O Lar de São José é o resultado de uma necessidade de três confrades da Conferência de São Vicente de Paulo. Foi com o intuito de ajudarem algumas pessoas carenciadas que tinham a seu cargo, que estes três homens arrendaram uma casa. Porém, com o passar do tempo o número de pessoas a necessitarem de auxílio foi aumentando, o que obrigou os três fundadores a contratarem uma ordem religiosa, que tomou a chefia da casa, a qual se passou a designar “O Albergue dos Pobres”.
Em 1902 viviam lá 40 pessoas com graves carências, e que estavam sob a responsabilidade das "Irmãzinhas dos Pobres". No entanto, passados oito anos, a administração passou a ser exercida por leigos, e só em 1927 é que o albergue volta a ter, como prestadores de serviços, as Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição, facto que se manteve até 1985.
A 3 de Outubro de 1949 foram aprovados os primeiros estatutos da então instituição, e a 9 de Agosto de 1970 “O Albergue dos Pobres”, por sugestão da Direcção-Geral da Assistência Social, passa a designar-se Lar de São José. Desde então o lar sofreu inúmeras remodelações tudo para uma melhor vivência dos idosos.
Este é um lar com capacidade para 170 pessoas. São 93 os indivíduos que dão todos os dias um pouco de si para que os residentes desta instituição tenham uma vida melhor. No lar de São José os habitantes têm ao seu serviço desde enfermeiros, animadores, assistentes sociais, psicólogos e outros trabalhadores auxiliares.
Na instituição podem entrar todos aqueles que tiverem mais de 65 anos. No entanto podem chegar a ser acolhidas pessoas com idades inferiores. Aqui o que realmente importa “é que manifestem vontade de irem para lá”.” Esta é uma das poucas casas que foi acolhendo pessoas com deficiências de todos os tipos, e esta tradição nunca se perdeu totalmente”, mencionou Magda Reis, psicóloga clínica do lar.
Nesta instituição, que já conta com mais de um século de existência, faz-se de tudo um pouco para que os residentes se sintam bem e confortáveis, e para que estes vejam que “afinal a vida não termina quando se entra par um lar”.
Realizam-se inúmeras actividades: bailes, teatro, jogos tradicionais, jogos de estimulação, passeios a jardins, ao shopping, ao cinema, e em tempo de Verão, concretamente na segunda quinzena de Junho, é proporcionado aos habitantes do lar irem para uma colónia de férias e para a praia de Mira.
Aqui existe também um pequeno grupo de pessoas que participa no rancho folclórico e no grupo coral. Comemoram-se os aniversários, todos os meses se realiza a missa dos aniversariantes, e também se comemoram todas as datas tradicionais: dos santos populares, do Natal, da Páscoa, do dia do Pai e da Mãe, e também do dia do idoso.
Os idosos possuem horários para realizarem as suas actividades, desde o banho até à última refeição. Eles fazem três refeições diárias com intervalos para lanches. A ementa também é um aspecto muito importante e é através desta que também se tenta integrar os idosos no lar.
Rui Pereira, chefe de cozinha do Lar São José diz que “tenta ir ao encontro do público, dos idosos. Eles não gostam de certas comidas, temos de preparar comida típica da zona, mais regional”. Nesta instituição as ementas são feitas com duas semanas de antecedência e tenta-se não repetir os pratos. Existe o prato geral e o prato de dieta, e ainda a dieta mais específica que é feita por um especialista de nutrição e que é acompanhada por suplementos. Frango estufado, arroz de pato, rancho, jardineira, batatas cozidas, bacalhau cozido, feijoada e cozido à portuguesa são alguns dos pratos mais apreciados pelos residentes do lar, que consideram que a comida é muito boa “mas não é como a que nós fazíamos em casa”, referiu Maria do Carmo, uma das residentes.
No lar entram “umas pessoas com mais vontade e outras com menos”. Há aquelas que entram por vontade própria e que quase prepararam a sua entrada, mas também há outras pessoas que vêm para o lar porque realmente não tiveram alternativa, ou porque não têm família, ou mesmo porque se encontram imobilizados, explica Magda Reis.
Existem no lar casos de pessoas que persistem na ideia de que por eles terem tomado conta dos pais, também é obrigação dos filhos tomarem conta deles, mas por um motivo ou outro estes não podem ou não querem.
Existem também casos de idosos que têm a clara noção de que se ficassem em casa da família acabariam por ficar sozinhos durante o dia, e também pensam que seriam um entrave para os seus. É o caso de Irene Maria Saraiva, uma senhora de 92 anos.
Irene Maria, como gosta de ser tratada, natural da cidade da Covilhã, casou aos 16 anos com homem que a queria para sua esposa. Irene Maria casou de livre vontade com o primeiro e único homem da sua vida. No entanto a vida dá muitas voltas e a dois anos de completar os 50 anos de casada, na véspera do seu aniversário, perdeu o seu marido, vítima de doença do coração.
Depois de muitos anos a trabalhar com fios, sem marido, e com os filhos fora de casa já com família constituída, e para não ser um peso para eles, Irene decidiu mudar-se para o Lar de São José. “ A minha casinha era jeitosa, tinha lá dentro oito escadas e isso cansava-me, então perdi a cabeça e vim. Não devia ter vindo porque me arrependi, a renda era baratinha e podia ainda hoje estar em minha casa, mas agora estou bem”, revela a nonagenária ainda com um pouco de tristeza.
Maria Irene vai tentando distrair-se participando no coro do lar e assistindo às leituras. No entanto esta senhora diz que não consegue ser feliz. “A vida já não faz sentido para mim. Tenho duas netas, dois netos, e cinco bisnetos, tenho muita família, mas eles têm a vida deles, não podem vir sempre cá, e eu também não quero ir para casa deles, não quero fazer despesa”, refere com ar melancólico.
Irene Maria Saraiva não mantém muitos contactos com os seus colegas. Passa muito tempo no quarto, umas vezes “choro, outras rezo, e outras distraio-me com o rádio”, já que os seus olhos não lhe permitem ver televisão. Irene Maria gosta da solidão, habituou-se a ela, por isso está muitas vezes sozinha.
Aparentemente, todas estas pessoas vivem felizes e estão satisfeitas com as condições que têm no lar, mas nota-se sempre a falta de um carinho especial, de um laço mais próximo, como o da família.