O trabalho de uma licença sabática está agora compilado numa obra editada no Brasil. José Carlos Venâncio, docente do Departamento de Sociologia da UBI, revisitou a temática de um livro que tinha sido dado à estampa, em Portugal, em 2000. Depois de dois ou três anos no mercado português, acabou por esgotar.
Este docente e investigador volta agora a recuperar e actualizar uma das suas obras que, à revelia do afropessimismo então dominante em fins dos anos 90 do século passado, fala sobre as potencialidades das sociedades e culturas africanas. Por enquanto, a obra está apenas disponível no mercado brasileiro, mas o docente espera vir a reeditar o livro, quer em Angola, quer também em Portugal. “O Facto Africano é um livro que funciona como uma introdução às grandes questões sociais africanas e tem um certo sentido pedagógico, dirigido a alunos de várias áreas como a Sociologia ou as Relações Internacionais, mas é também uma obra passível de ser consultada e consumida pelo público em geral”, começa por explicar o catedrático em Sociologia.
Um dos pontos que também conferem interesse a esta obra é o facto do seu conteúdo “ter também em mente a abertura de novas pistas de investigação. Este é um ensaio que decorre muito da minha própria experiência de vida. Sendo também africano estou em condições para olhar o continente por dentro e descortinar-lhe as fragilidades, claro, mas também as muitas potencialidades que tem e que no caso de Angola, por exemplo, a minha terra, tornam-se todos os dias mais evidentes”, acrescenta Venâncio.
A edição deste livro no Brasil “é uma mostra do interesse daquele país pelos assuntos africanos e deve-se essencialmente ao facto do Brasil estar também a redescobrir-se como africano. Há um incentivo que é visível um pouco por todas as universidades, em estudar África e ver até que ponto a herança africana é importante. Há uma reaproximação, uma releitura de África”.
No que respeita à visão que o docente e africanista tem de Portugal e Angola, Venâncio é peremptório em sublinhar que “essa relação é, neste momento, mais económica, isto porque não existe o devido acompanhamento cultural por forma a tornar este relacionamento mais harmonioso e, assim, garantir-lhe continuidade. Não devia restringir-se ao domínio dos negócios, por mais proveitos que eles sejam para ambas as partes”. Para o catedrático em Sociologia, “há ainda em Portugal uma falta de interesse confrangedora pelas questões africanas, pelas culturas africanas, que são consideradas como inferiores. Vejo, por exemplo, que as pessoas que emigram para Angola, muitos deles jovens licenciados, acabam por se fechar muito e não interagirem, como seria desejável, com os locais, com a sociedade de acolhimento”, confessa. O livro agora reeditado pretende, em certa medida, apontar possíveis caminhos para mudar este cenário.