Pode até ser uma história imaginária, aquela que povoa as páginas de “Planície de Espelhos”. Mas Gabriel Magalhães, docente do Departamento de Letras da UBI e autor de várias obras literárias garante que viu um fantasma. Na apresentação da obra, que decorreu no passado sábado, na Biblioteca Central da UBI, o autor partilhou a experiência com os seus leitores e apresentou aliás “em tom de brincadeira”, uma testemunha do mesmo facto.
Gabriel Magalhães avança com mais um romance que tem por base duas cidades, a Covilhã e Évora. A história que começa com a viagem de uma investigadora entre a “cidade neve” e a localidade alentejana ganha novos contornos quando “um personagem, um vulto, está na beira da estrada a pedir boleia”, e passado alguns minutos e alguns quilómetros “vemos a mesma figura, na mesma forma e com os mesmos modos, novamente a pedir boleia”. O autor garante que se tratava “de um fantasma”, figura essencial para o novo livro agora apresentado. Um trabalho que “descreve o mundo de imagens e que fala da realidade actual”.
Segundo o docente do Departamento de Letras da UBI “vivemos numa sociedade de imagens e por isso temos de ter a realidade de ver as coisas. As palavras são mais importantes que as imagens. Temos de acreditar nas palavras e desconfiar das imagens”, garante. “Planície de Espelhos” é a mais recente obra de Magalhães, “mas não é uma obra que retrate ninguém”. Apenas porque a produção do livro assim o ditou, nas suas páginas está descrita a cidade covilhanense, a UBI, Évora “há até um Gabriel Magalhães, que não sou eu, isso é garantido”, explicou o autor às várias dezenas de pessoas que estiveram na cerimónia.
Por considerar esta uma das regiões com mais potencialidades, o docente e romancista quis prestar uma homenagem ao interior do País. “Apesar de ser uma região mais afastada do litoral, aqui é possível realizar todos os projectos, aqui existe uma enorme potencialidade”.
Para comentar a mais recente obra do autor de “Não tenhas medo do escuro” e “Planície de espelhos” foi convidado António Saez Delgado. O docente do Departamento de Linguística e Literaturas da Universidade de Évora garante também tratar-se de uma obra com múltiplas interpretações, com um grande número de realidades. “Nas páginas desta obra, o leitor é confrontado com uma espécie de bonecas russas, de caixas chinesas, que se retiram umas dentro de outras, à medida que se vai progredindo na leitura”. Este livro propõe ao leitor que encontre a sua realidade, garante o docente de Literatura Espanhola e Literaturas Ibéricas.
O enredo principal, construído entre Covilhã e Évora, “revela-se algo enigmático e deixa o leitor sempre com vontade conhecer mais alguma coisa”. Isto porque parece ter sido escrito “não apenas por uma pessoa, mas por uma autêntica agência cultural, facto revelador de quem, como Gabriel Magalhães, possui conhecimentos nos mais variados domínios”. Autor de um livro “carregado de ironia melancólica e de saudade contemporânea, o grande personagem deste livro é o leitor”. Este é o segundo livro “de um excelente romancista e também exímio poeta”, como considerou Saez Delgado, que aborda a temática da morte. Contudo, Gabriel Magalhães anunciou já que o próximo trabalho, em fase de preparação, não será neste domínio.