Nos dias 19 e 20 de Novembro decorreu na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior (FCSH-UBI) o Encontro Nacional de Sociologia da Saúde, centrado em Práticas de Debate.
A área de Sociologia da Saúde em Portugal foi constituída como uma secção autónoma da Associação Portuguesa de Sociologia (APS) há cerca de um ano, e tal como explica Amélia Augusto, docente de Sociologia na UBI e membro da Comissão Organizadora do evento, “quando a secção foi construída apercebemo-nos rapidamente que esta não passaria apenas de uma intenção ou de um grupo de pessoas se não se promovesse a divulgação da Sociologia da Saúde e a sua reflexão”. A docente refere que “a falta de oportunidade e lugares de debate, foi motivo para que o evento não tivesse já ocorrido” e ainda que o objectivo deste Encontro Nacional assenta na “promoção de um espaço para a troca de experiências e reflexibilidade, em torno do estado actual da Sociologia da Saúde, dos dilemas e controvérsias do ensino desta área que é muito importante, tanto no âmbito da Sociologia como no das Ciências da Saúde. Estas podem beneficiar-se conjunta e mutuamente, perspectivando caminhos futuros”.
Em nome da Comissão Coordenadora de Secção de Sociologia da Saúde, Noémia Lopes, anuncia na abertura do evento, algumas alterações na programação do Encontro, não previstas e ocorridas à última da hora, por motivos pessoais de docentes implicados na sua apresentação. Agradecendo a participação de todos os intervenientes no evento, Noémia Lopes divulgou ainda percentagens significativas referentes ao número de inscrições que se registaram para o Encontro. “Dois dias antes do evento, surgindo depois disso novas inscrições, obteve-se um total de 77 inscritos, 43% dos quais são de docentes do ensino superior ou investigadores ligados à área de Sociologia, 34% são estudantes de Sociologia, quer de licenciatura quer de mestrado, e 23% são enfermeiros, médicos, assistentes sociais e outros técnicos superiores de Sociologia da Saúde”, uma génese que diz “ultrapassar o contexto académico”.
Os problemas que se colocam no ensino de Sociologia não são independentes das características do aluno. Como defendeu David Tavares, membro da Comissão Organizadora e conferencista na primeira mesa, “O ensino da Sociologia em Cursos da Saúde: das boas práticas às boas teorias”, por vezes os alunos são “pessoas com menor apetência em Sociologia, uma vez que são muitas as que vieram e vêm de Cursos Tecnológicos do ensino secundário, com disciplinas como a Biologia e a Matemática”. A este problema acrescem ainda “obstáculos subjacentes”, relacionados com “uma imagem pré-concebida e desfavorável que muitas vezes é incutida aos alunos da área de Sociologia”.
Felismina Mendes, também conferencista na primeira mesa e docente de enfermagem, fala da Sociologia da Saúde em enfermagem enquanto “território conquistado e contestado”. A docente adverte que “os autores sociológicos que olham com desconfiança para a Sociologia da Saúde nos cursos de Saúde, argumentam que a natureza do conhecimento sociológico é inerente, multi-paradigmático e, consequentemente, reflexivo, não podendo ser provido de princípios orientadores para a prática clínica”. Constata ainda que “aqueles que dominam o universo da saúde, fundamentam as suas desconfianças face à Sociologia da Saúde a partir da natureza inerentemente crítica do seu conhecimento”.
De acordo com Amélia Augusto, o evento “adquire extrema importância para a universidade já que o primeiro Encontro Nacional de Sociologia da Saúde se realizou em 1985 em Lisboa”, atribuindo-lhe um papel importante, enquanto espaço de promoção, debate e reunião de uma comunidade científica que envolve docentes, investigadores e profissionais do sector produtivo da Sociologia da Saúde e alunos da área. Para esta docente “é fundamental que os alunos oiçam novas perspectivas e alarguem o seu campo de visão sobre o que está a ser feito em Portugal neste campo da Sociologia”.
Amélia Augusto espera que o evento, sob a forma de actividade extra-curricular, motive os alunos em termos de aprendizagem, garantindo que “este vale mais do que muitos semestres inteiros de aulas”. Ana Lopes, aluna de Sociologia, diz ter ficado bastante satisfeita com estas práticas de debate e que “foi meritório poder estar na presença de investigadores cujos nomes constam nos livros de estudo”. Ainda assim diz ter tido “muita pena por não ter ouvido António Firmino da Costa”, um dos conferencistas que não pôde estar presente no evento.