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0 25 de Abril visto de Salamanca
Joana Violante (Correspondente em Espanha - Salamanca) · quarta, 28 de abril de 2010 · Internacional Os tempos eram outros e a informação circulava mais devagar do hoje, com o advento da Internet. Por isso, a notícia da revolução só correu mundo alguns dias depois do acontecimento, com excepção para Espanha que acompanhou a Revolução dos Cravos a par e passo. |
21969 visitas Sexta-feira, dia 26 de Abril de 1974: “Los militares asumen el poder en Portugal. Lo Ejercito ocupó Lisboa y rodeó el cuartel de la Guarda Nacional. Marcelo Caetano se rindió al general Spínola a media tarde”. É assim que o El Adelanto inicia o seu jornal de 26 de Abril de 1974. Toda a capa é dedicada a Portugal. Vê-se uma foto de Spínola e outra de Américo Tomas. Lê-se a declaração dos militares em Santarém e um comentário ao livro Portugal e o futuro, do general Spínola. Aqui destaca-se a valentia do general português, que teve a ousadia de pensar uma melhor solução para a “África Portuguesa”. Na página 5 pode ler-se sobre “La nueva situación en el vecino Portugal”. O grande destaque vai para “Las fronteras españolas permanecieron abiertas – en las de Huelva hubo afluencia de portugueses a la feria de Sevilla. Por el contrario, en las de Caceres y Galiza, no hubo circulación de coches lusitanos.” Seguem-se breves contando como estiveram todas as fronteiras existentes no dia anterior à revolução. Nas enormes páginas deste jornal há ainda tempo para referir que todo o tráfego aéreo em Lisboa foi cancelado e para uma pequena bibliografia de António Spínola, intitulada “ De Heroe nacional a disidente – con su libro el Genral Spínola abrio nuevas perspectivas.” Sábado, 27 de Abril de 1974- Com a revolução ainda fresca na cabeça dos portugueses, o Adelanto avança com um título que mais parece um lead. “Constitución de una Junta de Salvación Nacional en Portugal con el plazo de tres semanas elegirá, entre sus miembros, al presidente de la república, este nombrará un Gobierno provisional civil que convocará una asamblea constituyente”. Faz-se ainda referencia que “la solución de las guerras de ultramar es de carácter político y no militar”. A primeira página do jornal é dedicada à Declaração programática das Forças Armadas, que como referem tem “ objetivos inmediatos y a corto plazo”. Depois deste grande título segue-se a própria Declaração do general Spínola, onde se decide o futuro das colónias e de Portugal, onde se promove o fim e a abolição da censura e do exame prévio, e onde se promete decidir quem será o próximo chefe de Estado. E é só neste dia que aparecem as primeiras fotos relativas à revolução. As escolhidas foram a de um tanque em frente ao Quartel do Carmo, e outra já com os populares a festejar o dia da liberdade. Há também uma referência ao que pensam os lisboetas da revolução: “Isso é um assunto entre eles, eles é que o devem solucionar”, dizem alguns cidadãos de Lisboa, enquanto “los jóvenes son los más sutiles receptores del cambio. Y lo son porque les preocupa su porvenir. Ocupan calles y plazas de forma pacífica junto a los Ministerios y cuarteles y están allí donde el incidente parece cobrar vida y aplauden a las Fuerzas Armadas. Es el nuevo Portugal que nace esta madrugada de Abril el que presencia hechos transcendentales para su pueblo, refere Adelanto. É neste tom quase literário que o jornal mais lido em Salamanca refere a Revolução dos Cravos. E são visíveis os elogios à revolução Portuguesa: “Un Golpe de Estado sin desórden y casi sin derramamiento de sangre, puede calificarse de perfecto.” Domingo, dia 28 de Abril de 1974 – Tês dias depois do acontecimento, o destaque é a situação das colónias portuguesas. “Autodeterminación para las colonias, bajo la bandera portuguesa – El general Spínola empieza a definir su política ultramarina.” Mais uma vez o texto é ilegível, mas refere-se sobretudo a declarações do General Spínola. Há também um destaque para “Comenzó la liberación de presos políticos – tiroreos y manifestaciones en las calles lisboetas”. Esta noticia é continuada na página seguinte, referindo que às 16:30, hora portuguesa, “Numerosas manifestaciones tuvieron lugar ayer en Lisboa, no todas ellas en señal de júbilo por la victoria de las Fuerzas Armadas. Algunas tuvieron carácter violento, especialmente la organizada frente a la sede del diario matutino ‘Época’, órgano de la extinguida Acción Nacional Popular.” Ainda no dia 28 é feita uma pequena história do Estado Novo, das então “províncias do Ultramar” e uma pequena biografia de António de Spínola, não esquecendo claro, o futuro de Portugal. Esta parte consiste apenas em textos de opinião. No primeiro, publicado em Barcelona e assinado por Manuel Jiménez, diz-se que “La inteligência de Spínola, su sentido de la realidad, le hizo ver claro que la guerra en tierras africanas beneficiaba especialmente a las 200 famílias que poseen el 50 por ciento de las riquezas de Portugal. La inteligencia del general Spínola, su sentido de la realidad, le llevó a la convicción de que las batallas en Mozambique, Angola y Guinea-Bissau, no se solucionarán jamás con el empleo intensivo de las armas: había que buscar una solución política. Contra el efémero postsalazarismo de Caetano se han levantado los jóvenes oficiales de un Ejército cansado de ser utilizado retóricamente para la supuesta defensa del honor de la Patria.” O elogio e o apoio dado a Portugal é bastante notório. Em todos os textos se percebe uma mão amiga que sugere a força para continuar com o rumo tomado. É preciso força para que uma Democracia se mantenha, e acima de tudo, ordem e inteligência. Para fechar esta secção, apresenta-se uma entrevista a um jovem português oriundo de Coimbra que estudava em Salamanca: “Estou muito esperançado. Esta nova situação não me surpreende. Não havia outra saída, o povo estava cansado de promessas, de um país cada vez mais fechado.” Terça-feira, 30 abril de 1974 – Começam a ser tomadas as primeiras medidas para o avanço da Democracia. “Asume todos los poderes en Portugal la junta militar – promulga su primer decreto con fuerza de ‘ley constitucional’, diz a notícia principal. É ainda destacada a liberdade de expressão, de pensamento e de reunião: “Abandonan la clandestinidad los Partidos Socialista y Comunista portugueses – Expressan su satisfación por el alzamiento militar, pero difieren en cuanto a la politica planeada para ultramar. Los democratas apoyaran a Mario Soares”. Quarta-feira, dia 1 de Maio de 1974 – Continuando com o tema do dia anterior, El Adelanto publica na sua capa “Llegó a Lisboa el secretario del Partido Comunista Portugués” . A chegada de Álvaro Cunhal é relatada com euforia, falando-se nas 5 mil pessoas que o esperavam no aeroporto da Portela com bandeiras vermelhas. “Cunhal se muestra viejo y trasnochado y repite monótonamente los mismos tópicos oídos una y mil vezes. Hay gritos, voces y puños en alto.” A Revolução dos Cravos é um marco na história Portuguesa que foi acompanhado pela imprensa de todo o mundo, com particular destaque para a espanhola. No dia 25 de Abril de 1974, o que se conseguiu foi um dos valores mais importantes da sociedade, a liberdade “palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. |