Urbi@Orbi - Como define esta época?
André Silvestre - Apesar de uma época bastante atribulada, com uma má gestão orçamental por parte dos responsáveis da AAUBI, defino a época do voleibol feminino com algumas surpresas, assim como algumas desilusões. Começando pela surpreendente constante adesão em massa nos treinos, que chegou a dificultar e condicionar o trabalho com as jogadoras mais regulares e com mais capacidades, ao excelente grupo de trabalho que se criou, esta época revelou-se satisfatória no ponto de vista da união, da dedicação, e do bom desempenho que estas jovens voleibolistas tiveram.
Realçando o momento de melhor performance da equipa, o primeiro torneio de apuramento, apesar de um 4º lugar, a equipa teve um excelente desempenho, fazendo boas exibições em todos os jogos, tendo assim em mão, não a possibilidade de um segundo ou terceiro lugar. Sem querer justificar algo, a falta de competitividade que tiveram ao longo do ano, foi um dos factores que mais condicionou o “arranque” nos jogos, assim como todas as gestões das suas acções.
Ainda que a equipa estivesse motivada após o primeiro torneio, e a fasquia tivesse aumentado, não só pela consciência das suas capacidades, assim como pela necessidade de fazer mais e melhor de forma a garantir o acesso aos CNU’s, e ainda pelo facto de jogarem em “casa”, a equipa apresentou-se bastante mal no segundo torneio, não correspondendo as exibições que fizeram nos jogos, às suas verdadeiras capacidades.
Esta época acaba por ser um reflexo do contínuo trabalho efectuado no ano anterior e ainda que, apesar de não ter conseguido o apuramento, evidencia uma evolução na equipa, que a consolida, embora tenham existido algumas entradas e saídas de jogadoras, como é natural.
Urbi@Orbi - Depois de um primeiro torneio de apuramento positivo, considera que a equipa tinha condições para ir mais longe?
André Silvestre - Sim, sem dúvida. A equipa ganhou uma confiança que até então não tinha, visto que a maioria das jogadoras, competiu pela primeira vez num jogo de voleibol, ou então as vezes que competem são muito esporádicas, facto esse que não permite à equipa perceber se estão a evoluir (até porque o número de jogadoras com capacidades mínimas para encarar uma competição deste nível é reduzido) e não permite fazer jogos e situação de jogo 6x6 em treino com alguma rotatividade. Tudo isto levou ao facto de no primeiro torneio, terem percebido o nível a que as outras equipas estavam, assim como terem percebido alguns factores que não puderem ser treinados, e que condicionam a competição. Desta forma, não só pela equipa técnica ter achado pertinente, mas também porque as jogadoras sentiram que podiam passar ao próximo “nível”, a fasquia foi levantada, e as exigências foram outras. Não obstante, esta nova etapa não foi apenas a preparação para um segundo torneio, foi também um indicador da possibilidade de avançar na aprendizagem e a consolidação do que já tinha sido aprendido. Assim sendo, a equipa técnica não deixou também de querer mais, ou pelo menos um desempenho idêntico ao do primeiro torneio, pois apontámos apenas algumas falhas que teriam tempo de ser treinadas, e desta forma poder garantir um lugar nos CNU’s.
Urbi@Orbi - O que faltou no segundo torneio?
André Silvestre - Como disse anteriormente, o segundo torneio teve as suas peculiaridades, e é nele que encontro a parte menos boa desta época, não só pelo mau desempenho da equipa, mas também pela forma como a maioria das jogadoras não conseguiu encontrar sinergias para encarar os maus momentos.
No segundo torneio, começou por ter uma componente que afectou emocionalmente a maioria das jogadoras. A ansiedade natural de quem pratica desporto de competição, começou a ser sentida treinos antes do torneio, que combinados com uma “má” data do mesmo, levou a uma fadiga precoce, tanto psicologicamente como fisicamente. A par do anterior, o stress desportivo, a necessidade de mostrar, de não falhar, de fazer bem, levou a algumas jogadoras a querer fazer mais, do que as suas capacidades lhes permitiam, deixando-se envolver em individualidades e desinteresses para o rendimento da equipa. Estes factores aliados a momentos menos bons, que infelizmente passaram por quase todas as jogadoras, levaram a que desde o primeiro jogo, se deixassem derrotar por pequenas desatenções, às quais não houve a capacidade, nem da equipa técnica, nem da própria equipa de levantar a própria moral.
Urbi@Orbi - Considera que o facto de ter sido em casa influenciou negativamente?
André Silvestre - Sim. O factor casa, neste caso, influenciou negativamente, não só por muitas coisas que apontei em cima, mas também porque o factor casa, apenas se cingiu ao público e à própria cidade. Isto porque, à excepção de um jogo, todos os outros, não foram realizados no campo habitual de treino. Parecendo apenas um pormenor, a percepção espacial, a temperatura, entre outros factores inerentes a um pavilhão, foram os mesmo que todas as outras universidades tiveram, ou seja, tivemos que nos habituar tanto como as outras e por isso não nos trouxe vantagem alguma. Pelo contrário, apenas acresceu a mais um factor a interferir na mente das jogadoras, da necessidade de mostrar aquilo que fazem, no seu espaço, no seu “habitat”.
