Urbi@Orbi - Como surgiu o gosto pela psicologia?
Maria Adelaide Ribeiro - A Psicologia foi o caminho que escolhi para concretizar o objectivo de trabalhar com crianças.
Urbi@Orbi - Há quantos anos exerce a profissão?
Maria Adelaide Ribeiro - Desde 2005, ano em que concluí a licenciatura, portanto há cerca de cinco anos.
Urbi@Orbi - Os seus pacientes são maioritariamente de que idades?
Maria Adelaide Ribeiro - Por opção a população com que trabalho directamente são crianças e jovens, no entanto há a necessidade de actuar nos contextos em que estão inseridos, daí ser também necessário trabalhar a outros níveis, tais como na família (com pais, irmãos, avós, etc.) e na escola (com educadores, professores, directores de turma, etc.).
Urbi@Orbi - Tem o seu próprio consultório ou desenvolve o seu trabalho em instituições públicas?
Maria Adelaide Ribeiro - Trabalho em Instituições Privadas, e o acompanhamento prestado na maioria dos casos resulta de acordos com a Segurança Social.
Urbi@Orbi - Como é o espaço onde dá as consultas?
Maria Adelaide Ribeiro - São salas onde é possível garantir a confidencialidade e um trabalho individualizado, permitindo um contacto próximo com as crianças.
Urbi@Orbi - O ambiente do consultório é relevante para a consulta?
Maria Adelaide Ribeiro - Sim, claro. Deve o mais possível ter as condições indicadas (por exemplo de espaço e luminosidade), e no caso particular do trabalho com as crianças ter materiais e equipamentos indicados para as diferentes idades. O ambiente deve ser agradável e acolhedor.
Urbi@Orbi - Como é trabalhar com crianças que vivem conflitos familiares diariamente?
Maria Adelaide Ribeiro - É mais um motivo para tentar fazer a diferença. Muitas vezes as crianças são apenas o resultado de ambientes familiares desestruturados e de modelos parentais pouco adequados. A minha intervenção vai sempre no sentido de garantir as melhores condições possíveis para estas crianças, tentando dar-lhes alguma estabilidade e segurança a nível emocional, promovendo assim desempenhos mais assertivos e funcionais.
Urbi@Orbi - Qual foi o caso mais complicado com que teve de lidar?
Maria Adelaide Ribeiro - Não consigo especificar um em concreto, todos são únicos e requerem grande envolvimento.
Urbi@Orbi - Um psicólogo sabe sempre o que dizer aos seus pacientes?
Maria Adelaide Ribeiro - É esperado que assim seja. O que acontece é que não temos resoluções mágicas para os problemas, que é o que muitas vezes as pessoas estão à espera. Trabalhamos com as pessoas para as tornar mais capazes e autónomas, para resolverem elas próprias os problemas que forem surgindo.
Urbi@Orbi - Alguma vez sentiu que a sua ajuda não tenha sido suficiente?
Maria Adelaide Ribeiro - Por vezes os casos têm necessariamente de ser alvo de intervenção de mais do que uma área ou especialidade. Nesses casos fazemos o encaminhamento que considerarmos necessário.
Urbi@Orbi - Um psicólogo também vai ao psicólogo?
Maria Adelaide Ribeiro - Naturalmente, sempre que seja necessário. Tal como um médico também irá ao médico se for caso disso.
Urbi@Orbi - Sente necessidade de desabafar os problemas que ouve diariamente?
Maria Adelaide Ribeiro - Não. Preservo a confidencialidade de tudo o que é tratado no âmbito da consulta psicológica. Essa é uma premissa chave no processo terapêutico, o sigilo profissional.
Urbi@Orbi - É uma profissão que envolve uma maior proximidade com os pacientes. Os seus pacientes acabam também por se tornar seus amigos?
Maria Adelaide Ribeiro - Não. Pelas mesmas razões do que referi anteriormente, é uma questão de ética profissional.
Urbi@Orbi - Na verdade os pais sofrem com os problemas dos filhos. Já lhe aconteceu ter filhos e pais como pacientes ao mesmo tempo?
Maria Adelaide Ribeiro - O ideal era que em todos os casos houvesse um envolvimento efectivo da família. Dessa forma os efeitos da intervenção seriam mais alargados e consistentes.
Urbi@Orbi - As crianças que sofrem com os conflitos familiares são levadas ao psicólogo pelos pais, ou é nas escolas que é dado este tipo de apoio?
Maria Adelaide Ribeiro - A necessidade de intervenção psicológica é percebida nalguns casos pelos pais ou outros familiares, e noutros casos por outros agentes educativos que trabalham em contexto escolar. O apoio psicológico poderá ser dado quer na escola quer em instituições públicas ou privadas.
Urbi@Orbi - Quais são os casos que mais gosta de tratar?
Maria Adelaide Ribeiro - Aqueles que constituem autênticos desafios!
Urbi@Orbi - Já ouviu desabafos que a tivessem deixado psicologicamente afectada?
Maria Adelaide Ribeiro - Não.
Urbi@Orbi - Como é que caracteriza as crianças de hoje em dia?
Maria Adelaide Ribeiro - Considero que as crianças de hoje em dia são o resultado dos nossos tempos. Todos se queixam de que são agitadas, irrequietas, distraídas, agressivas, não têm calma, não respeitam as regras, são pouco tolerantes e fazem muitas asneiras! Será porque de facto lhes é dado menos tempo? Será porque a estrutura familiar tem regras e limites pouco definidos? Será que as crianças não replicam aquilo que vivenciam?
Acredito plenamente no enorme potencial de adaptação e mudança que todos temos, especialmente as crianças! Daí considerar que devemos olhar os problemas como algo possível de resolver e não como questões irremediavelmente perdidas. A forma como enfrentamos os desafios determina o seu desenlace.