A era da globalização em que vivemos fica marcada pelo aparecimento e multiplicação das grandes superfícies comerciais. A generalização das grandes marcas está em constante expansão o que não permite a individualização de um comércio. A cidade da Covilhã não ficou indiferente a esta realidade, por exemplo tanto encontramos uma "Springfield" nesta cidade, como em Castelo Branco ou Coimbra. Este facto levou as típicas lojas de comércio tradicional a fecharem, ou a disponibilizarem o espaço para ser alugado ou vendido. Desta forma, o mau estado em que se encontra actualmente o comércio tradicional contrasta com o crescente desenvolvimento das grandes superfícies comerciais construídas na cidade.
De que modo pode uma grande superfície comercial ter sucesso quando se instala numa cidade que se caracterizava até há pouco tempo por exercer um negócio tradicional?
Dulce Sena, proprietária da "Florista Rosmaninho" no centro da cidade lamenta que não se invista na zona comercial tradiconal da cidade, "é tudo cidadde nova, as pessoas quando querem adquirir alguma coisa vão imediatamente para o serra shopping, porque na cidade não há nada que os alicie a vir". (ouvir declaração)
Para Dulce a resposta reside principalmente no horário de funcionamento deste tipo de comércio. Como possui uma maior margem de organização e de contratação de empregados, os centros comerciais estão abertos de segunda a domingo com um horário ininterrupto das 10 às 23 horas, enquanto que no comércio tradicional devido aos menores lucros, e consequentemente menos número de empregados as lojas apenas se encontram abertas das 9 às 19 horas. "Os clientes não estão minimamente preocupados como antigamente estavam em agarrar no telefone,' olhe dona Dulce espere ai por mim que eu já vou', eles hoje têm o Serra Shopping e sabem que podem ir depois das 7 e nem sequer se preocupam mais", afirma Dulce Sena.
Carlos Alberto, da loja "Casa Quadrazais" aberta há mais de 50 anos, partilha a opinião de Dulce na medida em que também se queixa da falta de apoios das associações e da Câmara, pois o "comércio antigo está-se a perder, moderno já há muito". "Não posso deixar o antigo pois é uma loja com 50 e tal anos."
A proximidade, também é um factor relevante, dentro do Serra Shopping em poucos metros de distância podemos encontrar várias cadeias de lojas, como Bershka, Pull and Bear, Springfield, entre outras marcas sem necessidade de grandes deslocações, enquanto no centro da cidade as lojas se encontram mais dispersas. Aqui encontra-se um novo problema, a falta de estacionamentos para os clientes. Uma vez que as lojas se situam nas ruas a maioria das vezes é muito difícil encontrar um lugar para estacionar, por exemplo na rua Direita, no centro da cidade, os lugares são apenas de períodos de 15 minutos, assim como é o caso do Mercado Municipal localizado na rua António Augusto de Aguiar, onde há poucos lugares para estacionar e a maioria dos existentes exigem pagamento. Céu Castanheira afirma que o problema está nesta falta de lugares para os automóveis dos clientes, que as grandes superfícies que lhes disponibilizam totalmente gratuitos, completando ainda com a sugestão de oferecer aos clientes, pelo menos aos sábados, os lugares reservados para o Call Center. (ouvir)
Georgina Sardinha e Ana Almeida, empregadas da loja "Benoli," são o exemplo das vantagens que podem surgir com a transferência de uma loja de uma zona de comércio tradicional para um centro comercial. O espaço "Benoli" esteve aberto ao público durante 10 anos no centro da cidade e hoje localiza-se dentro do Serra Shopping. A maior quantidade de clientes, a facilidade de estacionamentos e as compras por impulso geradas pela quantidade de lojas são as principais razões que as levam a considerar a estadia dentro de um Shopping mais rentável que na zona alta da cidade. (ver video)
Muitos não se importam com os horários exigentes do centro comercial e consideram que são compensados pelas vendas, como é o caso de Susana Catoeiro, (ouvir declaração) empregada da loja "Fumeiro da Estrela" considera que o facto de existirem mais lojas à volta da sua pode trazer mais clientes pois muitas vezes as pessoas não se deslocam ao centro comercial para ir ao seu espaço mas acabam por faze-lo.
São opiniões como esta que estão a transformar as formas de fazer comércio. Os centros comerciais, e a correspondente concentração de lojas, facilitam a vida aos clientes e vendedores de uma maneira que o comércio tradicional não consegue. O antigo está a cair em desuso e as novas superfícies estão a crescer de uma maneira que não irá ser facilmente reversível.
No entanto, ainda existe quem não as veja como ameaça, uma das excepções é uma oficina de calçado no centro da cidade. Visto ser um tipo básico de comércio, no entanto, é muito procurado pelos cidadãos, o seu sapateiro afirma que a loja não teve prejuízos na área económica depois da chegada das grandes superfícies comerciais à cidade e rejeita a ideia de algum dia vir a trabalhar num shopping, pois na sua opinião relativamente à sua área de trabalho, as pessoas continuam a preferir o tradicional ao massificado. Ou seja, neste caso, nenhum peixe grande come o pequeno, é como David ter derrotado Golias. (ouvir declaração)