O nome da loja, “Companhia Portugueza”, denota logo um certo regresso ao passado. Um espaço inserido numa casa típica da “cidade dos estudantes”, na Rua do Quebra Costas, perto da Universidade de Coimbra, corporiza o mais recente projecto de dois jovens licenciados pela Universidade da Beira Interior (UBI).
No interior do espaço, um verdadeiro regresso ao passado. Recebidos com quadro do “Menino Chorão”, que divide as paredes com publicidades antigas, a vista pode passear pelas prateleiras carregadas de produtos antigos, agora recordados. A pasta dentífrica Couto, o restaurador Olex, o sabonete de Lavanda e o Musgo Real ocupam o espaço de produtos de higiene. Mas há também a culinária, com as conservas Tricana, a Farinha 33, o chá Gorreana e o azeite Saloio, passando ainda pelos brinquedos de lata, pelos de plástico Pepe e pelos jogos tradicionais. Portugal do meio do século XX está todo ali, presente nos cartazes de espectáculos de fado e cinema.
Ana Luísa Lages e José Luís Gonçalves começam por explicar que “a ideia surgiu do gosto pessoal, do apelo por tudo aquilo que é tradicional, antigo, histórico”. Mas a ideia ganha contorno de novidade, para estes dois licenciados em Design Multimédia pela UBI, quando decidiram aplicar “o interesse pelo tradicional ao âmbito profissional, do Design Multimédia”. Ana Luísa Lages acrescenta que “há muito que nos interessamos pelas antigas embalagens, pela publicidades que revolucionaram a história e que ainda hoje fazem parte da memória de muitos portugueses que as recordam muitas vezes, quando visitam a nossa loja”. A este interesse começou a juntar-se “um apanhado mental e uma pequena ‘recolha’, insuficiente para ser uma colecção, destes produtos que, no fundo, são parte da nossa cultura visual”, acrescenta José Luís Gonçalves.
A este interesse e estudo dos desenhos e objectos mais tradicionais, os dois jovens empresários juntaram “o crescente interesse por este tipo de produtos”.
Da ideia à abertura da loja passaram dois meses. A decoração do espaço, a procura e selecção dos produtos, a imagem de marca da “Companhia Portugueza”, foram algumas das actividades feitas nesse período, pelos dois antigos alunos da UBI. Num processo em que valeu mais o lado empreendedor dos dois licenciados, “que propriamente o conhecimento teórico”, ambos sublinham a boa experiência de algumas disciplinas do seu curso, como Criação de Empresas e Gestão de Projecto, “ainda que, quando as frequentamos estivéssemos longe de imaginar que iríamos estar envolvidos nestes projectos, e portanto não lhe tenhamos dado o devido valor”, referem.
Outro dos pontos sublinhados por José Luís vai também “para o importante contributo da equipa do GAPI, que há cerca de três anos, o ajudou a levar em frente, um outro projecto, o Colectivo Fósforo”.
Para o futuro, os dois jovens esperam levar a “Companhia Portugueza” a outros locais e expandir uma rede de lojas, mas o projecto mais vasto e no que têm também empenhado algum do seu tempo e ideias “é ao nível da comunicação, da intervenção cultural, da promoção turística, da valorização da nossa herança histórica”, avançam os dois antigos alunos da UBI.