Urbi: Depois de já ter feito parte da antiga direcção, porque decidiu encabeçar esta candidatura?
Lénia Pereira: Concorri para não deixar morrer a associação académica, porque ninguém se interessou, e chegámos mesmo a ser lista única. Isto demonstra a falta de interesse dos alunos pela associação.
Urbi: A situação da AAUBI tem vindo a agravar-se de ano para ano. Como está actualmente?
Lénia Pereira: Neste momento temos dívidas que rondam os 70 mil euros, que estão a ser regularizados, mas o problema é que não temos dinheiro para as pagar no imediato. Pelo que sei, a antiga direcção de Pedro Venâncio deixou cerca de 40 mil euros na associação, logo estas dívidas correspondem ao ano de 2010. Mas na próxima quinta-feira, dia 20 de Janeiro, pelas 21 horas, no edifício da Assembleia Municipal da Covilhã, haverá uma AGA, onde espero que Rui Garcia apresente as facturas relativas ao ano que passou para fazermos o relatório de contas. Ele pode ter comprovativos que mostrem onde gastou esse dinheiro, esta situação não tem necessariamente de ser fruto de uma má gestão dos recursos.
O elevado montante que a associação tem em dívida reporta-se a despesas da Recepção ao Caloiro de 2010, facturas com as Finanças, Segurança Social, dívidas da ACT, TMN e Nespresso. Também temos o nosso bar fechado para obras, que pararam por ainda não se ter pago a primeira prestação, ou seja, o bar sendo a nossa maior fonte de rendimento necessita de ser aberto com a máxima urgência para podermos começar a fazer dinheiro, principalmente para poder pagar os salários em atraso dos funcionários.
Urbi: O que pretendem alterar neste mandato?
Lénia Pereira: Em primeiro lugar o mandato é para ser levado até ao fim, contra tudo e contra todos. Toda a equipa está também empenhada em pagar todas as dívidas que temos entre mãos.
Urbi: O facto de estar envolvida no Conselho Geral e na AAUBI foi uma estratégia?
Lénia Pereira: Foi, claramente. É útil termos alguém da Associação Académica no Conselho Geral, porque muitos dos problemas que nos chegam aqui, muitas vezes, não chegam lá. Então, se tivermos alguém da Associação Académica no Conselho Geral, aí os problemas vão ser do conhecimento dos órgãos onde a AAUBI está presente.
Urbi: Acredita que a situação da AAUBI vai mudar? Acha que a Associação vai voltar a ser uma casa como era antes?
Lénia Pereira: Claro, vamos lutar por isso. Não quero que a associação seja só vista como uma casa de festas, aquilo que quero, é de uma vez por todas acabar com a ideia que isto é uma casa de fazer festas. Queremos sim voltar a ter um espírito académico como há uns anos.
Agora quero mostrar que somos capazes de fazer muito mais do que festas, e tanto somos capazes que já criámos o banco de voluntariado, só falta assinar os protocolos com as instituições. Vamos tentar definir se vai haver formação para os tesoureiros e tentar estabelecer um protocolo com uma instituição do Fundão para promover cursos de socorrismo. Queremos dar aos alunos a oportunidade de participarem em várias formações, umas gratuitas, outras financiadas.
Se chegar ao final do meu mandato e deixar esses 70 mil euros pagos, o meu trabalho está cumprido. Mais do que fazer qualquer tipo de actividade, o meu principal objectivo é pagar este montante.
Urbi: Gosta de tudo bem esclarecido sobre a associação?
Lénia Pereira: Toda a equipa está aqui pelos alunos portanto eles são os primeiros a saber de tudo. A transparência é uma das marcas da nossa actuação e é isso que quero passar lá para fora. Se devemos 70 mil euros, porquê ter vergonha de dizer que devemos 70 mil? Há que assumir os erros, não posso garantir que este ano tudo vá correr bem, possivelmente há coisas que não vão correr bem. Relativamente ao que correr mal, vou estar aqui para assumir as responsabilidades.
Urbi: E como está a ser organizada a Semana Académica?
Lénia Pereira: Por mim a semana académica não se fazia, mas não posso pensar só em mim. Não a fazia neste sentido: sei que é fundamental e que todos gostam da semana académica, mas seria no caso de pensar em pagar estes valores e a semana académica passaria a ser secundária. Já reunimos, já chegámos a um consenso e vamos fazer a semana académica, tal como sempre foi. No entanto, em vez de termos duas bandas por dia como tem acontecido, vamos optar só por uma e dar preferência às bandas de garagem da nossa cidade assim como djs. Vamos dar oportunidade a que eles se lancem e isto também vai ser bom para nós em termos de custos.
Urbi: E vocês têm a certeza que Associação consegue levar para a frente a Semana Académica?
Lénia Pereira: Conseguimos. Quando se faz uma iniciativa destas tem de se ter a certeza que se não existir lucro, pelo menos não se crie prejuízo. É preciso dar oportunidade aos núcleos de participarem, quero que estejam presentes nas nossas actividades, porque eles fazem parte desta casa.
Urbi: Não sente que o facto dos alunos estarem afastados da Associação pode prejudicar aqueles estudantes que necessitem da vossa ajuda?
Lénia Pereira: Até agora não recebemos qualquer pedido de ajuda. Recebemos dois ou três mas foi relativamente a problemas com as propinas (atrasos nos pagamentos), mas não pudemos fazer nada pois o prazo legal de pagamento tinha de facto acabado. De resto mesmo com estes problemas todos das bolsas não temos recebido nada.
Vamos tentar aproximarmo-nos dos alunos quer através de publicações, quer através de fichas que serão entregues aos núcleos, e assim, os pedidos de ajuda para qualquer problema poderão ser enviados por escrita ou resolvidos pessoalmente na Associação. Se essas pessoas vierem ter connosco nós conseguimos encaminhar o caso para a reitoria ou para os serviços sociais, mas têm de nos procurar.
Sabemos que há situações de alunos a quem não foram atribuídas bolsas por terem trabalhado em anos anteriores devido às declarações de IRS e isso para mim é mais do que injusto. Quando os alunos se sentem desfavorecidos ou prejudicados devem procurar-nos porque não queremos ver um aluno abandonar os estudos simplesmente porque não tem possibilidades para isso.
Urbi: Considera que a AAUBI tem falta de um espírito reinvindicativo para alterar esta situação?
Lénia Pereira: Talvez. Pretendo revolucionar no bom sentido, pois quero lutar pela sobrevivência da Associação Académica. Aquilo que mais quero é lutar pelos alunos, para que tenham melhores condições. Estou cá por eles, esse é o primeiro ponto. Se não existissem alunos eu também não estava aqui e quem vota nas equipas para a AAUBI são eles, portanto, quero zelar pelos interesses dos estudantes. Agora, eles têm de nos dar uma oportunidade para isso. Se eles nos procurarem, aí faremos todos os possíveis para levar os seus casos seja até onde for.