“Um Funeral à Chuva” arrecadou três prémios num conhecido festival de cinema luso "Caminhos". O filme realizado pelo antigo aluno da UBI, Telmo Martins e que conta a história de um grupo de jovens que frequentaram a academia, acabou por ser distinguido com o prémio “Melhor Longa Metragem”, “Prémio Imprensa” e "Prémio Público.
Três importantes contribuições para o filme e a produtora instalada na Covilhã. Telmo Martins fala sobre o impacto desta longa-metragem e das novas actividades que está a desenvolver.
Urbi@Orbi – Muito já foi dito de “Um Funeral à Chuva”, sobretudo por quem viu o filme. E o realizador, como descreve este trabalho?
Telmo Martins – Este não é um filme autobiográfico, embora algumas das coisas que ali são retractadas me aconteceram, mas a mim e à maior parte dos estudantes universitários.
O filme acaba por falar de toda essa vivência própria de uma academia. Períodos em que se criam relações muito fortes que de um momento para o outro se estilhaçam com a velocidade da vida, a partida das pessoas para locais diferentes., etc. Depois começam as rotinas normais de ter um emprego, casar, ter filhos e tudo isso leva a colocar em segundo plano essas amizades que foram importantes.
Urbi@Orbi – Como foi a aventura de rodar uma longa-metragem na zona da Covilhã?
Telmo Martins – Fazer um filme é sempre uma aventura, em qualquer lugar. Aqui tivemos isso algo agravado. Toda a produção que envolve é uma grande máquina, termos 50 pessoas a trabalhar diariamente, durante 12 horas, é complicado. A isto juntou-se o facto de não termos dinheiro, ou os nossos recursos serem deveras limitados. Daí que tudo o que se faça fique, inevitavelmente, aquém do que poderia ter sido feito se houvessem outras condições.
O filme foi feito muito graças à ajuda de um grande número de pessoas que apoiaram directa e indirectamente. E ainda bem que assim foi, porque penso ter sido este o melhor caminho a seguir para fazer um segundo em melhores condições. Penso que foi necessário provar que era possível fazer alguma coisa sem dinheiro para nos darem financiamento.
Urbi@Orbi – Todas essas dificuldades acabam por ser agora recompensadas com os sinais positivos que o filme tem tido, ou não é dessa opinião?
Telmo Martins – Qualquer obra deste tipo, quer seja um livro, quer seja um filme, qualquer obra cultural que esteja exposta à opinião do público, está sempre à mercê de críticas boas e más. Isso é inevitável e sempre o será.
Este filme acabou por ter muito boas críticas de muita gente e tem agora também prémios atribuídos por júris que atestam a sua qualidade. Mas também serviu para abrir muitas portas e principalmente levou a que o nosso nome passasse a existir perto das pessoas que nos interessavam e que até então desconheciam a nossa existência.
Urbi@Orbi – Com todos estes sinais já pensou nos futuros trabalhos, agora mais apoiados?
Telmo Martins – Concorremos ao ICAM, o trajecto tem mesmo de passar por aí, com uma curta-metragem, que é aquilo que queremos fazer agora. Quero que esse trabalho seja mesmo um ponto de viragem, de fazer algo. Não quer isto dizer que o que foi feito até aqui não estava de acordo com o que pensava. Mas tudo tem sido feito sem o dinheiro e o tempo suficientes para poder fazer um trabalho de grande qualidade.
Sem estar a querer dizer mais do que é possível, é nosso objectivo, da Lobby Productions, esperar e acreditar que nos vão apoiar neste projecto, com um guião baseado num conto do Pedro Paixão e conseguir levar esta curta-metragem a Cannes. Penso que tem potencial para isso e julgo que, se for apoiado, se tiver dinheiro, isso é possível.
Urbi@Orbi – Que mais pode dizer sobre essa produção?
Telmo Martins – É um trabalho muito elaborado e envolve coisas muito específicas e delicadas e a nível artístico é preciso dinheiro para as conseguir. Por exemplo, em decors, quando não há dinheiro vai sendo retirada uma coisa daqui, outra dali. Neste caso, quando o orçamento assim justifica permite que esteja com um profissional a desenhar o cenário e que o faça como eu quero, estar com um director artístico, desenhar um espaço exactamente como eu quero e esse espaço ser replicado como está previsto. Quando não há dinheiro é sempre complicado de fazer isso.
Urbi@Orbi – E na mente do realizador, essa curta-metragem já está em andamento?
Telmo Martins – Há sempre um esboço, pelo menos do ambiente e do tipo de personagens que quero, mas falta muito. É um trabalho bastante complexo, adulto, que fala de temas pesados en que é preciso muito trabalho de pré-produção com director de fotografia, com director artístico, fazer casting’s com actores para encontrar aqueles que penso serem os ideais para este trabalho.
É uma produção arriscada e exigente, e por isso mesmo, a escolha dos intervenientes vai ser fundamental, não só por serem papéis difíceis, mas também maduros, que envolvem nus, por exemplo e coisas que são muito intrínsecas ao ser humano e é preciso entender se o actor lá consegue chegar ou não.
Para além deste trabalho mais próximo, existem já projectos complementares.
Todo o grupo está empenhado na escrita de guiões para duas longas-metragens. Depois da realização e apresentação da curta, logo se faz o balanço também desses dois projectos.
São filmes que também contam com a região como cenário?
Um filme pode ser feito em qualquer sítio, se o espaço físico da Covilhã se adequar aos dois projectos, claro que vamos filmar na Covilhã. Não fazia sentido o “Funeral à Chuva” não ser rodado na Covilhã. Noutras produções onde a história se encaixe com a realidade física darei sempre prioridade à Covilhã.
Urbi@Orbi – Para onde caminha o “Funeral”?
Telmo Martins – Vamos continuar a concorrer a festivais, esperar que saia em formato DVD e posteriormente procurar colocá-lo em distribuição noutros países.