O convívio e o companheirismo entre pilotos e navegadores de equipas adversárias são as melhores memórias que os grandes nomes do automobilismo de competição das últimas décadas preservam. Os tempos áureos do automobilismo nacional estiveram em debate no último sábado, no Teatro Cine de Gouveia, um encontro que, “embora menos participado do que o esperado, talvez devido à realização, em simultâneo, de outras actividades, cumpriu as expectativas”, referem os membros da organização, em comunicado.
Esta sexta Conferência de Gouveia juntou à mesma mesa os pilotos Filipe Campos, Joaquim Santos, Jorge Ortigão e o credenciado navegador Jorge Cirne. Com as velhas glórias do desporto automóvel português, “a comparação entre os velhos tempos e os actuais não podia deixar de ser feita, deixando saudades das décadas anteriores”. Os pilotos lembraram o convívio e o espírito de entreajuda que existia entre equipas, mesmo adversárias, sendo que “podiam dois pilotos estar a discutir o primeiro lugar num campeonato, mas se um deles precisasse de um pneu, era emprestado pelo outro piloto, sem pensar duas vezes”.
As histórias mais engraçadas animaram também o público. Filipe Campos relatou o episódio que aconteceu numa Baja de Portalegre em que “tinha chovido muito, o carro parou com um problema eléctrico que ele não sabia resolver. Apareceu alguém que perguntou se tinha uma chave de fendas. Alguém que foi embora e voltou com a chave, arranjou-lhes o carro e no final perguntou se preferiam continuar em prova ou se queriam ir jantar a casa dele. O misterioso benfeitor era, nem mais nem menos, que o conde de Botelho, um nome que fez história nos ralis portugueses”.
Jorge Cirne, por sua vez, recordou uma Volta a Portugal, na zona da Pampilhosa da Serra, onde, depois dos treinos, “as várias equipas tinham ido almoçar e quase todos tinham provado um bagaço regional num restaurante. Depois de beber, os pilotos já não quiseram ir conduzir, prestando-se para o fazer Carpinteiro Albino, que não tinha bebido. Ofereceu boleia aos navegadores, levando Jorge Cirne, Manuel Coentro e o Silva Pereira. Chegando ao alto da classificativa da Pampilhosa, abriu a porta e convidou os colegas a sair e ver a vista. De repente, entrou, fechou a porta e respondeu: vocês cheiram demasiado a bagaço para irem comigo”.
A Federação Portuguesa de Todo Terreno não esteve isenta de críticas por parte dos pilotos presentes, que lamentaram a forma como alguns campeonatos estão organizados. Esta sexta conferência ficou ainda marcada pela oferta do Portugal Motorsport Team ao Museu da Miniatura Automóvel de Gouveia de um capacete que tinha sido assinado no almoço da Mealhada, com dezenas de rubricas, entre elas dos grandes campeões nacionais portugueses. O Portugal Motorsport Team, um grupo criado na rede social Facebook, esteve também em destaque pela sua importância em colocar as pessoas a debater e lembrar as histórias dos tempos áureos.