No próximo mês de Outubro o Edifício das Engenharias vai servir de palco para uma das mais importantes reuniões científicas no domínio do urbanismo. Trata-se de um congresso ibérico, organizado pela Associação Profissional de Urbanistas e pela sua congénere espanhola, onde são esperados mais de 200 académicos, investigadores, autarcas, empresários e juristas que trabalham neste tema. O evento está marcado para os dias 27, 28 e 29 de Outubro de 2011.
Este evento bianual nunca tinha decorrido no interior do País. Um facto que Ana Virtudes, docente da disciplina de Urbanismo no DECA, estranha. Até porque, “a Covilhã está num ponto central entre a zona litoral de Portugal e toda a Espanha”. As condições disponibilizadas pela academia covilhanense e os trabalhos que são desenvolvidos na instituição parecem ter sido factores também levados em conta pela organização.
Ana Virtudes começa por explicar que este encontro ganha maior importância “num tempo em que existem diferentes matérias de debate nesta área”. Com a crise do imobiliário, com as cidades a crescerem “nem sempre da melhor forma”, é cada vez mais necessário “discutir estes pontos e desenhar passos futuros”. Ainda sem tema central, um dos aspectos que irá ser abordado “é o da criação de uma Ordem dos Urbanistas”. Ana Virtudes, há já vários anos que faz parte da Associação Profissional de Urbanistas e explica que a criação de uma ordem profissional nesta área é um aspiração antiga “das várias associações portuguesas desta área”. O projecto está já na Assembleia da República “e devem existir novidades em breve”.
Para a docente, esta reunião científica irá abordar, “pela primeira vez”, um tema que preocupa cada vez mais o sector. Trata-se “da reabilitação de espaços urbanos que nunca foram usados”. Um tema que começa a preocupar cada vez mais todos os que planeiam os espaços urbanos. Ana Virtudes aponta vários exemplos de uma realidade que se ampliou com a crise do sector imobiliário. “Em Espanha existem urbanizações inteiras, bairros de casas novas que nunca foram usadas”, construções que “não vão ser vendidas nos próximos tempos e para que sejam vão ter de ser recuperadas, actualizadas”, refere. A docente de Urbanismo lembra que este fenómeno acontece um pouco por todo o lado. Veja-se o caso da Covilhã, “na zona onde foram construídas algumas das mais recentes estruturas existem prédios completamente desabitados ou inacabados”. Um problema de gestão do território “para o qual este tipo de reunião de trabalho pretende dar algumas soluções” avança. Para que se tenha uma ideia da dimensão do problema “em Espanha existe 1 milhão e meio de novos fogos que nunca foram vendidos, habitados, ocupados, e nunca vão ser vendidos, ou isso apenas vai acontecer quando, por incrível que pareça, sejam remodelados”. A temática da reabilitação, mais associada aos centros históricos das cidades, passa agora a englobar novas áreas.
A reunião que decorrerá na UBI poderá também servir para conceber algumas mudanças no cenário português, um País de 10 milhões de habitantes, “onde se estima que exista a possibilidade legal de construir imóveis com capacidade para albergar 30 milhões de pessoas”.
João Lanzinha, vice-presidente da Faculdade das Engenharias, sublinha a importância da realização deste evento na Covilhã. Para o docente e investigador, “esta é uma oportunidade de fomentar novas plataformas de partilha de trabalhos e investigações, quer com entidades nacionais, quer com instituições estrangeiras”. Ter a oportunidade de organizar um evento de carácter internacional “é uma mostra das nossas capacidades, mas também das nossas ambições”, diz Lanzinha.
O urbanismo é um tema central que aborda os espaços habitáveis, a relação deste com o próprio ambiente, as próprias infra-estruturas e território, no sentido de ter qualidade de vida e de organização dos espaços de vivência e de relação com o meio ambiente.