Urbi@Orbi - Como vê o seu regresso à sua “cidade natal”?
Bruno Borralhinho - É sempre com grande alegria que toco na minha cidade-natal, por aquele sentimento tão único do "regresso a casa", pela família, amigos e conhecidos que sei que vão estar presentes e que sempre acompanharam o meu trabalho.
Urbi@Orbi - O que espera desta actuação na UBI?
Bruno Borralhinho - Tenho a certeza que vai ser um recital muito interessante e naturalmente que sinto uma honra especial por realizá-lo numa "casa" tão importante e prestigiada. Como qualquer covilhanense, cresci com a UBI mesmo ali ao lado e espero poder transmitir em palco todo o prazer que tenho em abordar este recital.
Urbi@Orbi - Como vai ser o concerto e porquê os temas escolhidos para esta actuação?
Bruno Borralhinho - O recital incluirá duas Suites para Violoncelo-Solo de Bach, que serão intercaladas com a Sonata para Violoncelo-Solo de Ligeti. São estilos obviamente muito diferentes mas é curioso observar e descobrir as semelhanças que existem entre obras compostas a uma distância que supera os 200 anos. Gosto de interpretar programas variados e contrastantes e, neste caso, considero que pode ser interessante provocar ao público este enfrentamento entre um compositor como Bach, que dispensa apresentações, com uma obra de um dos compositores mais importantes do século XX.
Urbi@Orbi - Como vê a cidade e a região no que diz respeito à criação e acompanhamento de jovens talentos?
Bruno Borralhinho - A criação é certamente muito boa e vemos permanente aparecer jovens talentosos em vários campos, para não estar só a falar de música ou de arte. O problema vem depois no acompanhamento, mas não considero que seja um problema da cidade ou da região. As dificuldades são evidentes à escala nacional e qualquer um destes jovens talentosos sabe como é difícil conseguir apoios para, por exemplo, prosseguir uma formação no estrangeiro. Além disso deveríamos poder dar mais atenção aos jovens que talvez não são tão talentosos, mas que à custa de muito trabalho têm tantas ou mais possibilidades de chegar tão longe como os outros.
Urbi@Orbi - E as escolas de música e artes, como a EPABI, qual a sua opinião sobre as mesmas e como se têm desenvolvido?
Bruno Borralhinho - Confesso que nos últimos tempos não tive oportunidade de acompanhar o trabalho da EPABI, mas é imperativo reconhecer os resultados que se têm produzido desde a sua fundação. Se não fosse a EPABI eu provavelmente não estaria aqui agora mesmo a dar esta entrevista e, como a mim, a EPABI proporcionou uma formação extremamente positiva a dezenas e dezenas de jovens músicos.
Urbi@Orbi - Está hoje integrado numa das importantes orquestras europeias, como tem sido essa experiência?
Bruno Borralhinho - Estou muito contente com o trabalho que desenvolvo na Orquestra Filarmónica de Dresden e tenho naturalmente uma certa sensação de missão cumprida no que diz respeito à minha carreira profissional.
Isso não implica naturalmente ficar parado e aliás só me motiva ainda mais para continuar a trabalhar e a desenvolver projectos que me ajudem a crescer como músico e artista. Claro que trabalhar ao mais alto nível com a orquestra é um privilégio, mas não é por isso que deixo de ter a necessidade pessoal de fazer música de câmara ou realizar projectos de solista. E acaba por ser por aqui que tenho tido as maiores alegrias recentemente, com excelentes concertos com o Ensemble Mediterrain (que é para mim como um filho que me orgulho de ver crescer todos os dias) e críticas extremamente lisonjeantes ao meu primeiro CD, "Página Esquecida", em jornais e revistas importantíssimas na Alemanha ou nos Estados Unidos. Por tudo isto, tenho mais do que motivos suficientes para continuar o meu caminho e trabalhar com a dedicação e paixão de sempre.
Urbi@Orbi - Quais as diferenças de quem está no estrangeiro e em Portugal, em termos de oportunidades de trabalho e reconhecimento cultural?
Bruno Borralhinho - As oportunidades de trabalho para um músico em Portugal são muito limitadas. É verdade que somos um País pequeno, mas culturalmente teríamos a obrigação de estar mais à frente do que estamos hoje em dia. Fazem-se coisas muito boas em Portugal, mas também se fazem coisas muito más. E a verdade é que não há estruturas ou uma política cultural capaz de inverter a tendência negativa. É curioso ver por exemplo que há mais escolas superiores de música em Portugal do que em França. O que depois não tem tanta piada é verificar que as pessoas que se formam nessas escolas em Portugal não têm onde trabalhar ou acabam por ter que trabalhar em áreas diferentes.
Depois também há pessoas que dizem que não teria sentido haver, por exemplo, mais orquestras, porque não temos público para as que já existem. Eu talvez até esteja de acordo, mas a solução será ficar de braços cruzados? Porque é que não se pensa consequentemente em formar e ganhar novos públicos? Enfim, há tantas coisas que poderiam ser feitas e não são.
Mas respondendo à pergunta, com tristeza, admito que em Portugal estamos bastante atrás da esmagadora maioria dos nossos vizinhos europeus no que diz respeito aos meios artísticos.
Urbi@Orbi - Alguma vez pensa em regressar, em definitivo, a Portugal?
Bruno Borralhinho - Coloco-me esta pergunta a mim mesmo todos os dias. E vão passando os dias sem conseguir respondê-la. É muito difícil estar a fazer cálculos a médio ou longo prazo, mas uma certeza tenho: um dia voltarei. Pode ser mais cedo ou mais tarde, a tempo inteiro ou dividindo a vida por Portugal e pelo estrangeiro, mas certamente que um dia voltarei a Portugal porque gostaria de tentar ajudar o meu País. Mesmo que seja só para arrancar uns sorrisos ou umas lágrimas ao público dos meus concertos.