Urbi@Orbi - O percurso académico já o levou a muitas instituições escolares. Como foi isso?
Diogo Azevedo - Em Portugal já fiz uma maratona enorme. Já estive a estudar na Parede em Lisboa, na Costa da Caparica, na Trafaria, em Fátima, Viseu e agora na Covilhã. Lá fora já fiz um intercâmbio de estudantes na Austrália, em Melbourne, mas foram apenas quatro meses, tenho pena de não ter sido mais. No início da minha vida, a pré-primária foi na Suíça, vivi lá e foi lá que criei as minhas primeiras raízes e só depois é que tive contacto com o meu País que é Portugal.
Urbi@Orbi - As trocas constantes de cidades foram algo de positivo ou negativo?
Diogo Azevedo - Foi extremamente positivo, fez-me ter a personalidade que tenho hoje, fez-me crescer e transformou-me naquilo que sou. É muito positivo a troca de experiências, ter contacto com outras mentalidades, outros costumes. Não podemos pensar só, Portugal tem isto, é óptimo, mas é importante saber que os outros países também têm. Temos de saber o que temos no nosso País e depois termos algo para comparar, para saber se isto é bom ou é mau.
“Sonho chegar ao comité olímpico português”
Urbi@Orbi - É uma pessoa que se apega muito a um lugar, ou consegue viver num sítio e depois abandoná-lo com alguma facilidade?
Diogo Azevedo - Infelizmente, e tenho muita pena disso, não me consigo apegar a um lugar específico. Muito pelo que tem sido a minha vida, a viajar muito, a abandonar a escola e o grupo de amigos e a criar um novo perfil de estar. Não penso que isso seja mau, isto se não considerar o facto de não ficar apegado é desprezar completamente, o que não tem sido o meu caso, não me consigo apegar a uma cidade mas tenho sempre aquele amor, e sempre que volto lembro-me sempre dos momentos bons que lá passei.
Urbi@Orbi - E para o futuro profissional, estas mudanças são importantes?
Diogo Azevedo - O facto de ter conhecimento de várias zonas do País, de Europa, as mentalidades, isso vai ser sempre um benefício. Isto porque conseguimos comparar as mentalidades de um sítio para o outro.
Urbi@Orbi - No futuro vai continuar a querer este estilo de vida?
Diogo Azevedo - Acho que só vou querer assentar quando estiver na meia-idade. Sempre gostei desta rotina de viajar. Para mim o sítio mais feliz do mundo é o aeroporto, porque sei que vou ter uma experiência nova, vou conhecer outros países e isso é o que mais gosto de fazer.
“Secção desportiva precisa de se tornar independente”
Urbi@Orbi - Porque é que saiu a meio desta época desportiva de 2009/2010?
Diogo Azevedo - Nestes dois mandatos tivemos problemas, tivemos quedas de direcção [na AAUBI] e isso veio condicionar o trabalho produzido na secção desportiva. No primeiro mandato, apesar de a direcção ter caído as coisas até estavam a funcionar bem. Afirmo que adorei trabalhar com o João Rey, que é uma pessoa muito profissional e que quis dar muito à universidade, mas foi abatido. Essa mentalidade de “ter que mandar abaixo a direcção” tem de mudar.
No segundo mandato, saí porque achei que a melhor maneira de poder realizar o meu trabalho na secção desportiva é se tiver condições para tal. Acima de tudo saí por opção, pois via que me estava a prejudicar muito para tirar o curso, na relação com a família, a namorada e com os amigos. Não me arrependo de ter estado na secção desportiva. O que correu mal no segundo mandato foi o facto de pessoas não eleitas para tal terem tomado decisões com mais peso do que os próprios elementos da direcção. Saí porque não conseguia suportar o facto da Fausta Parracho, segunda secretária da mesa da assembleia-geral, ter tomado a decisão de me afastar, com a direcção da associação a seguir esse caminho.
Urbi@Orbi - Mas considera que o facto de ter sido afastado pode ter deixado uma má imagem sua?
Diogo Azevedo - Em parte até pode ter ficado. Na altura muitas pessoas me perguntaram porque não fui à assembleia-geral defender-me das acusações que me fizeram. Eu disse-lhes que para mim as pessoas que me interessam sabem aquilo que eu fiz e sabem o trabalho que foi desenvolvido e sabem a verdade. Era muito fácil chegar lá e provar a verdade face às acusações e aliás, tem-se vindo a provar isso tudo e as pessoas que estão por dentro da AAUBI sabem que aquilo de que eu fui acusado não é verdade.
Urbi@Orbi - O que teria feito de diferente neste segundo mandato caso tivesse tido todas as condições para trabalhar?