Urbi@Orbi - É muita a diferença entre a AAUBI e as outras universidades?
André Silvestre - Alguma, ainda que pense que face às condições com que nos deparámos no contexto, Beira Interior, Covilhã, a equipa da AAUBI apresenta índices de voleibol satisfatórios. Não conhecendo a total realidade das outras universidades, pelo que vejo nas equipas das outras universidades, é que apresentam sempre, jogadoras federadas, ainda que 2 ou 3 no mínimo. No caso da nossa equipa, não temos ninguém federado, ainda que tenhamos algumas jogadoras que tiveram alguma experiencias em camadas jovens de clubes.
A nossa equipa supera todos os anos as expectativas de integrar novas jogadoras, algumas em completa iniciação a jogar em sistemas complexos, que na maioria dos casos, tardam a ser aprendidos e que algumas universidades não trouxeram.
Urbi@Orbi - Tendo em conta que o voleibol é um desporto com muita afluência, o que falta para que isso se transforme em qualidade?
André Silvestre - Este ano, o voleibol inevitavelmente teve uma afluência de jogadoras em treino, que por um lado, deram a possibilidade de encontrar novos talentos para a equipa, mas por outro vieram condicionar o treino das jogadoras do ano anterior ou de novas jogadoras com algumas capacidades. Essa condicionante deveu-se ao facto de que apareceu muitas alunas com diferentes níveis de voleibol, isto é, umas sem completamente noção do que era a modalidade (pelo menos na sua prática) e outras com um nível demasiado inferior à possibilidade de se integrarem junto das que mais sabem.
Referir ainda que houve uma grande afluência, se não a maior de todos os tempos, de alunas de erasmus, o que foi desafiante não só para mim, como para todas as jogadoras, pois muitas das vezes teve-se que falar em inglês.
Os objectivos a que se propôs a AAUBI, de competir na FADU, obriga a que exista uma necessidade de em tempo recorde, introduzir, exercitar e consolidar, não só componentes técnicas, como tácticas, de alguma complexidade, o que leva a que muitas delas não tenham a capacidade de acompanhar.
Urbi@Orbi - Para a próxima época, quais são as expectativas?
André Silvestre - Penso que apesar de eu ficar ou não, as expectativas igualam-se ou elevam-se relativamente a este ano. Desde que o trabalho até então conseguido continue a ser desenvolvido, a equipa facilmente vai encontrar equilíbrios para fazer boas prestações nos torneios. Diria mesmo que terão uma boa probabilidade de serem apuradas para os CNU’s.
Urbi@Orbi - O voleibol é um desporto desenvolvido na Beira Interior? O que poderia/deveria ser feito para melhorar isso?
André Silvestre - O voleibol na Beira Interior, no que respeita a clubes, está em “standby”. O único clube que outrora representou o interior do país em competições Nacionais, e com individualidades a nível internacional, o Núcleo de Voleibol de Estudantes da Covilhã, clube da minha formação Voleibolista e não só, está neste momento sem competir por diversas razões.
Não só a falta de apoios, mas também a necessidade da formação de jovens voleibolistas nas escolas, são para mim, uma das principais causas da decrescente imagem do voleibol na Beira Interior. Ainda relembrar, que apesar da minha jovem idade, nunca ouvi falar de qualquer equipa de voleibol feminina na Beira Interior.
Não tenho grandes dúvidas que poderia ser feito muito mais pelo voleibol no nosso distrito, mas para isso seria necessário haver alguns objectivos delineados pelos clubes, pela própria câmara municipal, entre outras entidades, que segundo alguma coordenação, ainda que fosse da Federação ou Associações, a imagem do voleibol, voltasse a ter o mesmo ou mais peso que já teve. Falo então, da necessidade de reencaminhar os alunos das escolas com algumas capacidades para os clubes, mas para isso, os professores das escolas teriam que ter essa mesma orientação.
Urbi@Orbi - O que é para ti o voleibol? Como caracterizas o voleibol em Portugal?
André Silvestre - O voleibol para mim, é uma das actividades desportivas elitistas aquando a sua vertente de alta competição, pois factores físicos como: altura, impulsão e força, são na maioria dos casos determinantes. Desde aqui, podemos já prever um pouco da desvantagem que Portugal se encontra de outros países, onde a percentagem de indivíduos com uma altura acima de 1,90 m é muito mais elevada. Não que isso seja suficiente para se saber jogar voleibol, mas mais que em outras actividades desportivas, esta pode ganhar vantagem com essas características. Ainda assim, a componente cognitiva do voleibol, é para mim, o factor mais determinante, pois é na compreensão do jogo, de cada acção, das relações entre os elementos da equipa e dos elementos da equipa adversária, da dinâmica de grupo, da capacidade de interpretação do tempo de cada acção, entre outros, que o voleibol pode ser jogado.