A figura humana é um dos mais complexos desafios da arte do desenho que acompanhou toda a história da arte figurativa, dizem os profissionais da área da Arquitectura e do Desenho.
De 23 a 25 de Março decorreu no edifício Paulo de Oliveira, no Departamento de Arquitectura da UBI, um workshop sobre Modelo Nu. No evento, sobretudo destinado aos alunos do primeiro e segundo ano do curso de Arquitectura, estiveram cerca de 110 alunos que se inscreveram para desenhar o modelo Luís Soares que posou “aparentemente desinibido”.
De acordo com Luís Miguel Pinto, director do curso de Arquitectura e responsável pela organização do espaço de trabalho, o evento surgido no âmbito da cadeira de Desenho, teve como objectivo “representar, treinar a representação e principalmente desenvolver a noção de proporção do corpo humano”. Implementar o espírito de equipa e o trabalho em conjunto é outro objectivo do workshop, apontado pelo docente, que refere que o “arquitecto tende, normalmente, a ser muito individualista”.
Uma vez que em Arquitectura “tudo gira à volta da figura humana”, Luís Miguel Pinto salienta a importância do evento dizendo que “estas aulas em forma de workshop são espaços de tempo em que os alunos têm a oportunidade de aprender e praticar o desenho, de obter uma percepção real da forma e volume do corpo humano, treinar o traço e a linha de esquisso, desenvolver a relação entre o claro e o escuro e a qualidade expressiva em termos de representação”. Sublinha ainda que “a informação que os alunos estão a receber é informação que depois irão aplicar nos esquissos do seu dia-a-dia”.
Foi na sala 10.28 daquele edifício que os participantes se dispuseram em torno do modelo, formando um círculo completo. Aos alunos foram propostos vários exercícios com o intuito de desenhar o modelo através de varias técnicas e poses, no entanto nenhum dos observadores teve exactamente a mesma vista, reflectindo cada desenho uma perspectiva e representação diferente e única. O bom desempenho do modelo foi fundamental para a prestação dos alunos que no fim do workshop são avaliados pelos trabalhos que desenvolveram.
Luís Miguel Pinto adverte que “a maior parte dos alunos entra na sala com receio porque sabem que serão confrontados com uma pessoa numa posição menos convencional”, no entanto garante que “nestes trabalhos os resultados são normalmente bons”. Justifica-se ao afirmar que o respeito pela situação e pelo modelo “faz com que os alunos se empenhem mais naquilo que estão a fazer e desenhem mais rápido”.
A duração de três dias de workshop não foi por acaso. Segundo o director de curso, há uma sequência de exercícios que dia após dia se vão tornando mais lentos e complexos. Conforme explica, “os primeiros trabalhos caracterizam-se pelas linhas e contornos, depois passam por ser mais rápidos, o desenho de esquissos, onde o que interessa é capturar o essencial da proporção e por fim os exercícios mais lentos, desenhos quase que fotográficos onde o modelo é representado à escala real”.
No último dia do workshop, Susana Pereira, aluna do segundo ano de Arquitectura, mostra contentamento com o resultado da sua participação no evento, dizendo que “estes três dias foram uma oportunidade bastante enriquecedora e que desenhar um modelo real é sempre uma mais valia”. A par das opiniões positivas, surgiram também as opiniões negativas. Alguns alunos manifestaram um certo descontentamento pelo facto do evento servir como elemento de avaliação e ser cobrado o valor de inscrição.
Questionado sobre estas queixas, Luís Miguel Pinto lembra que “o modelo tem de ser pago”, referindo ainda que quem não participar no evento não será prejudicado na avaliação final: “Os alunos que vieram ao workshop serão avaliados pelos seus trabalhos, ficando dispensados destes exercícios nas aulas, ao passo que quem não quiser ou puder vir, vai às aulas onde serão desenvolvidos exercícios análogos com uma avaliação correspondeste”. Frisa, no entanto, que “estas actividades são enriquecedoras para os alunos, quer do ponto de vista cultural quer ao nível do seu curriculum”.
Satisfeito com o resultado do evento e adesão por parte dos alunos, Luís Miguel Pinto diz que os trabalhos em escala real serão expostos num dos corredores do edifício Paulo de Oliveira. Adianta ainda que nos próximos anos esta é uma experiência a repetir.