Desde Luís de Camões a Saramago, da figura do “Zé Povinho” à Padeira de Aljubarrota, passando pelos Descobrimentos, pelo Fado, Fátima e até o futebol, muitas são as “imagens de marca” da identidade portuguesa. Um tema que nem sempre está na agenda temática da sociedade civil, mas que nem por isso deixa de ser importante.
José Ricardo Carvalheiro, docente do Departamento de Artes da UBI, foi um dos organizadores do encontro que debateu a temática da portugalidade. Para este investigador social, trata-se de um tema vastíssimo que conta com múltiplas definições e que por isso mesmo, acaba por ser um conceito “que não se pode resumir em duas ou três pinceladas”. As jornadas que se desenrolaram ao longo de dois dias serviram de motivo a uma apresentação multidisciplinar do que é o sentimento de pertença a Portugal. Literatura, Cinema, Pintura, Jornalismo, entre outros, foram campos de estudo apresentados por investigadores das respectivas áreas.
No entender do organizador do evento uma das principais conclusões deste seminário acaba por ser “a garantia de que não existe um problema na identidade portuguesa e na consciência de ser português, no sentimento de pertença”. José Ricardo Carvalheiro chega mesmo a dizer que “porventura até existirá em demasia. Há quem aponte isso como o problema português”, acrescenta o também director do 1º Ciclo em Ciências da Comunicação.
Com o decorrer dos trabalhos, no Anfiteatro da Parada e também na Sala dos Conselhos, localizados no Pólo I da academia covilhanense, a portugalidade ou o sentimento de ser português foi “dissecado” em diversas vertentes. Contudo, em todas as áreas sociais, a ligação das pessoas ao País parece estar de boa saúde. A multiplicidade de formas de expressão da portugalidade “cria dificuldades na tentativa de definir o que é a portugalidade, porque é algo de mais complexo do que se possa imaginar originalmente”. O docente da UBI exemplifica com o facto de “existirem portugueses para todos os gostos, para todas as formas e feitios, e portanto, havendo características colectivas, elas não são tão evidentes como por vezes se possa pensar”.
Apesar de existirem diferentes de formas do sentir português, a problemática visível noutros países não parece estar presente em solo luso. Segundo os principais intervenientes, das diferentes áreas, Portugal tem criado múltiplas imagens de si mesmo, mas ainda assim, tem conseguido manter algumas características únicas que levam os seus cidadãos a identificarem-se com o seu País. Ao contrário de outras nações “que têm no seu território zonas com intentos separatistas, em Portugal chega até a existir o contrário, se cada região se conseguir afirmar como a mais portuguesa terá maior gosto nisso”, acrescenta o investigador social. Daí que se possam identificar várias maneiras de sentir a portugalidade, “e todas elas têm a sua força”.
Todavia, Carvalheiro aponta também para o facto de existirem alguns sectores da sociedade portuguesa, hoje, “que têm a ver, por exemplo, com grupos minoritários, com grupos de emigração, que não estando completamente integrados, sobretudo porque a sociedade não lhe proporciona boas condições para isso, têm menos esse sentimento de pertença. Ou então duvidam que sejam aceites e não se permitem ver a si próprios como portugueses a cem por cento”.