Nos últimos anos foram orientados, em teses de mestrado e doutoramento, mais de cem professores do ensino básico e do secundário, no Departamento de Letras da UBI. Trabalhos que permitiram aos autores, segundo Graça Sardinha, docente e orientadora de várias teses”levar daqui novas metodologias cuja aplicação é necessária quando se fala na leitura”.
Conhecidos os resultados da mais recente avaliação do Programme International Student Assessment – programa que avalia o desempenho escolar dos alunos de 15 anos nos países da OCDE em áreas como a literacia em leitura, em matemática e em ciências “conseguimos um lugar bastante confortável, relativamente aos nossos parceiros europeus”, adianta a mesma docente. Para Graça Sardinha, estes resultados devem-se também “ao trabalho que está aqui a ser desenvolvido”. Trabalhos produzidos em torno da leitura, da sua promoção e compreensão, na definição do papel do leitor e em formas de abordagem de leitura das obras. “Recorde-se que anteriormente nem se falava na compreensão em leitura, esta era vista de uma outra forma”, diz. Esta é uma área nova onde o Departamento de Letras apostou “ e tem tido um crescimento surpreendente de alunos”. Algo que atesta bem o trabalho desenvolvido na academia beirã, reitera.
Às novas práticas de leitura promovidas pela academia junta-se um conjunto de factores, entre eles “o Plano Nacional de Leitura, as bibliotecas, mais especialmente as bibliotecas escolares e os espaços comuns de leituras e literacias de apoio à actividade lectiva”. Aspectos que vieram também contribuir decisivamente para que os bons resultados se verificassem também em matemática e nas ciências.
O papel do Departamento de Letras na formação de professores, “quer na formação inicial de professores, licenciados e profissionalizados, que daqui partem ano após ano, de há alguns anos a esta parte, passando por docentes de todos os graus de ensino, desde educadores de infância, a professores do 1º, 2º, 3º ciclos e ensino secundário, oriundos de todo o País”, acaba por ser decisivo nestes resultados. Graça Sardinha esclarece que “seria algo irrealista pensar que as soluções apontadas, nestes trabalhos, são simples e definitivas, mas ao longo destes anos, identificaram-se factores implicados no sucesso e insucesso dos alunos para, posteriormente, se apostar em estratégias de intervenção variadas e eficazes”.
Esta docente garante que não são muitos os especialistas nacionais em leitura e compreensão. Esta parece ser, aliás, uma área de tal forma nova que até tem tido alguma dificuldade em cimentar-se. Mas neste âmbito “há que frisar que a sociedade está em mudança, a própria escola está em mudança e são necessários especialistas nesta área do conhecimento e a prova está precisamente no trabalho deste Departamento”. Um trabalho onde “nem tudo passa por literaturas mais “cinzentas”, mas por aquelas que são próximas aos profissionais de ensino, com as quais trabalham diariamente nas suas escolas, na sua praxis lectiva. Os resultados que agora foram anunciados acabam por ser um reflexo do que aqui é feito”, defende a docente.