Diogo Azevedo - Teria dinamizado ainda mais a secção desportiva. Continuo a dizer que o desporto universitário da UBI só vai resultar se os alunos tiverem conhecimento do que está a ser feito. Se vierem ver os jogo e apoiarem a universidade. Um dos nossos pontos fortes no ano passado foi termos dinamizado os eventos. Nunca se encheu um pavilhão na UBI como nós enchemos da primeira vez que o fizemos no primeiro jogo em casa. Criamos um evento e é isso que é importante.
Urbi@Orbi - Como avalia a época desportiva da AAUBI de 2009/2010?
Diogo Azevedo - Foi uma época positiva, mas acho que posso afirmar que sofreu um pouco com aquilo que aconteceu com a associação. Poderá ter desmotivado os treinadores o facto de haver ordenados em atraso, de não haver um coordenador da secção desportiva, alguém que fizesse a plataforma de comunicação entre a secção desportiva e a UBI. Conseguimos alcançar pódios mas uma equipa quer sempre mais e quer lutar pelo primeiro lugar. Se tivéssemos as condições todas reunidas não podemos afirmar que seria diferente, mas teríamos tido mais tempo para planificar os objectivos e ter uma melhor estrutura na fase final dos Campeonatos Nacionais Universitários.
Urbi@Orbi - Sentes que podia ter dado melhores condições para as equipas participarem nos CNU’s?
Diogo Azevedo - Se tivesse ficado teria tido mais tempo para planificar os CNU’s, que foram praticamente planificados pela Rosa Domingues, que é a pessoa que tem de ficar marcada este ano. Se não fosse por ela o desporto universitário na UBI tinha acabado, a associação teria deixado morrer o desporto universitário. Se não fosse a Rosa Domingues nem sequer teríamos chegado aos CNU’s, este ano os resultados teriam sido desastrosos. Se eu tivesse ficado teríamos sido os dois a planificar os CNU’s e como já tínhamos trabalhado o ano passado conseguíamos sempre melhorar coisas que tivessem falhado o ano passado.
Urbi@Orbi - Para o ano está disponível para voltar à secção desportiva?
Diogo Azevedo - O amor pela secção desportiva e por aquele trabalho há sempre. Em situações normais se me dissessem que precisavam de mim na secção desportiva eu diria que sim sem pensar, mas às vezes temos que definir objectivos na vida. Estou na Covilhã para tirar o meu curso e para o ano vai ser esse o meu grande objectivo, terminar o curso.
A secção desportiva acaba por prejudicar sempre a vida social e a vida académica. Muitos podem pensar que não, mas estão completamente errados, não sabem o que é ter um trabalho de secção desportiva e estar na universidade. As duas não se conciliam, é quase impossível. Deixo a porta entreaberta não como coordenador, mas para dar o meu apoio e para estar sempre presente. O meu amor pelo desporto universitário não acaba aqui. Vejo-me talvez quando acabar de tirar o curso a integrar a Federação Académica do Desporto Universitário, para tirar lá o meu estágio, compreender ainda mais como funciona uma estrutura desportiva e o processo de gerir, e a partir daí conseguir abrir as portas para o meu grande objectivo em Portugal que é chegar ao Comité Olímpico.
Urbi@Orbi - Que considera que deveria ser feito pelo desporto da UBI?
Diogo Azevedo - Tem que se valorizar mais o desporto universitário e vangloriar os resultados que temos alcançado. Temos grandes equipas nesta universidade, que dão nome à UBI mas que não são reconhecidas por isso. Falo dos casos do futsal, com um projecto de vários anos, e do basquetebol, que tem grandes valores e se a universidade aproveitasse isso poderia chegar longe nesta modalidade, como chegou no futsal.
Urbi@Orbi - Valeria a pena profissionalizar mais a secção desportiva da UBI?
Diogo Azevedo - A secção desportiva da UBI só vai resultar, e o desporto universitário, enquanto competição, só vai ser rentabilizado quando não estiver ligado aos estatutos da associação, quando tiver os seus próprios estatutos. Porque se não for assim a secção vai estar sempre ligada aquilo que acontece na associação, e temos visto nos últimos dois anos que as direcções da AAUBI caem e a secção tem de ir por arrasto. Ou seja, o trabalho desenvolvido acaba por cair por questões que não estão ligadas à secção desportiva.
Esta estrutura só vai resultar quando os Serviços de Acção Social da UBI estiverem responsáveis pela secção desportiva, ou esta tiver os seus próprios estatutos. Este ano, se não fosse a Rosa Domingues o desporto universitário tinha acabado, porque a comissão de gestão que ficou a tomar conta da associação quase deixou a secção ao abandono. Tivemos queixas directas da FADU, tivemos inclusive o presidente da FADU a vir à Covilhã para ver o que se passava, porque íamos receber provas na UBI e não havia praticamente ninguém a trabalhar nisso. Tiveram que ser as pessoas que trabalharam comigo a dar uma ajuda, a Rosa Domingues a esforçar-se a mil à hora e eu também a ter que participar este ano.