Urbi@Orbi - Como avalia a época do atletismo da UBI?
Amaro Teixeira - Considero que a época do atletismo da UBI foi muito positiva, conseguimos construir um grupo. Não só para as competições mas também para o convívio entre atletas, e isto é muito importante, que sejamos um grupo unido. Pois assim, vamos conseguir alargar o grupo para as competições e para a divulgação da modalidade na UBI. Ainda conseguimos ter o melhor atleta masculino do ano, André Jordão, que viu bem recompensado o seu treino árduo durante a época, com a conquista de 2 medalhas e ainda ser considerado o atleta do ano da UBI.
Urbi@Orbi - O que pensa que podia ter sido diferente? O que aconteceu de positivo/negativo?
Amaro Teixeira - Positivo foi o facto de agora neste momento olhar-mos para trás e vermos que temos um grupo construído e que ainda conseguimos 2 medalhas para a UBI, negativo para mim foi o facto de alguns atletas com muito potencial por uma razão ou por outra não terem tido a disponibilidade necessária para treinarem como deve ser e ainda outros por não terem participado, pois poderia ter sido diferente para a equipa, tanto individual como colectivamente.
Urbi@Orbi - O que acha que faltou para que a AAUBI tivesse conquistado mais medalhas?
Amaro Teixeira - O que penso que faltou foi um pouco mais de sorte em algumas situações, mas também temos que ver que não temos as condições e atletas que outras universidades têm. Ainda assim houve pelo menos 2 ou 3 medalhas que com mais alguma sorte poderiam ter acontecido, pois tive atletas que fizeram marcas que este ano ficaram fora do pódio e no ano passado chegavam para medalhas. O André Jordão, nos 400m, fez este ano um tempo de 51,71 que dava direito a 1ºlugar no ano passado, isto no CNU Pista coberta e na pista ar livre ele não se encontrava nas melhores condições físicas por isso não fez essa prova mas também teria conseguido uma medalha com esse tempo. O outro caso foi o Pedro Nogueira que no lançamento do peso não conseguiu ir ao pódio com 11 metros e dois centímetros, marca que no ano anterior tinha dado uma medalha para a nossa academia pelo atleta Pedro Meneses.
Urbi@Orbi - Considera que o atletismo é maioritariamente visto como uma actividade e não como um desporto de competição? O que acha que pode ser feito para mudar essa mentalidade?
Amaro Teixeira - Penso que o atletismo não é visto dessa maneira, como uma actividade, a mentalidade está bem definida nas pessoas. Há aqueles que pretendem juntar-se ao grupo apenas para terem companhia para fazerem a sua corrida de manutenção e a maior parte das vezes não pensam na competição, mas depois com o passar do tempo, podem-se tornar atletas, pois uma pessoa que vai treinando, evoluindo e ganhando confiança nas suas capacidades, o que depois facilita para que eles comecem a pensar na competição.
Penso que em geral quem está por fora da modalidade sabe bem distinguir a chamada actividade, de desporto de competição. Pode haver muitas vezes pessoas a dizer que é um desporto sem objectivo, mas penso que essas pessoas estão erradas, o objectivo é darmos sempre o nosso melhor, ver a nossa evolução e há muitas mais modalidades no atletismo, não é só correr.
Urbi@Orbi - O que pensa que a UBI/AAUBI pode fazer para que o atletismo evolua?
Amaro Teixeira - O principal que pode ser feito, e foi feito no inicio do ano lectivo 2009/2010, foi começar a haver treinos marcados como nas outras modalidades, isto é essencial para que se possa construir um grupo e aparecerem novos atletas, no atletismo se uma pessoa quiser algum resultado não basta só os 2 dias por semana marcados, mas isto já tem de ser cada um a decidir o que quer do atletismo. Tivemos esta época atletas a treinar 5 e mais vezes por semana. Talvez uma coisa que ainda não foi feita e poderia ser organizada era um torneio de “captação”, por exemplo na altura em que chegam os caloiros, como têm havido torneios de modalidades entre cursos, poderia haver um torneio com algumas provas de atletismo, em que poderia participar quem quisesse e depois seriam pontuados pelos lugares obtidos, e fazia-se uma espécie de campeonato entre cursos, isto é uma iniciativa que é fácil de organizar e teria certamente benefícios para a modalidade na UBI, pois é certo que se iria “descobrir” algum atleta, nem que fosse só pela divulgação da modalidade.
