Urbi@Orbi – Quem é António Manuel Garcia Rebordão?
António Rebordão – Sou conhecido popularmente por António Rebordão, sou natural do Fundão, mas desde minha juventude que resido na Covilhã. Sou também presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria e faço parte do gabinete de apoio, ligado à área social da Câmara Municipal da Covilhã.
Urbi@Orbi – Qual foi a seu percurso académico?
António Rebordão – Fiz aquilo que se chamava, antigamente, o curso geral do liceu. Empreguei-me numa primeira fase com uma profissão a que hoje chama de jornalismo, na altura tinha vindo do Fundão com 17 anos, porque o meu pai foi transferido para a Covilhã.
Urbi@Orbi – Era o que pretendia exercer, ser jornalista?
António Rebordão – Entrei no mercado de trabalho a exercer uma função a que hoje chamamos de jornalismo, no Jornal do Fundão. Mas isso só durou enquanto não arranjei melhor.
Urbi@Orbi – E achou importante para a sua formação exercer essa profissão?
António Rebordão – Foi um trabalho que gostei de fazer porque encontrei aquilo que era a altura das inaugurações, daquelas coisas da altura, há 40 anos atrás havia muitas aldeias que não tinham luz eléctrica e então o que nós fizemos foi a cobertura desse trabalho.
Urbi@Orbi – Não se ficou pelo jornalismo, como surgiu a oportunidade de ingressar na Inspecção do Trabalho?
António Rebordão – Depois abriu o concurso para a inspecção do trabalho, isto em 1972. Concorri e fiquei em primeiro lugar, e então ingressei no quadro da Inspecção do Trabalho, onde me mantenho até agora.
Urbi@Orbi – Foi através do presidente da Câmara da Covilhã que surge o convite para ingressar na política?
António Rebordão – No momento em que o presidente da câmara entendeu que eu era útil como adjunto dele, nomeou-me para essas funções. Fui requisitado à IT, e estou neste momento a prestar trabalho como adjunto, na área social.
Urbi@Orbi – É nesta altura que começa a desenvolver projectos na vertente social?
António Rebordão – Na altura, há oito anos, também a convite do presidente da câmara, concorri à freguesia de Santa Maria. Ganhei e comecei a desenvolver aquilo que mais gosto de fazer que é exactamente acção social. Tive o cuidado na altura de dizer que não era um homem de política (não sei ser político) e muito menos como homem de construções.
Urbi@Orbi – Não se considera um homem da política porquê?
António Rebordão – Não sou um homem da política, não pertenço a partido nenhum, sou uma pessoa independente, estou identificado com um grande projecto de um liderado por Carlos Pinto pois foi ele que desenvolveu a acção social dentro da câmara da Covilhã.
Urbi@Orbi – Qual o momento que o marcou de modo a despertar em si a necessidade de desenvolver um espaço para ocupação e integração dos idosos?
António Rebordão – Um dia uma das duas assistentes, que começaram a desenvolver acção social para os idosos da minha freguesia, ligou-me e disse-me que estava em casa da Dona Joaquina, uma senhora sempre muito animada, mas naquele dia estava muito triste, pois era o seu aniversário, e nenhuma das cinco filhas, devido a um litígio criado entre elas, e com medo umas das outras, lhe tinham ido dar-lhe os parabéns. Foi naquele momento que mandei logo a funcionária ir buscar um ramo de flores para a senhora. Escusado será dizer que aquilo foi encarado com uma ternura tão grande, que a senhora não conseguiu falar e eu também não consegui falar com ela. Choramos os dois. Pus-me no papel de pai, ao saber que tenho filhos e que um dia estes poderiam não se dignar a ir dar-me os parabéns, isso alertou-me para outra realidade.
Urbi@Orbi – A partir deste episódio é verdade que todos os meses lhes faz uma festa?
António Rebordão – Todos os meses junto os idosos da minha freguesia e no último dia de cada mês faço-lhes uma festa, um lanche ajantarado, com bolo, e todos eles recebem uma prenda. Hoje os senhores que aqui vêem adoram receber flores, engana-se quem pensa que as flores são para as mulheres pois isto envolve um sentimentalismo muito grande. E cada vez há mais garantias que as pessoas vêm a estas festas.
Urbi@Orbi – Foi nas festas de aniversário onde reúne os idosos no fim de cada mês, que viu o quão necessário era o afastamento deles perante a solidão?
António Rebordão – No dia 31 de Dezembro de 2007, não fiz jantar, pois era dia de final de ano, fiz sim um almoço, para permitir que as pessoas fossem para o convívio entre a sua família. Por volta das cinco da tarde acabou o convívio, para poderem ir para beira das famílias pois elas também estão à vossa espera. Curiosamente as pessoas foram saindo e duas senhoras, a dona Ester e a dona Fernanda, utentes do Espaço das Idades, ficaram e eu achei aquilo muito estranho e não resisti e fui falar com elas.
‘Então dona Ester não vai para o pé do seu filho e da sua nora, para casa? Não, eu daqui vou para a cama, a minha nora não gosta de mim, e é impensável pensar passar o fim de ano com a família’. O caso da dona Fernanda era idêntico. Foi aí que despertou em mim a ideia de criar algo que viesse ao encontro da ocupação dos tempos livres e de retirar da solidão estes idosos, foi quando eu comecei a sonhar com isto.
“Fazemos aquilo que os lares e centro de dia não fazem”
“Covilhã SOS será um serviço para idosos, durante as 24 horas do dia”