A ideia de criar uma academia sénior surgiu através de um grupo de cidadãos animados do propósito de se reunirem, fazerem uma vida social e promoverem o seu conhecimento em áreas que, muitas das vezes, nem eram as da sua preparação. A Academia Sénior da Covilhã (Associação Cultural de Jubilados da Beira Interior), foi criada a 24 de Fevereiro de 2000. Desde o seu início que a academia visa preencher o tempo livre e de lazer dos jubilados, orientando e promovendo acções de pesquisa, prática, estudo, divulgação e recreio do interesse dos seus associados.
Ao princípio foi necessário fazer uma escritura pública, bem como elaborar estatutos e pedir à Câmara Municipal da Covilhã (CMC) instalações que permitissem o funcionamento da academia. A 15 de Março de 2003, a academia conseguiu um espaço inteiramente dedicado a todos os academistas, espaço esse que foi decisivo para que novas actividades surgissem. Até então, os alunos praticavam as actividades em locais cedidos pela Escola Básica do 2º ciclo de Pêro da Covilhã e Escola Secundária Frei Heitor Pinto. Mas o protocolo estabelecido com a edilidade não foi o único. A Universidade da Beira Interior (UBI) também apoiou a academia através de um conjunto de parcerias que promovem a colaboração entre as duas instituições.
Desde que Academia Sénior da Covilhã abriu portas que Ascensão Simões, de 81 anos, faz parte desta família. Licenciada em Ciências Históricas e Filosóficas, dedicou parte da sua carreira ao ensino secundário, na Escola Campos Melo, leccionando a disciplina de História. Nos dias de hoje, Ascensão Simões é reitora e professora na academia. Segundo ela, este espaço tem quatro vertentes importantes: a vertente intelectual, a vertente da luta contra a imobilidade, a vertente artística e a vertente social, características que estão ao alcance de todos e com apenas uma exigência: serem reformados. A reitora explica que o processo de inscrição “é simples, as pessoas só precisam de querer aprender e socializar”.
Foi o caso de Manuel Fernandes que aos 68 anos procurou a academia para “continuar a desenvolver o aspecto mental e para ocupar o tempo livre”. Outrora, Manuel Fernandes ocupava o seu tempo a ensinar Filosofia aos mais novos. Hoje, encontrou na academia uma forma de combater a solidão, através do convívio, da dinâmica social e do desenvolvimento intelectual partilhado por todos os academistas.
Com dez anos de idade, a academia acolhe cerca de 120 alunos com idades que variam entre os 50 e os 80 anos. Estas pessoas procuram, acima de tudo, “promover o seu espírito, adquirir novos conhecimentos e melhorar aqueles que já possuem”. Para isso estão disponíveis diversas disciplinas, que vão desde a História ao Yoga e ao Coro, tratando-se de um regime livre onde cada um procura aquilo que vai de encontro às suas necessidades. Além de adquirirem conhecimentos e para não quebrarem em absoluto a sua profissão antiga, alguns alunos também ocupam o estatuto de professor, num regime voluntário, disponibilizando-se a ensinar aos colegas aquilo que melhor sabem. Na academia não existe nenhum tipo de provas ou diplomas, “é o saber por saber, pois o saber não precisa de ser classificado para existir”, refere Ascensão Simões.
Para integrar esta comunidade as pessoas pagam uma propina de 120 euros por ano, para além da inscrição e de um seguro. É isto que está na base da subsistência da Academia. No entanto, os alunos realizam, ao longo do ano, algumas festas e eventos com os quais angariam dinheiro para despesas e para pagar a uma funcionária que trate de questões de secretariado.
Elsa Filipa, que trabalha na secretaria, recebeu o convite para ocupar este cargo quando estava desempregada. O facto de nunca ter lidado com pessoas desta idade não foi motivo para rejeitar o cargo, admitindo, hoje, que se perguntou a si mesma se se ia sentir bem naquele sítio, uma vez que “se trata de pessoas com uma certa idade, com mudanças de humor e que requerem muita atenção”. No entanto esta experiência “tem sido muito gratificante”. Elsa Filipa, afirma que todas as pessoas são “super simpáticas, atenciosas, carinhosas, o que proporciona uma troca de afectos entre todos”. Para além de profissional, Elsa Filipa considera que a sua relação com os mais velhos é de amizade, afirmando que vê nestas pessoas as suas “avós e uma grande família, deixando de ser apenas uma empregada, o que é muito bom”.
Mas não é só para Elsa Filipa que academia se torna um sítio comum e importante. Também Maria Santos, de 63 anos, escolheu a Academia Sénior da Covilhã para compensar o vazio que a reforma lhe trouxe. Durante 27 anos, Maria foi professora de Português e Francês, e na sequência de uma operação cirúrgica viu-se obrigada a pedir a reforma. No entanto este processo não foi de fácil adaptação, Maria explica que depois de reformada "sentia-se vazia", uma vez que durante muitos anos sempre se sentiu útil e activa. Foi neste seguimento, e também porque foi a melhor forma que encontrou para responder a todos os seus interesses, que surgiu a ideia de se inscrever na Academia.
Agora, Maria frequenta, essencialmente as disciplinas de Inglês e Literatura, confessando que as artes plásticas nunca foram o seu ponto forte. Satisfação é o sinónimo que Maria escolheu para definir a sua entrada na academia, completando que “as pessoas cá dentro são cordiais, amorosas, preenchendo realmente aquele vazio que sentia aquando da reforma”. Passaram dois anos desde que Maria entrou para a Academia e é com prazer que afirma que “este espaço correspondeu inteiramente às expectativas iniciais”, fazendo questão de dizer que no próximo semestre lectivo será também uma das professoras.
Considerada por uns como uma maneira de passar o tempo com prazer, por outros como uma forma de não esquecerem os seus conhecimentos, e ainda por outros como uma segunda casa, a Academia Sénior da Covilhã continua a promover todas as actividades que preencham as necessidades de cada um. Com um horário bastante flexível, das 10 às 12 horas e das 14.30 às 17.30 horas, a academia pretende cada vez mais satisfazer as necessidades daqueles que nela ingressam.