Urbi@Orbi – Que resultado leva da visita à UBI e a esta primeira mostra de ciência UBIscientia 2010?
João Sentieiro – Uma das razões que me trouxe à Universidade da Beira Interior foi por um lado apoiar o esforço que a instituição está a fazer para se modernizar, para ganhar importância e capacidade de intervenção, em particular no que diz respeito à investigação e à pós-graduação. Foi essencialmente esse sinal de apoio ao trabalho do actual Reitor, que quis aqui vir dar.
Por outro lado, a minha presença nesta mostra de ciência serve também para manifestar a abertura da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para colaborar com a UBI naquilo que a academia julgar necessário a Fundação apoiar, exactamente no sentido de ajudar a acelerar este processo.
Com a globalização, as universidades ganham ou perdem prestígio em função da qualidade da investigação que se desenvolve no seu seio. Acho que a nova equipa reitoral está a fazer um grande esforço, de grande mérito, no sentido de estimular a criação de massa crítica, de atracção de gente para trabalhar, quer professores mais jovens, quer seniores, e por isso merece todo o apoio da Fundação. É isso que queremos que as universidades façam e por isso estamos lá para as apoiar.
Urbi @ Orbi – Uma universidade que, ainda assim, tem de lutar, de alguma forma contra a sua localização, ou isso não lhe parece um factor a ter em conta?
João Sentieiro – Quando vemos o que está aqui a ser feito não nos sentimos no interior do País, mas sim, no interior da comunidade científica. Esta é uma coisa que gosto muito de fazer, esteja a comunidade científica no litoral, ou mais no centro do País.
Estar com a comunidade científica é o exercício intelectualmente mais gratificante, trocar opiniões com os colegas, ouvi-los, dar a minha opinião e ouvir a deles é sempre um exercício muito importante e, para mim em particular, como presidente da fundação é ainda mais. A FCT trabalha para o País e para a comunidade científica, por isso tem de ouvir o que estas partes têm para dizer. Estes momentos são de grande importância, mas aqui na UBI, ainda mais, porque está num momento de viragem, de nova gestão e ideias e está a fazer um esforço muito grande na sua modernização e actualização, contribuindo para o progresso do País.
Urbi @ Orbi – O Governo tem vindo a dar indicações no sentido de ser dado um maior apoio à investigação. Em tempos de crise e de contenção orçamental, como é que a FCT vai continuar a apoiar os projectos de desenvolvimento?
João Sentieiro – A FCT viu o seu orçamento muito reforçado nos últimos anos. Isso tem permitido lançar um conjunto de novas iniciativas, das quais destacaria, por um lado, um aumento enorme de bolsas para doutoramento e pós-doutoramento e também no financiamento de 1200 contratos de doutores, que neste momento estão a trabalhar nas nossas instituições e que estão a ser pagos pela FCT.
Estes são dois contributos muito importantes e sinais de grande relevância neste cenário. A ciência faz-se com pessoas qualificadas e recrutadas com critérios muito exigentes que foi aquilo que aconteceu relativamente a estes 1200 doutores que estão a colaborar com as nossas instituições. Salientar que 40 por cento destes doutores são oriundos do estrangeiro, o que significa também que Portugal passou a ser um local atractivo para fazer ciência.
Urbi @ Orbi – Esse apoio pretende alterar o estado da investigação em Portugal?
João Sentieiro – É um esforço que já começou a ter resultados. Em termos de indicadores de investigadores por cada mil activos já ultrapassámos a média europeia e estamos à frente de países como Espanha, Itália e Irlanda. Estes números significam, acima de tudo, que estamos a ficar mais bem equipados para enfrentar os desafios do futuro.
Urbi @ Orbi – Esse futuro passa pelo apoio a áreas específicas de investigação, ou um contributo global a todo o espectro científico?
João Sentieiro – Há áreas a que nós vamos dar maior importância, a exemplo do que está a acontecer em toda a Europa, como por exemplo, a biotecnologia, a energia, os transportes. São domínios que vão merecer uma atenção especial, mas os apoios são dados em toda a linha. Nesse sentido, de referir as parcerias que foram feitas com as principais universidades norte-americanas. Com o MIT temos uma forte ligação na área da energia e biotecnologia, com a Carnegie-Mellon, nas tecnologias e comunicação e informação, Harvard Medical School, no domínio da investigação clínica e portanto, são domínios para os quais nós consideramos dever ter uma atenção especial.
Todas estas medidas não significam que não continuemos a apoiar, como sempre temos feito, a ciência em todas as áreas e domínios, desde que essa mesma ciência e investigação feita sejam de qualidade, que é o único critério que a Fundação tem como essência. Sempre vamos apoiar tudo o que tenha muita qualidade, seja na área das Ciências Sociais, seja na área das Ciências Físicas, seja na Matemática ou na Engenharia.
Urbi @ Orbi – Espera também contribuir para tornar Portugal um país cuja imagem de inovação e de domínio científico seja bem melhor, um país de onde partiam investigadores, para um país de acolhimento de investigadores?
João Sentieiro – ao contrário do que muitas vezes é dito, neste momento, não só não temos um problema de “fuga de cérebros”, ao nível de doutorados, como pelo contrário, estamos a ter mais entrada do que saída. Esta vinda não é só para fazer investigação, mas também para desempenhar outras missões. No ano passado, entraram em Portugal 500 estrangeiros, considerados de habilitação avançada que vieram trabalhar para empresas e para instituições portuguesas que não têm nada a ver com a investigação. São pessoas que estão a vir para Portugal fazer trabalho que exige formação especializada e altamente qualificada e que quiseram vir a trabalhar para Portugal.
Urbi @ Orbi – Qual a sua avaliação dos projectos que aqui conheceu?
João Sentieiro – Existe um leque mesmo muito bom de áreas. Obviamente que existem algumas que já ganharam mais proeminência, como é o sector das Ciências da Saúde. Mas o esforço que deve ser feito é no sentido de que a universidade tenha intervenção em vários domínios. Obviamente esta presença não pode ser excelente em todas as áreas, mas que tenha três ou quatro domínios em que distinguir-se do que é feito no resto do País e até no estrangeiro.