O túmulo da Rainha Santa Isabel, localizado na Igreja de Santa Clara a Nova, em Coimbra, faz parte de um conjunto de urnas produzidas por Mestre Pêro, no Século XIV. Desde esses tempos até aos dias de hoje, os túmulos, que originalmente apresentavam a cor da pedra em que estavam esculpidos, foram sendo pintados ao gosto dos diversos reis que comandaram o País. Alterações que ao longo dos séculos foram deixando marcas, mas também, interrogações a estudiosos de arte, conservadores e restauradores.
Se por um lado existe a necessidade de conservar o estado actual das peças que podem ser vistas no Museu Nacional Machado de Castro, estrutura que integra a Igreja de Santa Clara, por outro, o estudo destas e da sua história implicam novas análises. Contudo, este cenário pode agora mudar, com a integração de um grupo de investigadores do Centro de Óptica da UBI em dois projectos de investigação e desenvolvimento subordinados aos temas “Estudo multidisciplinar da oficina de Mestre Pêro” e “Os revestimentos e os acabamentos nos centros históricos entre tradição e modernidade – bases para um plano de acção e de salvaguarda do Centro Histórico de Coimbra”. Projectos que foram submetidos para financiamento à Fundação da Ciência e a Tecnologia (FCT) na candidatura de 2009 pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCT/UC). A UBI marca presença através de Paulo Torrão Fiadeiro, docente responsável pelo Centro de Óptica da academia covilhanense. Numa iniciativa científica onde estão também a Confraria da Rainha Santa Isabel (CRSI), a Escola Náutica Infante D. Henrique, Paço d'Arcos (ENIDH/MCTES), o Instituto dos Museus e da Conservação, IP (IMC/MC), o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC), a Câmara Municipal de Coimbra, o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, IP (IGESPAR, IP) e o Instituto Politécnico de Tomar (IPT).
Os túmulos vão agora ser “digitalizados” através da aplicação da actual técnica de digitalização hiperespectral a três dimensões. Paulo Fiadeiro explica que “aquilo que tínhamos até agora passava pela aplicação da técnica de digitalização hiperespectral a duas dimensões. Neste momento, com este projecto, vamos aplicar a mesma tecnologia às pinturas que englobam o património histórico de Coimbra, outra das aplicações diz respeito aos túmulos, da Rainha Santa, que são obras de Mestre Pêro, o autor das esculturas. Nesse caso estamos a falar de obras artísticas com relevo que têm de ser digitalizadas a três dimensões”. Recorde-se que esta técnica de digitalização de imagens de pinturas artísticas (revestimentos e acabamentos) a duas dimensões (2D), foi desenvolvida e implementada no âmbito de uma tese de doutoramento na UBI.
Com a aplicação desta tecnologia, que passa por digitalizar todo o túmulo “vamos reconstruir toda a característica colorimétrica e substituir nas imagens digitalizadas, os pigmentos originais dos repintes que foram encontrados na obra, para que se possa ter uma imagem fidedigna de como esta era ao longo dos tempos”, acrescenta o docente.
Um processo que irá produzir diferentes imagens que vão permitir visionar os túmulos, a três dimensões, pintados conforme a época que se desejar.
A simulação do aspecto cromático a três dimensões das obras de arte, em cada fase de repinte, ou restauro, a partir da informação obtida de cada pigmento individualmente é feita através da caracterização colorimétrica e da criação e manipulação de uma base de dados com as imagens hiperespectrais 3D.
Esta ferramenta abre um leque de potenciais utilizações. Os conservadores e restauradores de arte, por exemplo, “nos seus trabalhos, muitas vezes deparam-se com situações de repintes, ou de zonas que foram pintadas e que escondem outras pinturas originais. Sabem tudo isso, mas não conseguem chegar ao pigmento primitivo, senão destruíam a pintura. Com esta técnica, isso é possível. Isto é muito bom, não só para estudar e ver todas as pinturas, como as evoluções destas, as tendências dos próprios artistas, enfim, um sem número de aplicações”, acrescenta Fiadeiro.
Em finais de 2012 devem ser conhecidos os primeiros resultados que vão ficar disponíveis a todos num sítio electrónico específico e também junto às peças de arte.