O pequeno cubo branco que está nas mãos dos investigadores é a face mais visível do projecto, na área da medicina regenerativa, que actualmente decorre no CICS. Este pequeno objecto tem por detrás um grande número de horas de investigação e uma vasta equipa de profissionais. Um grupo de cientistas, liderado pelo docente e investigador, Ilídio Correia, espera conseguir desenvolver “novas matrizes de suporte porosas e biodegradáveis, que possam ser utilizadas na reconstrução do osso humano”.
O docente da Faculdade de Ciências da Saúde começa por explicar que actualmente “existem no mercado estruturas ósseas tridimensionais que em português se designam por andaimes, mas não são muitas vezes suficientes para dar resposta às situações clínicas que ocorrem todos os dias”. Em termos práticos Ilídio Correia exemplifica com um caso onde se regista uma fractura óssea de alguma dimensão e torna-se necessário o preenchimento do osso. Se a fractura for pequena, “ao fim de algumas semanas, o próprio organismo corrige isso” mas nas fracturas maiores “tal não acontece”. Para resolver este problema, os investigadores do CICS esperam desenvolver “um composto que tenha características semelhantes à matriz inorgânica que constitui o osso”. Encontrar este composto passa agora a ser um dos pontos de maior importância, até porque, “o desenvolvimento de novas tecnologias, em especial as técnicas de prototipagem rápida, em conjunto com a biologia celular e molecular e com a engenharia dos materiais, tem vindo a proporcionar avanços tecnológicos consideráveis”. Um projecto a três anos, em parceria com o Instituto de Engenharia Mecânica, do Instituto Superior Técnico de Lisboa, a Ceramed, empresa de cerâmicos para aplicações médicas e o Hospital Veterinário de São Bento, também em Lisboa.
Ilídio Correia espera encontrar, com esta pesquisa, um material que seja possível trabalhar em três dimensões. Material esse que vai dar origem a “matrizes de suporte porosas e biodegradáveis, designadas de scaffolds, que podem ser aplicadas no organismo humano e que direccionam as células durante o processo de regeneração dos tecidos”. Um desafio que passa por estudar e optimizar o fabrico rápido, por impressão a três dimensões, de matrizes de suporte porosas a partir biomateriais. Nesta área, o investigador aponta a necessidade de “testar vários materiais para conhecer o que possui melhores qualidades, não só ao nível das biocompatibilidades, isto é, que o organismo não produza reacções adversas a esse material, mas também que ofereça propriedades mecânicas já referenciadas”. Trata-se sobretudo de encontrar um material que tenha uma boa integração óssea.
“Se alguém, ao construir uma parede, deixa alguns buracos no meio, a solução que existe é fechar esses espaços, mas para que tal seja feito de forma eficaz e sem deixar marcas, o material que se vai utilizar para tapar esses buracos tem de resultar bem e não apresentar defeitos. Este material que estamos aqui a caracterizar tem de ter essas funções”, descreve o responsável do projecto. Desta forma, a medicina regenerativa encontrará uma solução que pode ser personalizada, mediante o quadro clínico. Para uma determinada fractura poderá ser feita uma matriz de reforço que irá ser implantada no organismo. Um trabalho que irá implicar uma bateria de testes a ser feita no biotério da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI.
Mas para além desta solução, existe ainda um outro desafio que a equipa de Ilídio Correia procura ultrapassar. Para além de encontrar um novo biomaterial, os investigadores esperam conseguir também criar moléculas capazes de estimular e dar algumas instruções ao organismo para reagir de uma determinada forma. Um ponto de inovação e diferenciação deste projecto.
Os testes já desenvolvidos estão a deixar a equipa bastante motivada. A medicina regenerativa e a engenharia de tecidos têm conhecido grandes avanços nos últimos 30 anos. O docente da Faculdade de Ciências da Saúde lembra que hoje estão a ser aplicadas soluções, não só no caso das fracturas ósseas, mas também ao nível da pele e dos órgãos que podem vir a dar resposta a um vasto leque de situações clínicas. A aposta da UBI na criação de um novo biomaterial passa também por integrar essas respostas médicas. A trabalhar em colaboração com uma ortopedista do Centro Hospitalar da Cova da Beira, a equipa vai tendo conhecimento das diferentes necessidades e das possíveis soluções avançadas por este projecto.