Um Café Literário onde o convidado da noite é o director de um jornal desportivo de referência, ainda que o evento seja sobre o seu livro, a conversa tem inevitavelmente de ir parar ao futebol. Tal como o próprio Vítor Serpa admitiu, “90 por cento da conversa acabou por ser sobre o desporto rei”, mas ainda assim deu para conhecer muito mais sobre o director do jornal A Bola, falando assim o homem e o escritor literário por detrás do jornalista desportivo.
Numa apresentação moderada pelo escritor Manuel da Silva Ramos, foi possível ficar a conhecer as duas obras da sua autoria. “Salão Portugal”, um livro de contos lançado em 2007 e apresentado já este ano o livro “Tanta Gente em Mim”, o primeiro romance do director de A Bola. Já com duas obras editadas, Vítor Serpa explica que “existe uma evolução da primeira para a segunda obra”, revelando mesmo uma conversa com o escritor António Lobo Antunes que lhe disse acerca do primeiro livro que “tinha gostado, mas escrever contos é como ir para a piscina e ter pé, enquanto o romance é como nadar no mar”. Vítor Serpa não sabe quando voltará a publicar um livro, mas deixa a certeza que o voltará a fazer, pois afirma estar-lhe “na alma, no sangue”, revelando ainda que “se for vontade das pessoas voltará a publicar um livro”. Nesta passagem pela Covilhã, o director do jornal A Bola, abordou ainda temas como a literatura nacional, a sociedade portuguesa e a importância do futebol e do desporto no País.
Manuel da Silva Ramos define o livro mais recente como “um romance urgente da nossa história recente”, elogiando a capacidade de Vítor Serpa em dar voz à realidade antes do 25 de Abril bem como ao momento actual em que vivemos. O moderar do café literário fez ainda um elogio ao facto de um jornalista desportivo se ter aventurado na literatura, afirmando que somos de “um País que gosta de catalogar as pessoas pelas suas profissões ou talentos”, mas tal como no último Café Literário, onde esteve presente o maestro Vitorino de Almeida, também Vítor Serpa demonstra que uma coisa não implica a outra. “Com o primeiro romance, Vítor Serpa coloca um pé cheio na literatura”, considera Manuel da Silva Ramos, que também fez uma pequena interpretação sobre o livro de contos “Salão Portugal”, que dá voz a um miúdo que vive no Bairro da Ajuda de Lisboa. Nos 15 contos Vítor Serpa faz algo que para Manuel da Silva Ramos é difícil fazer, que é “escrever com a voz de um miúdo”.
O presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Carlos Pinto, também esteve presente no evento e não deixou de dar uma palavra especial a Vítor Serpa. O autarca confessou que na sua vida existiram vários jornais que o marcaram, como o Notícias da Covilhã e o Jornal do Fundão, ou o Diário de Lisboa, o Expresso e A Bola. Tendo já prestado uma homenagem a todos, excepto o Diário de Lisboa e A Bola, Carlos Pinto aproveitou a oportunidade para “pagar a dívida”. Para o presidente da câmara, A Bola é mais que um jornal desportivo, considerando-o “um jornal de cultura geral, que sempre soube afirmar uma tradição portuguesa que é o futebol”.
A iniciativa Café Literário “foi criado em 2007 com o intuito de trazer à Covilhã os melhores escritores portugueses”, conforme explica Manuel da Silva Ramos, que considera ser “um evento único em Portugal”. O próximo convidado do Café Literário será o próprio Manuel da Silva Ramos, que apresentará em Junho a sua mais recente obra “Três vidas ao espelho”, apresentado pelo professor Eduardo Lourenço.