Estreou no auditório do Teatro das Beiras na passada sexta-feira, dia 12 de Novembro, às 21.30 horas. Foi de modo suave e hilariante que a encenação propôs, a um público atento, situações que retratam os “estragos da indústria farmacêutica na nossa sociedade actual” referindo pontualmente episódios de finais do século XIX, numa tentativa de contextualização no tempo e no espaço.
Com o intuito de levar os espectadores a tirar as suas próprias ilações, alertar o cidadão mais distraído e ao mesmo tempo animar toda esta situação, três actores; Sérgio Agostinho, Noelia Domínguez e Ángel Fragua desdobraram-se em diversas personagens. Atribuíram aos medicamentos, vistos como os “remédios santos” dos tempos que correm capazes de salvar vidas ou melhorar a nossa qualidade de vida, um significado que os reduz a meras substâncias químicas nocivas. “Morre-se mais de efeitos secundários de substâncias químicas do que de acidentes de viação” advertiu uma das personagens. Satirizou-se também o uso exagerado de medicamentos, por exemplo para curar uma simples dor de cabeça.
Foram ainda retratadas situações do quotidiano: aqueles que preferem recorrer à medicação, outros que sofrem com os efeitos e preferem não medicar-se, o tema das crianças com hiperactividade cada vez mais frequente e que ninguém parece saber resolver. Ficou demonstrada uma perspectiva diferente sobre os medicamentos que funcionam como “droga”, onde os efeitos secundários de alguns intervêm directamente no modo de estar das pessoas e na sua personalidade, como a depressão e a sonolência que nos fazem perder o interesse pela vida. “A nossa sociedade está cada vez mais triste, ansiosa e medicada” lamentou-se uma personagem.
Deixam no ar alguma margem para dúvidas se não será por vezes benéfico procurar “alternativas mais saudáveis”. Um espectáculo marcado pela inovação do tema em enfoque, pela versatilidade dos três actores em representar diversas personagens num curto espaço de tempo e em cenários diversos. Dirigido por Hernán Gené e produzido pela Peripécia Teatro, companhia transnacional, cuja encenação deliciou o público oferecendo momentos de riso quase incessantes. Rir foi sem dúvida remédio santo.