O especialista espanhol chegou à Covilhã com uma hora de atraso em relação ao previsto, devido à greve dos transportes ferroviários, o que fez com que a aula aberta se iniciasse com algum atraso.
Antoni Castel, professor da Universidade Autónoma de Barcelona e especialista em questões africanas, debruçou-se sobre o continente africano com o intuito de desenvolver o tema da reconciliação nos Grandes Lagos, nomeadamente entre o Ruanda e o Burundi.
O especialista começou por falar dos indicadores do Ruanda, país que tem nove milhões de habitantes. “Os tutsis lideravam o país, mas em 1959 devido à revolução Hutu a monarquia Tutsi caiu”. O professor descreveu também a cronologia da história recente Ruanda, visto que o país sofreu um genocídio, no qual milhares de pessoas perderam a vida, e 130 mil “foram presas à espera de condenação”.
Seguidamente falou da criação da “Nova Ordem Interna”, que pôs fim a 35 “anos de um governo racial e discriminatório”. Esta nova ordem criou o princípio base de que no Ruanda “ todos somos ruandeses”, e prevê a partilha do poder entre as duas etnias.
Posteriormente, o professor espanhol explicou o processo em curso de reconciliação destas duas etnias, mediante a criação da NURC – National Unity Reconciliation Comission.
Na conferência o tema discutido baseou-se no Ruanda como poder regional dos Grandes Lagos, centrando-se em 1994, ano em que foi criado o Tribunal Penal Internacional. Deste projecto resultou o “ desencontro entre as Nações Unidas e do governo ruandês, uma vez que com cerca de 15 nos de existência, apenas acordou 25 sentenças”, afirmou.
O segundo dia destinado ao debate em questões Ruandesas teve como base o mais recente livro de Antoni Castel, “Imaginar África”. “Trata-se de uma obra que fiz com um colega de Madrid, e está directamente relacionado com estereótipos do Ocidente em relação a África. Os estereótipos que os meios de comunicação criam em redor do africano violento, e até mesmo dos estereótipos nas próprias ciências sociais, de que África não tem história”, concluiu.
A organização destes dois dias de actividades esteve a cargo do professor José Carlos Venâncio e “vem na sequência da existência de uma rede ibérica de estudos africanos, e no âmbito do intercâmbio académico. Disposto a vir pela primeira vez à Covilhã, o professor Antoni Castel quis mostrar o seu saber sobre questões que interessam às Ciências Políticas a Relações Internacionais”.
Uma das próximas iniciativas do curso de CPRI, é uma conferência relacionada com a NATO para divulgação do grupo de reflexão interessado em Portugal. “O seminário será em Setembro, e servirá como preparação para a cimeira de Novembro que contará com a presença de Barack Obama”. O professor Venâncio concluiu dizendo que “apesar de Portugal ter relação longa com África, na verdade temos isto pouco estudado”.