A Páscoa em Ílhavo é fortemente marcada pela tradição do Folar de Vale de Ílhavo e pela Queima do Judas. Como forma de preservar o património cultural as padeiras de Vale de Ílhavo dão um sabor mais doce à terra conhecida pelo branco do sal. Vale de Ílhavo, uma aldeia junto de Ílhavo, é conhecida pelas padeiras que confeccionam pão de forma tradicional e artesanal, conhecido por padas.
A farinha espalhada pelas bancadas, as imensas caixas de ovos, os muitos pacotes de farinha e açúcar fazem adivinhar a altura onde as atenções se viram para esta aldeia. As encomendas não param de chegar, várias são as pessoas que enviam este bolo caseiro tanto para outras zonas do país como para o estrangeiro, América, Macau e Madeira são exemplos disso. Muitos são os Ilhavenses que fazem questão de ter às mesas este folar. O sabor único deste bolo é razão forte para que faça parte das ofertas da Páscoa.
“O que dignifica mais esta zona é o Folar de Vale de Ílhavo e as padas”, confessa Carlos Santos, que trabalha na padaria “Brilhanta”. Há 17 anos a fazer o folar caseiro, Carlos Santos, tomou o gosto por esta arte através da mãe, conhecida entre todos por Brilhanta. Carlos revela que em tempos passados a distribuição deste manjar era feita numa bicicleta, mas actualmente uma carrinha ajuda-o a chegar a muitos mais sítios.
A massa do folar é outro aspecto que também se modernizou com o passar dos anos. Actualmente é misturada através de máquinas, mas antigamente a massa era feita manualmente. Carlos garante que “o sabor em nada mudou com esta alteração “.
“Eu compro o Folar desde de sempre, os meus pais já compravam aqui e eu continuo a vir e compro sempre muitos. O Folar é um aspecto muito importante para Ílhavo“ destaca Amadeu Cachim, de 68 anos, que se fez acompanhar das duas netas à padaria.
Rosa Lopes, de 45 anos, já faz folares há 33 anos, pois começou quando tinha 12 anos: “Quando sai da escola primária comecei a ir para casa de uma senhora aprender a fazer Folares, e depois fiquei a fazer até hoje”. Rosa afirma ainda que “nesta altura nunca há crise, as pessoas guardam sempre dinheiro para esta época”. Já Rafael Teixeira, de 20 anos, aventurou-se nesta experiencia no ano passado e decidiu voltar a trabalhar este ano na padaria “Brilhanta”.
No passado dia 3 de Março comemorou-se a Queima do Judas em Vale de Ílhavo, ritual que se pratica ao longo dos anos. Este ano o Judas escolhido foi Fernando Vidal, que foi satirizado ao longo da noite com bastante humor e ironia.
“A razão de estarmos aqui hoje, nesta pequena mas grande localidade, prende-se com o facto de todos os anos por esta altura dar-se um acontecimento estranho e invulgar: há um enforcamento” revela Sandra Lopes, apresentadora do evento.
Ao longo da noite houve várias intervenções tanto de convidados para falar sobre Fernando Vidal como momentos musicais com o objectivo de contextualizar toda a tradição.
Antes da queima ainda houve um cortejo com o enforcado dentro do caixão, que desfilou para todo o público ver. Para fechar a noite a organização presenteou o público com fogo-de-artifício.