesta que o deficit da empresa, pelo que conhece, está próximo dos 300 milhões, pelo que os municípios que a integram estão a chegar a uma situação de acabarem por não ter água. “Mas o mais grave é o poder que tínhamos perdido sobre um sector que para vocês era tão importante e a questão do património. É que hoje esses municípios têm zero de património. A somar a tudo isto, o Partido Socialista ainda vai ter de assistir ao início da construção da nova barragem, com a Covilhã fora da AZC”, acrescenta.
Vítor Reis Silva, deputado pelo PCP, lembra que a posição do seu partido “sempre foi a de defender que a Covilhã não deveria entrar no sistema multimunicipal, porque na própria legislação havia até outra solução”. Uma discordância que se estende também “ao aparecimento da empresa municipal Águas da Covilhã e com a venda de 49 por cento desta empresa a privados”.
Coube a Miguel Nascimento defender a posição do Partido Socialista. O agora deputado municipal, antigo vereador da autarquia serrana, explicou que sempre defendeu que a Covilhã estivesse nas AZC, “até porque o sistema multimunicipal com a Covilhã é um e sem a Covilhã é outro”. Na ideia contabilística de Nascimento, “o peso da Covilhã representaria uma equação completamente diferente daquela que se veio a verificar à posteriori. Mas ainda assim, recordo a sessão de câmara, na qual desempenhava funções de vereador, onde foi votada a entrada ou não da Câmara da Covilhã na AZC e depois de explicações do senhor presidente, acabei por votar ao lado da maioria, ou seja, pela não adesão”, uma posição que não viria a ser seguido pelo colectivo de deputados municipais na assembleia. A questão das AZC acaba por não interferir de forma directa com o município covilhanense, mas “uma palavra do Partido Socialista, neste momento, a dizer que estavam enganados, não lhes ficaria mal”, remata o presidente da Câmara da Covilhã.