Foi com casa cheia que o auditório do Teatro das Beiras, recebeu na passada noite de sábado, 20 de Novembro, o espectáculo “ONNI – Objecto Náutico Não Identificado”. Esta peça de John Mowat, encenador inglês que trabalha regularmente em Portugal, estreou em Setembro no MITO – Mostra Internacional de Teatro de Oeiras - e retrata o momento histórico do descobrimento do Brasil.
De um modo lúdico e cómico, “ONNI” despertou no público uma reflexão acerca de um momento glorioso da história portuguesa. Além do lado criativo como a história é retratada em palco, também o elenco multicultural, constituído por uma actriz cabo verdiana, Cíntia Lopes, uma actriz portuguesa, Maria de Vasconcelos, e um actriz brasileira, Valéria Carvalho, transporta-nos para uma época de expansão e colonização, liderada por Pedro Álvares Cabral.
"É como se nos colocássemos na pele dos índios, perceber o descobrimento das terras brasileiras mas numa perspectiva indígena”, introduz Valéria Carvalho, a actriz brasileira popularmente conhecida entre os espectadores portugueses. Segundo esta, a principal mensagem a reter desta reconstituição histórica é que “não existem vítimas, nem vilões, é como se a natureza humana tivesse a sede de escravizar, a sede do poder e a sede da ganância”. Para o elenco de “ONNI” concluir o Festival de Teatro da Covilhã foi “uma grande felicidade” mas também “uma grande responsabilidade”, salientam.
A edição do festival de teatro de 2010 contemplou o público com 21 espectáculos, dos quais 14 foram direccionados à infância e juventude, programação realizada há cerca 15 anos. Fernando Sena, director artístico do Teatro das Beiras, relevou que o certame “decorreu dentro do que estava planeado e os espectáculos sucederam-se tranquilamente”. “Trinta anos a organizar o festival dá-nos uma força e uma forma de trabalhar que posteriormente não traz grandes surpresas na realização do evento”, considera o director.
Este evento cultural da Beira Interior possibilitou ao longo de 30 anos que várias companhias nacionais tivessem a oportunidade de mostrar o seu trabalho ao público covilhanense. Retrocedendo a um passado onde foi economicamente difícil realizar o festival, Fernando Sena falou das maiores dificuldades na organização, declarando que “o espaço limitado da sala” e o “orçamento disponível” são dois dos obstáculos que a companhia ultrapassa ano após ano. “Acima de tudo nestes 30 anos adaptamos o figurino do festival às condições que tínhamos, fossem elas económicas ou físicas”, realça. O director agradece a todas as pessoas que visitam o teatro, declarando que “ o público tem sido o grande motor e o grande estímulo para continuar a organizar o festival”.