Urbi@Orbi - Sendo um desporto de muito esforço e sofrimento considera que os atletas da UBI têm essa preparação psicológica para vencer?
Amaro Teixeira - O atletismo deve ser a modalidade da UBI em que se esforçam mais e têm mais sofrimento, não quero desvalorizar as outras modalidades, e também não estou a dizer que não há esforço das outras modalidades, o que quero dizer é que pela nossa parte existe um esforço diferente. Aqueles que no atletismo foram às competições são atletas que treinam muito mais do que 2 vezes semanais, que são os dias definidos por treinos da UBI, e se não podem treinar à hora do treino marcada, vão a outra hora, e por vezes chegamos a treinar debaixo de condições climatéricas muito más, como é o caso da chuva, vento e temperaturas baixas. E no atletismo cada atleta depende apenas de si, do seu psicológico e da preparação que fez, e penso que temos um grupo que sabe sofrer para conseguir dar o seu melhor pela AAUBI nas competições, normalmente nos CNU em que participamos, podemos não ter trazido muitas medalhas, mas quase todos melhoraram as suas marcas nas provas que fizeram, e dai acho muito positivo o esforço que todos tiveram ao empenhar-se nas competições.
Urbi@Orbi - Para a próxima época, o que espera do atletismo da AAUBI?
Amaro Teixeira - Em primeiro lugar espero que este seja um grupo a manter-se no activo, depois como é óbvio espero que se juntem mais atletas ao grupo, pois só assim é que poderemos evoluir. Não tenho dúvidas de que existem na UBI pessoas com capacidades para fazer atletismo, que por exemplo já fizeram há alguns anos atrás e depois deixaram por falta de tempo ou por outra razão. Este ano, por exemplo, quem eu considero que foi a minha melhor atleta feminina e também revelação, já tinha 4 matrículas na UBI e não sabia que existiam as competições Nacionais Universitárias de atletismo, nem que a UBI costumava participar, apesar de nos outros anos ter sido uma modalidade com menos impacto e sem os treinos regulares, apenas participava quem sabia das competições nacionais e mostrava ter alguma preparação para a participação.
Urbi@Orbi - O que é para si o atletismo?
Amaro Teixeira - Para mim o atletismo é uma modalidade muito abrangente, não é só correr, e é uma modalidade onde temos muito a percepção do treino que realizamos ou não, pois no meu caso, corrida de meio fundo e fundo, nota-se muito o não treinar durante uma semana ou até duas semanas, o que por exemplo num jogador de uma modalidade colectiva já não se nota tanto a falta dessas 2 semanas de treino. É uma modalidade em que se fazem muitas amizades por todo o lado, eu no atletismo já conheci muitos lugares, que de outra maneira não teria conhecido. É uma modalidade para quem gosta mesmo daquilo que faz, e não precisa de ser só correr, uma pessoa experimenta um pouco de todas as modalidades dentro do atletismo e depois treina aquelas que gosta mais, o que eu costumo dizer é que toda a gente pode fazer atletismo, o atletismo tem provas ao gosto e às possibilidades de todos, só falta é experimentar.
Urbi@Orbi - E em Portugal, como vê o atletismo?
Amaro Teixeira - O atletismo em Portugal anda a passar uma má fase, cada vez mais se “perdem” bons atletas por causa dos tempos modernos. Existe actualmente uma fase, que coincide com a idade de entrada para universidade em muitos casos, em que há jovens a querer sair muito à noite, beber alguns copos, e depois quando vão fazer a prova que faziam e vêem os resultados a piorar e depois acabam por desistir. Outro caso são os das novas tecnologias, as consolas, a internet, entre outros, cada vez mais incentivam os jovens a ficar em casa sentados, a jogar ou a comunicar através de chats ou redes sociais. Isto leva a que haja uma redução de praticantes, o que tem afectado a modalidade que ainda assim tem obtido bons resultados para Portugal.