Após uma ante-estreia realizada em Julho, “Gota a Gota”, um teatro visual com conteúdo multimédia, abriu novamente ao público para uma estreia que começou na passada quarta-feira, pelas 21h30, e se prolongou até ao dia 23 de Outubro.
O projecto recentemente criado pela Quarta Parede, Associação de Artes Performativas da Covilhã, “pretende sublinhar a importância de um bem essencial, a água”, através da junção de diversas disciplinas artísticas como o teatro, a música e o vídeo.
Sílvia Ferreira, membro da Quarta Parede, explica que a peça interactiva apresentada “assenta na reflexão e procura de situações contemporâneas, de relação com este bem vitalício, que denunciam sobretudo o desperdício da água na actualidade e o modo como as pessoas vêem e se relacionam com ela”.
Para Rui Sena, director da Quarta Parede, interessa que o espectáculo “consiga transmitir ao público uma mensagem de responsabilidade em relação aos grandes desafios que a humanidade terá de enfrentar no futuro”. Trata-se de uma mensagem “não objectiva, uma vez que o teatro deixa no ar perguntas às quais cabe ao espectador dar respostas”, refere Rui Sena.
Este trabalho da Quarta Parede reporta-se não só ao desperdício da água, mas também a questões que dizem respeito à sua exploração, à escassez, seca, inundações, e aos problemas de contaminação da água. O estabelecimento de uma harmonia existente entre a natureza e o ser humano, deturpada pela progressiva introdução da mecanização no ciclo da água, indispensável à vida, é outra das preocupações deste espectáculo.
Rui Sena salienta que “apesar da introdução da tecnologia para a domesticação da água ter trazido bens imensuráveis à humanidade, o homem sempre teve dificuldade em se relacionar com bens que a princípio são ou foram gratuitos”. Realça a importância de medidas para a preservação da água e aponta para a urgência, cada vez maior, de “se olhar para a água como um bem da humanidade em vez de um fim económico para os grandes grupos”.
Além de usar uma linguagem do teatro visual, do cinema de animação e da sonoplastia, os objectos que compõem o espectáculo são de uso quotidiano (guarda-chuva, cana de pesca, mangueiras…), objectos infantis (peixes de plástico, barcos de papel…) e alguns de valor afectivo. “Os objectos espalhados pelo chão pretendem funcionar como paisagem e é através deles que se constroem pequenas histórias, feitas a partir de vários sketches”, afirma Sílvia Ferreira.
Em “Gota a Gota” está patente o predomínio da imagem, produzida sobre o palco e em vídeo, relativamente à palavra. Rui Sena explica que a Quarta Parede, nas suas criações tende a criar um mundo cada vez mais visual “para chegar a um número maior de pessoas”. Destaca ainda que “é possível passar uma mensagem importante sem que seja empregue o texto falado”.
Satisfeito com o espectáculo e sensibilizado para a poupança da água e problemas ambientais globais, Luís Amoreira, um dos espectadores, diz que a peça de teatro se revelou “interessante e visualmente bonita”.
Este espectáculo, interpretado por Maria Belo Costa e Sílvia Ferreira, não se cinge ao Teatro das Beiras e à Covilhã, pelo que será apresentado na Guarda, em Novembro deste ano, no Fórum de Empreendedorismo Ibérico.