Um dos principais problemas com que se deparam os profissionais dedicados ao restauro de obras de artes, nomeadamente, de pinturas, é o do acerto das cores. Com o passar dos anos, as pinturas acabam por ir perdendo as suas características iniciais e, muitas vezes, as escolhas feitas pelos restauradores acabam por não ser as mais correctas.
Francisco Miguel Pereira Brardo Ferreira desenvolveu, no Centro de Óptica da UBI, um sistema digitalização dedicado a obras de arte, especificamente às pinturas, “com o objectivo da reconstrução cromática”. Este é um sistema novo, “com a particularidade de garantir a preservação da obra e com a garantia de reconstruir fielmente a cor dessa obra”. Um trabalho que surgiu no âmbito da tese de doutoramento de Francisco Ferreira e que se assume como pioneiro. Partindo de sistemas de digitação, o autor do estudo agora apresentado, desenvolveu uma forma de “digitalizar as pinturas, através de um método não evasivo, e conseguir as características únicas e primárias das cores”. Desta forma, a inovação acabou por ser garantida a vários níveis. Para além de se apresentar como uma sistema que não necessita de amostras das pinturas ou das tintas, “daí não ser evasivo e não danificar as pinturas, acaba por apresentar os resultados reais das cores”. Para o autor da tese, é certo que “nesta área existem muitos erros na representação da cor”, algo que se acaba por reflectir “na recuperação das obras”. “Agora existe um sistema fidedigno para esse trabalho”, remata Francisco Ferreira.
Há também já outras utilizações como é o facto de passar a ser um sistema de identificação dos quadros. “Através da cor única de cada quadro, o sistema pode recolher os dados e as suas características únicas para depois, com outras técnicas, ajudar à identificação do que é ou não falso”, acrescenta ainda.
O desafio que se coloca neste momento “é o de fazer perceber aos museus o que temos aqui. Eles ainda estão habituados a ir à pintura e retirar um pouco para depois analisar”. Para a realização desta tese foram estudadas cerca de 15 obras, sobretudo de Henrique Pousão, que estão no Instituto dos Museus e da Conservação, no Museu Soares dos Reis, no Museu Nogueira da Silva e numa capela do Cemitério de Estremoz.
A tese intitulada “Digitalização hiperespectral de pinturas e obras de arte”, foi aprovada pelo júri constituído por João de Lemos Pinto, professor catedrático da Universidade de Aveiro, João Pinheiro da Providência e Costa, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, Maria Luísa Dias de Carvalho e Sousa Leonardo, professora associada da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Paulo Torrão Fiadeiro, professor associado da Universidade da Beira Interior, Francisco Paulo de Sá Campos Gil, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e Paulo André de Paiva Parada, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior.